Com amor

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por Mariana Abreu Sodré

fotos Ana Kras

Querido Devendra, faz pouco tempo que desliguei o telefone com você e acho que estava mesmo falando com você, e não com um roadie fingindo ser Devendra Banhart do outro lado da linha. Antes de o telefone tocar e eu ouvir seu bom português (“Oi Mariana, tudo bem?”) eu fiquei imaginando que nossa conversa de exatos dez minutos poderia ser um blefe. Ao contrário de você (?), eu passava trotes na infância e sempre tenho a sensação de que posso estar caindo em um. Mas daí, logo que a ligação acabou, fiz exatamente o que me sugeriu: quando, ali pelos nove minutos, te perguntei como poderia ter certeza de que estava falando com você, você disse: “A autenticidade de nossa conversa se dará se você fizer um teste de gravidez após nosso papo. Em caso positivo… bingo!”.

Arto Veloso chegará em nove meses. Tenho certeza que será um moleque. É o instinto materno, você sabe. Escolhi esse nome para prestar uma homenagem a dois de seus heróis brasileiros, Arto Lindsay (que é nascido no Estados Unidos, mas tropicalizado) e Caetano Veloso. Mas se você preferir Caetano Lindsay, por causa da sonoridade do nome, vou entender super.

Essa coisa de “nome homenagem” é tão típica no Brasil quanto esquecer de dar a descarga. Claro, eu saquei que você fez uma piada quando disse que conheceu seus amigos brasileiros durante uma faxina em sua casa e que gostava de brasileiros especialmente por causa da nossa habilidade em ignorar a descarga e em pedir dinheiro – e até escova de dentes – emprestado. Queria ter dado mais risada quando você fez a piada.

Gosto da sua fina ironia e adoraria que o pequeno Arto a herdasse. Mas tínhamos apenas 600 segundos e cada grunhido valia tempo. Só agora pude imaginar o Rodrigo Amarante (seu amigo e parceiro) escovando os dentes com a sua escova e o Fabrizio Moretti no banheiro. Prefiro pensar no Fabrizio negligenciando a descarga. As razões são óbvias.  É que o Amarante tá muito barbado e daí fico visualizando a barba dele com babas de pasta de dente. Não é uma visão legal, você tem de concordar. Por falar neles, confesso que fiquei meio desapontada quando soube que os dois não estarão com você nos shows do festival Popload Gig, no Brasil, neste mês. Seria legal ver vocês se divertindo – do jeito que eu os vi nos vídeos do seu site – só que nos palcos do amado Cine Joia (São Paulo), ou no Órbita (Fortaleza), ou no Opinião (Porto Alegre) ou no Circo Voador (Rio). Caetano fez shows memoráveis no Circo este ano, aliás.  Você certamente teria se divertido…

Sim, Caetano, de novo. Sei lá, eu relaciono vocês. Tanto que, em um primeiro momento, eu desconfiei quando você disse “admiro muito o Caetano, mas não sei se posso dizer que sou amigo dele”. Mas depois deduzi que era verdade. Se ele fosse brother mesmo provavelmente tentaria persuadir você a escolher outro nome para o seu (lindo) e mais recente disco. O nome Mala não pega bem em português. E não combina em nada com o disco (que é incrível). Eu sei, você disse, que em sérvio, mala significa algo como carinhoso, que você gosta da sonoridade da palavra em diferentes línguas, mas, ainda assim…

Digo mais: eu só me convenci do papo de que “às vezes a chatice pode ser estranhamente estimulante”, quando você disse que é “a pessoa mais chata que eu conheço e estou em paz com isso”. Sei que você não percebeu que se autoafirmou um puta mala, minutos depois de ter feito uma ode à chatice, claro. Estava tudo meio confuso: você ali no viva voz (para eu conseguir gravar a ligação), eu com meu inglês especialmente nervoso, a turma da gravadora Nonesuch na linha… os dez minutos. Nem deu tempo de falar do clima eletro do novo disco, essas coisas. Ok, eu não sou, nem quero ser, crítica de música. Achei melhor focar no que não sabia. Se tivéssemos mais tempo, ia mesmo querer saber de Ana Kras (vocês estão mesmo noivos?). Ela é linda, talentosa… poderia ser madrinha do Arto – faria fotos lindas. Mas vou parar de culpar o tempo. Mesmo se tivesse milhões de segundos, o resultado seria assim, sem pé nem cabeça. E, como você disse logo no começo da conversa, “dez minutos são suficientes para fazer muitas coisas boas, ao contrário de cinco minutos”.

Você sabe das coisas. Nos vemos no Cine Joia. Vou levar o Arto pra você conhecer, ainda na minha barriga. Talvez você possa cantar para ele a música que disse estar fazendo sobre os brasileiros…

***

Devendra Banhart

RIO DE JANEIRO (Queremos!)

Dia: 14 de novembro de 2013

Horário show: 23h

Local: Circo Voador

R. dos Arcos – Centro

Tel.: (21) 2533-5873

Ingressos: Ingresso.com

R$ 180

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