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“O Brasil é diferente de qualquer outro lugar que já sediou uma Copa”, afirma Mark Parker, CEO mundial da Nike

Em entrevista à Rodrigo Peirão, empresário fala sobre os planos da marca no país do futebol – e das Olimpíadas

por Rodrigo Peirão, um do estúdio de criação Arara (que já fez trabalhos para a Nike), especial para RG

Quando você pensa em uma marca de tênis, logo vem à mente o famoso símbolo da Nike. O logotipo da marca é tão poderoso mundialmente que mesmo não carregando mais o nome da empresa há anos, dispensa explicações até para os mais leigos no assunto. Mas esse poder não veio à toa. A Nike construiu uma história junto aos esportes e melhor ainda, junto à carreira de vários atletas conhecidos e renomados mundialmente. Uma mistura de inovação, competência e respeito no mercado. Hoje, a marca é essencial para atletas de qualquer esporte.

RG conversou com Mark Parker, CEO mundial da Nike que esteve no Brasil recentemente e pôde sentir o clima da Copa aflorado na pele dos brasileiros. Parker conta como é estar no país do futebol bem na época do mundial e como é feito o trabalho da marca no mercado.

Confira a seguir nosso papo exclusivo com ele. Chega mais…

RG: Mark, como é chegar no Brasil bem no meio de uma Copa? Uma época de tirar o fôlego para o país?
Mark Parker: Na verdade, é sempre emocionante vir ao Brasil. A cultura de esportes aqui é uma das melhores no mundo, é um lugar incrível culturalmente e o diálogo entre arte, música e esporte deixa todos da Nike muito confortáveis, pois é isso que realmente importa para nós. E qual é o melhor momento para estar aqui senão em uma Copa do Mundo? Tudo está sincronizado no mais alto nível e tem sido um mundial muito animado. É muito interessante estar aqui e sentir a emoção dos brasileiros neste momento.Acho que aqui todos são muito movidos pelo esporte, mas testemunhar isso durante a Copa é algo em outro nível. Tudo fica mais emocionante.
RG: E você sente que essa Copa do Mundo, por ser no Brasil, tem um gostinho a mais?
Mark Parker: Definitivamente! Como eu disse, os brasileiros são muito esportistas, expressivos e criativos. O estilo do futebol brasileiro tem um certo charme, mas ver os jogos e as pessoas durante a copa do mundo e estar aqui neste país testemunhando isso é diferente de qualquer lugar no mundo. O Brasil durante a Copa é diferente de qualquer outro lugar que já sediou o evento. E eu acho que a energia dos brasileiros contagia também as pessoas que vem visitar o país. Para nós como uma empresa de esportes é muito emocionante.
RG: Faz 20 anos que a Nike ingressou no mercado de futebol. Hoje, é seguro afirmar que a marca mudou o modo de ver das pessoas em relação ao esporte. Quais são os planos da Nike depois do lançamento de produtos inovadores como a chuteira Magista, que mais uma vez chega para mudar o esporte e as metas para depois da Copa?
Mark Parker: Nós nunca estamos parados. Fizemos um trabalho intenso nesta Copa do Mundo para servir e atender as expectativas de atletas e consumidores. Há mais ou menos quatro ou cinco anos atrás, a marca começou a trabalhar nos produtos e na comunicação visual que você vê hoje no mundial. Foi um trabalho duro, mas a nossa experiência de 20 anos de mercado contribuiu bastante. Nós nunca ficamos parados. Já estamos trabalhando para o próximo mundial. Fui em algumas reuniões de inovação de produtos para futebol e pude conhecer o quê estamos trabalhando em termos de chuteiras e produtos de treino, e é incrível.  Ainda haverão muitas surpresas.
RG: Como é a participação do Brasil no desenvolvimento do mercado de futebol da Nike?
Mark Parker: Nós não existiríamos como empresa sem os atletas. Eles nos dão inspiração e o insight que nós precisamos para chegar à inovação. Por isso, sim é crucial que nós escutemos os atletas. Desde o início, o Brasil tem sido muito importante para a Nike no futebol. A empresa tem a Arara, uma grande parceira aqui no Brasil que colabora com diversos projetos da marca inclusive agenciando a Nike no projeto que lançou o tênis Free Fylknit em 2013, no país.
No meio dos anos 90, nós começamos a trabalhar com o Ronaldo e ele foi a peça-chave para o desenvolvimento da Mercurial, que eu diria ser um dos produtos mais influentes na história da marca. Foi o que realmente nos levou ao caminho da inovação e liderança no mercado do futebol. Ronaldo exigia muito em termo de equipamentos , ele queria algo extremamente leve e isso nos desafiava. Para nós foi ótimo porque nos tornamos melhores quando somos desafiados. Recentemente, o jogador Neymar esteve na Nike e ele viu o protótipo da Mercurial que fica em meu escritório. Nós conversamos sobre Ronaldo enquanto ele segurava a chuteira e ficamos muito emocionados. Ele me contou a história de suas chuteiras douradas e como isso tornou-se uma inspiração para a chuteira que ele está usando na copa do mundo. Os atletas são o foco da Nike.
RG: Mark, você é um grande admirador  de arte e fã de designers brasileiros. Você pode contar um pouco mais sobre isso?
Mark Parker: Bem, eu sempre fui fascinado pela expressão e qualidade da cultura brasileira. Tudo começou na rua, quando conheci, há alguns anos atrás, obras de artistas como OsGemeos, quando ainda não eram conhecidos como hoje. Então, começamos a colaborar com eles e outros artistas de rua. Vejo algo único na arte do Brasil. Muito mais colorida, expressiva, e reflete o que está acontecendo na sociedade e na cultura atual. Uma das partes da cultura brasileira que sempre me fascinou foi a junção de arte, música e esporte. Isso é algo a Nike gosta bastante, unir  todos esse mundos de uma forma única e criativa.
