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Fala, playboy!

À frente de “Alemão”, que estreou essa sexta (14) nos cinemas, Cauã Reymond é o traficante Playboy. Falamos com ele sobre sua preparação para o filme, a realidade do tráfico e sobre sua própria realidade, também. Fala, playboy!

por Mariana Abreu Sodré
“Você tentou um monte de vezes”, falou, me consolando. De fato, tentei. Honrando a curiosidade de todo um país, zelando pela fluência dos papos de salão, quis saber se o Cauã Reymond está solto. Fui indiscreta, chata até. “Estou casado com o trabalho e com minha filha.” O resto são especulações diárias lidas na internet. Internet que o próprio usa com moderação. Facebook ele não tem. “Só uma fanpage, vê lá.” Não vi porque também não tenho Face (o fato de ter algo em comum com Cauã me deixou feliz). Me chamou de Mariana, depois de Mari… depois de cara e de rapaz. Nem liguei.
Ele que me ligou. E falou muito do longa Alemão (em cartaz nos cinemas), o real tema do nosso papo. É sobre a cinematográfica ocupação do Complexo do Alemão (2010), com Antônio Fagundes, Caio Blat, Milhem Cortaz, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr, Otávio Müller… A direção é de José Eduardo Belmonte. Gabriel Martins assina o roteiro que se desenrola em fictícias 48 horas pré-hasteamento da bandeira nacional no topo do complexo, o anúncio das UPPs. Projeto de Rodrigo Teixeira, da produtora RTFeatures, que compartilha a produção com Cauã, o protagonista, o Playboy. Com a palavra, o chefe do tráfico.
RG: Onde você estava no dia da ocupação do Alemão?
Cauã Reymond: Rapaz, eu estava no estúdio de um programa jornalístico da Globo. A primeira vez em que estive lá, tinha caído um avião da Air France. Na ocupação, outra comoção. O Rodrigo Pimentel (ex-capitão do Bope e comentarista de segurança da emissora) estava no estúdio.
RG: Curioso fazer ficção em cima do que, na hora, parecia ficção…
CR: No laboratório que fiz para o filme, ouvi pessoas que estavam lá durante a ação. São visões e versões bem diferentes. É difícil definir aqueles momentos.
RG: O material documental tem off do ex-presidente Lula. Em uma das passagens, dá para ler “Cabral 15” em um muro. Vocês queriam passar uma mensagem política?
CR: Não tem como falar da ocupação do Complexo do Alemão e desvincular da política. Nosso objetivo foi o de retratar da melhor forma possível o acontecimento e desenvolver em cima disso o entretenimento, uma obra ficcional.
RG: Como se difere de sucessos como Cidade de Deus Tropa de Elite?
CR: Tropa de Elite, Cidade de Deus, Carandiru… são dos melhores filmes produzidos no Brasil. Tratam de assuntos irmãos, como o Alemão, de maneiras diferentes, pela ideia de grandes diretores. O Belmonte tem tendência a aprofundar o psicológico dos personagens, faz o “psicologismo”.
RG: Você fuma quase de tudo em cena, né?! Cigarro, maconha, charuto…
CR: Cara, quis fazer um tipo angustiado, que traga tudo. Sei que não se traga charuto, não sou burro, mas traguei para ter a sensação da pressão caindo porque acho que foi isso que o Playboy sentiu: ameaça, e ele tendo de se equilibrar ali.
RG: A casa do seu personagem, o Playboy, é bem parecida com a casa do traficante Pezão, que era o chefe do tráfico no momento da ação…
CR: O Pezão, que está foragido, foi um dos caras em que eu me inspirei. Me inspirei também no Nem, da Rocinha, que tem uma história curiosa. Dizem que ele entrou para o tráfico para pagar o tratamento de saúde da filha. Não pôde contar com o serviço social, era da contabilidade de uma empresa e virou contador do tráfico. Mais de uma pessoa confirmou essa história, mas não posso afirmar que é verdade, a gente nunca sabe o que é verdade…
RG: É, você passou por um momento pessoal delicado, inventou-se muita verdade…
CR: Não, nem quero falar desse momento. Eu falo aqui de uma questão que é real, a vontade de ganhar a todo momento, sem limite. Limite. Eu me emociono quando vejo uma atitude ética, quando uma pessoa abre mão de algo para valorizar a ética. Acho a lealdade bonita. O cuidado com outro é bonito. A união e a solidariedade me emocionam também.
RG: Depois de Alemão, vem o filme Tim Maia, em que você atua com a Alinne Moraes, sua ex. Você tem bons relacionamentos com as suas ex?
CR: (Risos) A gente fala de Tim Maia depois da estreia, em agosto, tá?!
RG: Tá combinado. Mas preciso tentar…
CR: Eu sei. Você tentou um monte de vezes (risos). Vai, tenta…
RG: Você está solteiro?
CR: Casado com o trabalho e com minha filha. Com esses casamentos está tudo certo.
RG: No filme, o amor romântico tem um peso forte. Na vida real ele é decisivo?
CR: Pô, o amor é sempre decisivo em tudo na vida. Eu prefiro acreditar que o amor é mais forte que tudo, em tudo.

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