por Rosana Rodini e Jeff Ares
fotos Cassia Tabatini
Ma che bello”!, dispara Roberto Cavalli.
De óculos escuros, costume preto, cabelos alvíssimos e barba por fazer, o mítico designer acabara de chegar da Itália. Pôs-se ao banho e surgiu, a postos, galante, para discorrer sobre sua parceria com a C&A – ele criou para a marca uma coleção fast fashion. Para nossa conversa, RG convidou o estilista Dudu Bertholini, repórter por um dia. Fazia sentido. Um grande encontro, entre gerações que se conectam: o designer italiano, famosíssimo por suas estampas e roupas excêntricas, e nosso mais exuberante estilista neotropicalista, um criador à sua altura. Porque, assim como Cavalli, o homem à frente da Neon faz roupas para além da indumentária. É magia, fantasia.
A seguir, o sensacional encontro.
Dudu Bertholini: Ciao. É uma honra estar aqui. É bom voltar ao Brasil?
Roberto Cavalli: É a minha segunda vez. Desta vez, a passagem é rápida. Talvez eu devesse voltar para o Carnaval.
DB: O que te excita na cultura brasileira?
RC: Quanto eu penso no Brasil, não penso em sua cultura, mas na felicidade, no prazer em viver do seu povo. O Brasil é sexy! O homem, a mulher… sexy! Se eu pudesse escolher, gostaria de ter nascido no Brasil.
DB: Existe uma relação entre a mulher brasileira e a italiana?
RC: A similaridade não está entre a mulher italiana e a brasileira, mas entre o Brasil e a Itália. Somos latinos, oras.
DB: A Itália é muito importante no seu trabalho. Você mora em Florença. Ainda passa a maior parte do seu tempo na Itália?
RC: Sim, mas também viajo muito. Porque gosto de fotografia. Em minha coleção, tudo parte das coisas que fotografo, as flores, animais… Deus criou tanto prazer para os nossos olhos. Pego a minha câmera, faço mais de mil fotos. Volto para a Itália e passo horas admirando tudo aquilo.
DB: Seu universo é rodeado por elementos fortes: a cobra, o leopardo, as plumas… isso sempre te inspirou?
RC: Pode parecer estúpido, mas eu acredito que Deus foi um designer fantástico. Uma cobra, por exemplo, é fascinante. A mistura de cores, o verde, o vermelho, o amarelo… Acho que Deus preferia alguns animais. Veja o leopardo ou a zebra: eles são sempre iguais. Outro dia eu estava pescando (também acho um hobby estúpido, mas adoro), e de repente, quando eu subo a vara, vejo um peixe com uma estampa de leopardo! Nunca tinha visto aquilo. (E pede para sua namorada mostrar a foto, em seu celular).
DB: Adoraria ver isso. My God! It’s beautiful! A leopard fish! Muito inspirador, amazing!
A assessoria interrompe: última pergunta, Dudu. Ou duas…
RC: Duas questões? Está brincando? Tsctsc, não… Eu é que quero te entrevistar!… Você é designer não é?
DB: Sim, eu sou.
RC: Que tipo de designer?
DB: Bem, estou usando uma roupa que eu fiz (o cáftan estampado, multicolorido, do retrato aqui ao lado, com estampa do artista plástico Fabio Kawallys, cuja alcunha é uma homenagem à… Cavalli)
RC: Para homens?
DB: Acho que o interessante é que pode ser para qualquer pessoa, inclusive para homens.
RC: Happy men…
DB: Hahahahaha.
RC: É muito interessante, pode servir de ideia para a minha próxima coleção das cores. Vamos fazer uma foto. Façam uma foto por favor! Vou colocar no meu Instagram. Posso?
DB: Claro, estou muito honrado, muito obrigado.
RC: Você tem Instagram? Quero colocar uma foto nossa no Instagram. Quantos seguidores você tem?
DB: 21 mil.
RC: Não está tão mal, eu só cheguei aos 50 mil outro dia… mas, vamos lá, me faça você a sua última pergunta.
DB: Vou te perguntar algo que todos nos perguntamos… o que você prevê para o futuro da moda?
RC: Oh… Sinceramente? Nada muito bom. A moda passou a ser sobre indústria e publicidade. Muitas marcas investem milhões em campanhas. Sem isso, não seriam nada. E o minimalismo? Tem coisa mais chata? Mas vende muito. Nos Estados Unidos principalmente. Se é bom ou ruim? Posso dizer apenas que não é meu tipo de moda. E, pelo que vi, nem a sua.