RG: Corrija-me se estivermos errados, mas você estava no time que desenvolveu o Pégasus, o tênis da Nike com mais edições lançadas. Como você vê o futuro do tênis de corrida?
Mark Parker: O Pégasus foi o mesmo  lançado em 1981 e eu não tinha ideia de que se tornaria um sucesso, até porque seu foco era totalmente em corredores, já que era um tênis que oferecia estabilidade e versatilidade. A Nike continua desenvolvendo tênis diversos para cada tipo de corrida.
RG: A Olimpíadas de 2016 serão muito importante para a Nike, afinal será a segunda edição patrocinada pela marca. Quais são os maiores desafios da empresa em relação a isso?
Mark Parker: Eu sempre gosto de substituir a palavra desafio por oportunidade. É uma grande oportunidade para nós continuarmos fazendo o que fazemos muito bem e continuar inovando. Como designer, pessoa criativa e também como CEO, eu diria que eu nunca vi uma chance melhor de criar coisas novas como essa que eu vejo hoje e o trabalho que estamos fazendo para as Olimpíadas no Rio de Janeiro, será o nosso melhor trabalho. Não estamos criando só para estar na moda, mas sim para os atletas terem uma performance melhor.
RG: O que você acha da relação, especialmente dos cariocas com os esportes? Nas ruas da cidade, sempre vemos pessoas se movimentando, jogando futebol ou praticando algum outro esporte. Como a Nike pode ajudar o desenvolvimento de esportistas amadores no Rio?
Mark Parker: Essa geração é a geração que menos se exercita na história do planeta e isso causa muitos problemas. Estamos trabalhando na manutenção, recuperação e construção de campos esportivos em algumas partes do Brasil. Buscamos agir como um catalisador, convidando e engajando outras empresas e também o governo para se unirem e criarem novas oportunidades para diminuir a inatividade física.  Não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo, a inatividade física tornou-se uma epidemia e nos estamos muito empenhados a mudar esse cenário com a nossa criatividade e o poder da marca Nike para inspirar e conectar ideias.
RG: Mark é verdade que depois da copa do mundo a Nike vai focar nas mulheres brasileiras? As mulheres ganharão mais produtos destinados à elas?  Como a Nike vê a mulher brasileira e como isso serve de inspiração para a marca? Como será a parceria com o Pedro Lourenço?
Mark Parker: Na verdade somos muito inspirados por todas as mulheres que se exercitam ao redor do mundo e essa tendência do público feminino em praticar esportes está crescendo.Nós queremos inspirá-las também. Vemos as mulheres cada vez mais ativas e é importante em muitos aspectos colaborar no fortalecimento da autoestima e confiança delas. Nosso nicho de roupas femininas ultrapassou o masculino em termos de porcentagem de vendas.  É uma oportunidade muito grande para a Nike e o Brasil faz parte disso. Acredito que haverá uma conexão muito boa com Pedro Lourenço sendo parceiro da empresa, pois isso trará novos tipos de mulheres para dentro do esporte, devido à junção de esporte + lifestyle. Assim, as mulheres que não tinham o costume de se exercitar agora terão mais oportunidades de se envolver com a ideia.
RG: Podemos esperar mais colaborações como a de Pedro Lourenço? Não só nas roupas femininas, mas também nas masculinas e até com outros estilistas brasileiros?
Mark Parker: Sim, esse tipo de colaboração tem alcance global. Eu acho que é possível sim, ver mais desse tipo de parceria. Nós não gostamos de colaborar só para dizer que colaboramos, mas sim porque estamos interessados em outras ideias, outras criatividades e como eles podem ser expressos através do esporte e no que fazemos. A Nike e o esporte formam um excelente “casamento” e Pedro deu seu toque especial, criando coisas que nós nem imaginávamos. É muito importante para a empresa trabalhar com pessoas criativas como ele, assim nos tornamos abertos para diferentes pontos de vista.
RG: Até há pouco tempo atrás, não era comum usar um tênis de quadra fora da quadra, por exemplo. Hoje, você vê pessoas usando os modelos Flyknit e Freess  em outras ocasiões. Como você vê essa intersecção de esportes para a moda para o ready-to-wear?
Mark Parker: Eu acho que o esporte está se tornando uma grande influência na moda e isso é muito interessante. Temos conversado bastante com estilistas e há um grande interesse de um dos membros da Nike em trabalhar com Alexander McQueen. Ele estava interessado em fazer sua coleção com a Nike, já que ele é um grande fã de tênis e tem cerca de  250 modelos na sua coleção pessoal. Ele usava Nike em seus desfiles e estou usando ele como um dos exemplos.  Nós temos que criar coisas e ter certeza de que elas vão ajudar os atletas a melhorar sua performance, mas como eu disse, frequentemente criamos alguma coisa que é totalmente nova e bem fashion. Eu acho que as pessoas estão ficando mais relaxadas em combinar esporte e moda, pois são mundos que se conectam. Um dos nossos ditados é “ Seja uma esponja”, e ser uma esponja é pegar tudo a sua volta. É parte do processo criativo.

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