Top

“Xscape”: novo disco evidencia ausência de MJ

Segundo projeto póstumo de Michael Jackson ganha mais maturidade, mas ainda não convence

por Eduardo do Valle

Passados cinco anos desde a morte repentina de Michael Jackson, em 2009, a missão de resgatar as faixas deixadas pelo cantor ganha mais maturidade em Xscape, lançamento revelado na íntegra nessa terça (13.05). O disco, bem produzido, resgata elementos clássicos de MJ e sugere aproximação com uma evolução natural de sua música – ao menos sob olhos da indústria. Se consegue ou não, é outra história.

Enquanto uma reunião de faixas, Xscape funciona bem: é um disco com momentos diversos da carreira de Michael, ainda que sem unidade. Talvez a grande unidade do álbum seja exatamente a produção cuidadosa da Sony, que reuniu colaboradores de primeira linha para a empreitada. Pense em Justin Timberlake, Timbaland, Stargate, Rodney Jerkins, John Branca e John McClain – os dois últimos, envolvidos com o patrimônio de MJ.

Faixa a faixa
Paralelos entre as músicas se traçam: a dançante “Love Never Felt So Good”, por exemplo, abre o disco apostando no piano e em falsetes. Acaba passando uma sensação retrô, vista também na calma “Loving You”, um groove de refrão fácil, na terceira faixa do álbum.

Fãs de uma sonoridade mais pesada em Michael encontrarão o que procuram em “Chicago”, segunda faixa do disco. Resgatada de uma gravação de 1987, é dona da batida mais potente do material – mesmo por isso, chega a cansar na metade da música. Em “Slave To The Rhythm”, a quinta faixa, chama atenção a introdução dramática. Pouco depois, entretanto, se entrega o ouro, com o batidão-assinatura de Timbaland que a domina o restante do tempo.

Mais mornas, ainda que bem produzidas, seguem “A place with no name” e “Do you know where your children are?”. Quarta e sexta faixa do disco, respectivamente, não se destacam frente ao conjunto. Enquanto “A place…” cansa logo no início, “Do You know…” ganha um tratamento mais poluído, que acaba se perdendo.

Com a sétima música, “Blue Gangsta”, fica o pior momento de Xscape. Mudando completamente o ambiente do álbum, ela aposta em um R&B mais sombrio que o restante das faixas. Ainda assim, fica logo repetitiva com o verso “What you gonna do?”, onipresente até o final. Next!

O momento alto de Xscape, no entanto, fica por conta da faixa-título, que se segue a “Blue Gagsta” e encerra o álbum. De longe, a música mais próxima ao que Michael fazia em vida, apostando na velocidade e nos vocais do cantor. O uso constante de samples não prejudica a música, um pop de levada boa que faz jus à discografia de MJ.

Altos e baixos
Álbum de altos e baixos, Xscape pode agradar a fãs de Michael Jackson pelo bom tratamento que ganha. Mas ainda passa a impressão de ausência: é sensível a falta da mão do artista no projeto. Compreende-se, é claro, essa como a principal dificuldade de fazer um álbum póstumo. E, apesar da coragem do projeto, o disco cai na mesma armadilha de Michael (2010), primeiro álbum póstumo do cantor, e não esconde a sensação constante (e desagradável) de se ouvir um “sobre” Michael e não um “por” Michael.

Mais de