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A Viking de Hollywood @RG do mês

Juliana Overmeer revela suas muitas facetas a RG: de cenógrafa de Hollywood a mãe do Sebastian. Leia a matéria da edição de março

Por Rosana Rodini – FOTOS/andré brandão

Eu sabia quem era Juliana Overmeer. Mas saber e conhecer são palavras distintas. Sabia que ela era irmã da Carolina, tia da Mia e muito amiga do arquiteto Paulus Magnus. Sabia que morava nos Estados Unidos, que era casada com um produtor de cinema de lá. E que trabalhava com cenografia. Sabia que tinha um filho, o Sebastian, lindo e loiro feito ela. O que eu sabia já era suficiente para que ela estampasse esta seção, reservada a mulheres interessantes, de fino trato. Mas a que eu vim a conhecer me surpreendeu, pra melhor. Depois de alguma insistência, é verdade. “Foto me trava”, me disse, lá atrás, enquanto eu persistia na matéria. Sorry, mas estas páginas te desdizem, Juliana.
“Minha mãe é fazendeira, ela era antimoda. Enquanto todo mundo usava pink nos anos 80, eu estava sempre de xadrês e gola rolê. Tenho uma bolsa chique, da Lanvin. Mas é uma. E olha, eu sou consumista! Me joga numa papelaria pra você ver o que acontece. Piro na papelaria!”, ri.

Preferências que talvez sejam reflexos de outros tempos. Filha de pai holandês e mãe brasileira, estudou no colégio “cabeça” Waldorf Rudolf Steine. “Não tinha prova, você era julgado pelo seu esforço e inteligência.” Anos mais soltos que ajudaram a moldar a sua personalidade. “E a desenvolver meu lado artístico. Sempre soube que queria estudar arquitetura para depois fazer cenografia.” Começou trabalhando com Guilherme Ribeiro de Almeida. Depois com Felipe Crescenti, um bamba. “Saí de lá para abrir a minha empresa de cenário e arquitetura com a Mariana Kramer.” Deu certo. Fizeram projetos como o do restaurante Maní, por exemplo. “Eu gostava. Mas uma hora cansei.”

Tinha seus 30 anos, a tal época do vai ou racha. “Acabei um relacionamento de três anos, acabei a sociedade. E fui estudar cinema em Nova York, estava inspirada pelo cinema do Glauber Rocha.” Em NY, morava com o amigo e fotógrafo Vavá Ribeiro. “O apartamento tinha um colchão no chão e uma prancha de surfe na parede.” O primeiro passo foi um curso na NY Film Academy, “pra ver se curtia aquele universo”. Curtiu. Conheceu Donald Rosenfeld, produtor de cinema, por anos presidente da Merchant Ivory Productions Ltd Inc (famosíssima produtora dos anos 90), hoje CEO da High Line Pictures. O cara é grande, com três filmes que levaram o Oscar e produções à la Vestígios do Dia, aquele com Anthony Hopkins e Emma Thompson. Começaram a namorar. “Foi ele quem me convenceu a tentar a NYU”, conta, sobre a respeitadíssima universidade americana. Quando soube que havia entrado, estava na Croácia fazendo assistência de direção de arte para um filme do namorado. “Foram três anos intensos, mas saí pronta para a vida real.” Saiu e foi trabalhar. O primeiro filme? “Effie Gray, que sai este ano, com a Dakota Fanning e a Emma Thompson.” Parênteses: a Emma é amiga pessoal do casal, já viajou com eles para Galápagos e Trancoso. “O filme se passa em 1850, Londres, é sobre o infeliz casamento do John Ruskin, o primeiro crítico de arte a introduzir modernismo à uma época vitoriana. Foi gravado em Londres, Escócia e Veneza.” A última locação, aliás, tem peso especial: “Engravidei do Sebastian em Veneza”.

“Recebi convites durante a gravidez, como um chamado de Bruno Barreto para trabalhar em Flores Raras.” Declinou. Porque a prioridade era outra. “A maternidade não é assustadora. Tudo é instintivo, você entende que ser mãe é um processo natural. Quero mais um.” Casou, mas só no civil. “Ainda vamos fazer uma festa.” Festa pra celebrar o amor. E a vida,

Enquanto isso, segue trabalhando. Multiuso, faz cenografia, direção de arte, design gráfico… “Eu tive criação europeia. Meu pai educou a gente (ela e os três irmãos) pra trabalhar. Me realizo profissionalmente. É visceral. Fiz um filme agora com a Emilia Ferrara, diretora brasileira. Filme menor e independente, o The Erotic Fire of the Unattainable. Deve ser lançado em Cannes, em junho.” Há um outro projeto começando, um longa que se passa no Vietnã, mas será filmado nas florestas do Havaí. Seu marido é o chefe. Difícil? “Ele abriu portas, sem dúvida. Eu não tive de começar do zero. Mas batalhei para me manter. Senão eu poderia estar no set servindo cafezinho.”

