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A coleção esquisita – RG do mês

Acervo incomum do brasileiro Sylvio Perlstein chega ao Brasil consagrado pela crítica internacional

Por Jeff Ares

Não há coleção singular sem um colecionador sui generis. Caso de Sylvio Perlstein. Brasileiro de origem belga, viveu no Rio até os 20 anos, quando foi tomar pé dos negócios da família. “Meu pai tinha uma lapidadora de diamantes, assim como o meu avô. Eu exerço o mesmo ofício, sou ‘diamantier-bijoutier’”, ele conta, no livro
The Perlstein Collection: From Dada to Comtemporary Art, entre outras aspas que reproduziremos neste texto – nosso personagem não estava bem disposto para entrevistas, o que esperamos fazer quando ele estiver no país para mostrar suas excelentes compras.

Desde cedo, Perlstein acompanhou pessoalmente jovens artistas plásticos que meio século depois se tornaram ícones de uma geração: Rauschenberg, Sol LeWitt, Jasper Johns… “Todo o mundo na época era desconhecido ou quase isso. Não havia, certamente, toda essa loucura em torno dos artistas. Eram pessoas apaixonantes, abertas e receptivas. Além disso, não havia todo esse dinheiro e todas essas galerias. Era um pequeno mundo solidário e muito alegre”, revive.

Sem amarras com tendências ou escolas, Perlstein adquiria o que lhe tocava, em geral na contramão. “Eu não sei o que é arte. Eu não sei o que é ‘bom’ ou não. Eu passeio. Eu flano. Eu não quero nada em particular. Eu não sei exatamente o que eu fiz. Eu não sei exatamente como tudo começou. Há coisas que me intrigam e me perturbam. Para que algo se ative, é preciso que seja enigmático. E difícil, também. Senão não é interessante. Não é excitante”, afirma, do alto de seu acervo, fabulosamente excêntrico, hoje requisitado pelos maiores museus do mundo – já compôs diversas exposições pela Europa e várias de suas obras se tornaram capas de catálogos, como o da Retrospectiva Lichtenstein, no Centre Pompidou, com Crying Girl. No livro La Photographie n’est pas L’Art, publicado pelo Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Strasbourg, na França, e pelo Museu d’Ixelles, na Bélgica, um texto de apresentação assinado pelas duas instituições é definitivo: “A possibilidade de oferecer ao olhar do público uma coleção tão prestigiosa e densa constitui uma oportunidade excepcional. Sylvio Perlstein, durante suas quatro décadas de viagens, encontros e amizades entretecidas com os artistas reuniu obras que testemunham uma intimidade profunda com o espírito do dadaísmo e do surrealismo, assim como uma paixão pela arte minimalista e conceitual, a nova figuração, a arte povera e ainda por formas mais atuais de representar a arte, sem buscar nenhuma separação entre diferentes meios ou formas de expressão artística escolhidas”. A dimensão do acervo é admirável. Para A Inusitada Coleção de Sylvio Perlstein, mostra que será apresentada no MAM-RJ e no Masp, o idealizador Leonel Kaz e os curadores Luiz Camilo Osório e José Teixeira Coelho Neto (dos respectivos museus) fizeram um recorte de 150 obras, muitas delas inéditas no país, de artistas consagrados como Dalí, Duchamp, Miró, Ernst, Magritte, Man Ray, Kandinsky, Cartier-Bresson, Christo, Fontana, Lichtenstein, Albers, Nauman, Basquiat, Keith Haring, Tunga, Vik Muniz, Mapplethorpe, Warhol…

“Comecei a comprar algumas obras. Abstratos e algumas outras coisas, artistas belgas… Àquela altura, já não havia uma linha de conduta. Eu nunca pensei que estava começando uma coleção; muito menos que pudesse terminá-la um dia.” Mas terminou? “Creio que não preciso de mais nada. Eu amo profundamente todas as obras com as quais eu convivo. É muito simples: se eu viajo ou se estou longe de casa, sinto saudades delas!”

A Inusitada Coleção De Sylvio Perlstein de 25 de março a 25 de maio no MAM-RJ, e de 5 de junho até 10 de agosto no MASP.  da esquerda para a direita, Les mains d’Yvonne, de MAN RAY; Distorsion, de ANDRE KERTESZ; Femme-tiroir, de SALVADOR DALI e L’Ambitieuse, de LEO DOHMEN

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