por Eleonora Rosset
Deixar-se levar pela imaginação é algo que não amedronta Ari Folman, 50 anos, o diretor israelense de “O Congresso Futurista”, que também é roteirista e produtor do filme e que já nos deu “Valsa com Bashir”, em 2008, misto de documentário e animação sofisticada sobre os terríveis massacres de Sabra e Chatila, nos anos 80, no Libano.
Quem decidir ver o filme, deve tentar relaxar, deixar-se levar e mergulhar, principalmente na segunda parte da história, quando tudo é animação. Sem se perguntar muita coisa, seguindo o fluxo das imagens e sem cobrar lógica ao enredo. Isso porque estamos no registro dos sonhos, das alucinações, das fantasias e de nossos desejos loucos.
Robin Wright é ela mesma. Uma atriz de 44 anos que fez sucesso e depois, por causa de más escolhas, cai para um segundo time. Ela tem dois filhos, Sarah (Sami Gayle) e Aaron (Kodi Smit- McPhee). O menino tem uma doença rara que exige um tratamento caro.
O agente de Robin (Harvey Keitel, numa ponta bem aproveitada) a leva a pensar sobre a dura realidade que ela vai ter que enfrentar. Precisando de dinheiro e fora do circuito de sucesso, ela vai ter que obedecer ao estúdio, que a chama para uma conversa sobre sua carreira.
Então, pressionada, Robin resolve aceitar a proposta do estúdio, que quer escanear sua imagem, reações e sentimentos, para usá-la em todo tipo de filmes, por um bom dinheiro. Faz parte do contrato, que dura 20 anos, que ela prometa não atuar mais, nem no cinema, televisão ou teatro.
E o produtor Jeff (Danny Huston) faz ela perceber que esse é o futuro do cinema. Daqui por diante, diz ele, quase todos os atores serão estocados como imagens, propriedade dos estúdios.
Ari Foldman não apenas faz um filme original, mas também, através dele, critica os caminhos que conduzem os megaestúdios a querer que seus atores e atrizes ganhem dinheiro para eles, através de sucessos de bilheteria, que sempre são mais do mesmo, para um público preguiçoso e viciado.
Infelizmente, o talento vai ficando fora de moda no cinema.
Voltando ao enredo: passados 20 anos, Robin é convidada para “O Congresso Futurista”, evento do estúdio que quer homenageá-la, por causa do sucesso dos filmes do seu avatar.
E as cores enchem a tela. Ela própria se vê como animação no espelho do carro prata conversível, modelo antigo, 2013. As duas laterais da estrada são mares coloridos com peixes gigantescos.
Zepelins passam o trailer do último filme de Robin, ela muito jovem e interpretando uma heroína agressiva, tudo com muito sangue, aviões, guerra.
E claro que ninguém vai reconhecê-la. Ela agora é uma senhora de cabelos brancos num coque elegante.
Há ampolas de uma droga que é distribuída aos convidados e que faz a pessoa ser quem deseja ser. Portanto ninguém ali é real, só ela.
Vendo o filme com um outro olhar poderíamos pensar que tudo não passa de um sonho ou uma alucinação de Robin.
Afinal, Aaron, o filho que a levou a assinar o famigerado contrato, pode ter morrido depois dos 20 anos que se passaram. A mãe, melancólica, embarcaria então numa viagem louca, à procura daquele que não existe mais. Encarar a dura realidade a aterroriza. Enlouquece para fugir da dor.
Seja como for, quem gosta de originalidade, criatividade e belas imagens psicodélicas, não pode perder esse filme único, belo e muito, muito louco.
Mais cinema no blog de Eleonora, aqui.