E quando não está no set? “Prazer mesmo é estar no playground com meu filho.” Ginástica? “Só fisioterapia. E ando muito pela cidade, uns 30 blocos por dia. Também nado toda a semana.” E a rotina em NY? “No Brasil eu era festeira. Em NY, casada, o foco é arte. Saímos muito pra jantar bem, beber um vinho, fazer o circuito cinema, teatro, ópera, balé. Mas construí também uma rede de amigas brasileiras”, diz. Aí ela se levanta para pegar o celular. Tem quase 1.80 metro de altura e penso que poderia facilmente ter arriscado a sorte como modelo. “Fiz um casting ou outro lá atrás, mas eu era muito tímida, não gostava que as pessoas me olhassem. Era torturante fazer um casting.” Timidez dominada? “Eu racionalizo a minha timidez. Anos de terapia, né? E amadurecimento.” Hoje diz que se entende. “Aprendi com o Paulus (o Magnus, melhor amigo) a ser mais seletiva. Ele abre a porta pra quase todos, mas deixa entrar mesmo poucos. Se você não me conhece, dificilmente saberá quem eu sou”, finaliza. Com a palavra, portanto, quem bem a conhece…

VIKING CONTEMPORÂNEA

POR PAULUS MAGNUS

A Ju é a minha “menininha amarelinha pululante”. Ela me faz rir, rir e rir mais ainda. Porque tem uma criança intacta dentro dela, uma autenticidade que as pessoas vão perdendo nas esquinas da vida. Sem maldade. Parece um ser vindo de uma floresta encantada de algum recôndito da península escandinava. Viking contemporânea, deixa a vida de quem a cerca mais interessante, com impressões absolutamente originais sobre o tudo. Nossas histórias juntos dariam livro. Posso lembrar de algumas, quando me ligou dizendo que a astróloga dela tinha sugerido que ela passasse seu aniversário em Cape Town, na África do Sul. Achei o motivo suficiente para irmos juntos. Eu, dormindo no avião, pulo da cadeira com um berro. Ela tinha assustado com um filme de terror. Fiquei bravo, já que ela havia acordado todo o avião. Mas aí olhei pra ela. E ela me ganhou. Ri. E rimos juntos outra vez. Nos sáfaris, ela me parecia mais selvagem do que a maioria dos bichos.

É que é bicho raro a Juliana, sem jogos, sem segundas intenções. Qualidades importantes, claro, mas que não se aproximam da sua maior virtude: ela sabe amar, jogando luz e alegria, imprimindo afeto. E neste mundo você tem de colorir a vida de amor e afeto. Em tempos de amizades e amores tão condicionantes, a incondicionalidade de nossa relação é um oásis.

um ano na vida do facehunter

Yvan Rodic é suíço. Tem um codinome: Face Hunter.

Começou sua dominação fashionista com um blog de street style, quando o street style era apenas uma junção bonita de palavras gringas. Um dos pioneiros, fez fama, virou persona grata em todos os circos da moda. Primeiro nas semanas mais importantes; depois nas periféricas. Hoje até a semana de moda do Suriname quer mandar passagem e hospedagem – nada contra o Suriname, que é força de expressão.

O que difere Yvan das blogueiras de fotos no espelho é que seu interesse por moda é idiossincrático, comportamental… ele se interessa por estilo em contexto. Está pouco a fim de saber quem você é, se tem sobrenome, se sua bolsa vale um carro. Se cocote está mal ajambrada, ainda que com as grifes mais delirantes, ele olha através.

Por força da indústria da moda, Yvan já rodou metade do planeta. Animado, afeito a uma festinha e bonitão, estilo loiro com borogodó, gênero galanteador, ele flana pelos eventos e festas e cocktails e desfiles com a maior desenvoltura, animal social de estirpe. Daí que, estalo!, ao lado das fotos de moda, ele começou a fazer diários de viagem, com sua ótima luz. Uns detalhes, paisagens, cenas… e gente, claro. Amigos do mundo todo e ilustres desconhecidos.

Neste novo livro, Yvan registra 1 ano de sua vida: uma maratona visual por 30 países, 432.044 km, 2 ou 3 países por semana. De Seoul a São Paulo, de Kiev a Batumi (dá um Google pra saber onde fica). Imagens que transcendem a ideia de street style: não é essa coisa de gente da moda inspirando gente da moda. São cidades incendiadas de estilo, onde o “real life inspires real people”.

Forget the catwalk. (por jeff ares)

A Year in the Life of Face Hunter, da Thames &
Hudson.Lançamento mundial: 25 de março
Preço sugerido: £14.95 www.yvanrodic.com

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