– Sabrina, eu vou assistir ao filme, então, e aí marcamos um café para a entrevista, ok?
– Quero ir também! Mas tô com vergonha kkkkkk de ver com vc kkkkk.
Uma segunda-feira qualquer, 20h30. Não tem pipoca, mas tem Sabrina estourando, olhos de brilho excitado, de criança. Ela assistiria pela primeira vez, na telona, O Concurso, de Pedro Vasconcelos. Seu papel de estreia no cinema é Martinha Pinel, uma circense de Piraporinha, atiradora de facas, apaixonada pelo personagem de Rodrigo Pandolfo, o jovem ator da hora, sério, de teatro, à mercê do pastiche. O filme é uma versão brasileira de Se Beber Não Case: quatro homens, um concurso público para juiz federal, agruras para roubar um gabarito, uma noite tresloucada sem-fim… E clichês do riso fácil: o anão, as drag queens machonas, a cansada piada do gaúcho… “Um filme de público, o maior lançamento nacional das férias”, nos conta o produtor, LG Tubaldini Jr., antes de a sessão começar. “A gente acabou de subir de 300 para 400 cópias”, gabou-se. Com razão; na temporada de blockbusters gringos do meio do ano, é de se louvar. “Uma metralhadora giratória de risadas”, promete ele. Com Sabrina sentada ao meu lado, eu apostava que seria.
E confesso que ri. Eu riria muito mais num Woody Allen, mas tem dias em que você pode não levar a vida tão a sério, e aí… relaxei. Sabe quando a piada é infame, mas você acha tão besta que ri? Foi por aí. Fabio Porchat é o cara, e o Pandolfo também mata a pau.
Sabrina? Cumpre com maestria a função de gostosa do filme, com um bordão daqueles: “Me come ou te mato!”. Mas vai além. Ora provoca medo, outrora tem uma doçura, uma inocência, contraponto ao seu physique du rôle. É o segredo do seu carisma, afinal. Mas tem algo a mais… é a tal da star quality, que faz dela o fenômeno que é, uma das poucas forças do showbiz fora da TV Globo. É tudo isso, e tem suas inseguranças. O filme começa, ela se encolhe no sofá. O riso some. Volta aos poucos, ainda tímido, mas relaxado. Sobem os créditos, e vamos conversar.
RG: Quando eu te entrevistei pela primeira vez, você disse que queria fazer cinema porque queria se ver grande na tela… Deu vergonha?
Sabrina Sato: Nãaao… (risos). É engraçado… Mas eu gostei! Apesar de ser muito crítica comigo mesma, eu achei muito divertido, eu gostei do filme. Gostei do processo, de fazer. Apesar de ter sido uma preparação muito rápida, foi intensa… Fiz até aula de atirar facas!
RG: Algum acidente?
SS: O diretor falou assim: “Você está segura para atirar a faca?”. Eu disse que sim. Aí ele falou: “Dispensa o dublê!”. Eu pensei, vixe! (risos), ferrou! E se eu acertar alguém? Uma hora eu joguei a faca, ela atravessou uma tela, quase pegou em um cara! Mas graças a Deus não acertei ninguém!
RG: Em quem você se inspirou para criar a Martinha Pinel?
SS: Um pouco nas mulheres do Tarantino, meio Kill Bill… A personagem é louca, mas louca de paixão. Ela não quer qualquer homem, ela quer ele, o Bernardo (Rodrigo Pandolfo), ela é apaixonada por ele desde a infância.
RG: É doida, mas tem uma doçura…
SS: É, hahahahaha. Fogosa mas doce! Hahahahaha.
RG: Tem muito beijo né?
SS: Eu beijei muito! E cada cena se repete várias vezes, então… imagina o que eu não beijei…
RG: O seu par romântico deve estar muito feliz…
SS: Hahahaha. Quando saíram as fotos de divulgação, o Rodrigo me ligou e falou: “Caramba! Tá todo mundo me perguntando se eu te peguei de verdade!”
RG: Você o beijou logo na primeira cena?
SS: Beijei. E na hora do beijo derrubei ele no chão sem querer! Hahahaha. Mas acho que deu certo! Teve química! Acho que é muito importante isso! Hahahahaha.
RG: Você se achou bonita na tela?
SS: Ah, achei… Um pouco nariguda, mas achei! Hahahaha.
RG: Te picou o bichinho do cinema?
SS: Eu tô fazendo já um outro filme! Mas esse não é comédia…
RG: É o quê?
SS: Ah, é tipo uma história de vida, assim, meio que um drama, comportamental… Com o Caio Castro, que vive um lutador de judô que tem problemas com o pai… Eu faço a mulher dele. Uma participação pequena.
RG: Você chora?
SS: Tem cenas mais tensas, em que eu engravido dele, tudo… É bem bonitinho. É de um diretor novo, o Stefano Capuzzi Lapietra, ele é tipo “a” promessa. É da 02, tem produção do Fernando Meirelles… chama Aprendiz de Samurai, um filme de baixíssimo orçamento. Acho que ainda vai demorar pra estrear…
RG: Você já recebeu outras propostas?
SS: Ah, já tinha recebido algumas, mas em nenhuma eu me sentia segura para fazer, ainda mais no meio da muvuca do meu trabalho, a minha agenda tem de bater… Eu não posso parar tudo para fazer um filme…
RG: E as cenas de sexo? Deu vergonha ficar de peitos de fora no set?
SS: É um filme pra família, todas as cenas eram mais engraçadas… Nessas horas ficou só eu, o diretor, o ator, o câmera. Aí o Pedro falou: “Dá muita unhada, espanca ele!”. Hahahaha.
RG: É bem sexual aquela parte…
SS: É. Hahahaha.
RG: Você teve de tomar uma bebidinha pra relaxar?
SS: Não! Já era 3h, 4h da manhã, eu não tomei nada… Ah, tem de fazer, né. Mas não vai aparecer nada… Vai estar todo mundo assistindo, minha família toda, meus pais…
RG: Mas é nu artístico…
SS: Hahahahaha.
RG: Você já fez Playboy né…
SS: Faz dez anos! Foi em maio de 2003.
RG: Ah, então é tranquilo fazer uma cena assim…
SS: Não! (risos).
RG: Mas, escuta, você vai fazer novela então, depois disso?
SS: Não… (risos).
RG: Mas vão te chamar.
SS: Não… vão não!
RG: Claro que vão Sabrina, você virou atriz pô.
SS: Não! (risos)!
RG: Você não se considera uma atriz?
SS: Não! Foi uma ponta, eu fui muito protegida…
RG: Mas é um caminho que você quer seguir?
SS: Eu acho que você tem de sempre se reinventar, fazer coisas novas, uma coisa complementa a outra. Acho que posso fazer tudo. Só cantar que não dá, porque minha voz é muito ruim! Hahahahaha. Senão adoraria subir num palco e cantar…
RG: Você tem medo das críticas, dos atores, do meio?
SS: Não, não… Tenho mais vergonha de quem me conhece! (risos).
RG: Você sente um preconceito?
SS: Não… Eu não estou ocupando o espaço de ninguém, me acolheram muito bem, todo muito tem um carinho muito grande.
RG: Você é cinéfila?
SS: Sou muito, assisti esta noite ao último do Woody Allen, Para Roma Com Amor. Gosto das personagens dele, que se analisam o tempo inteiro… Essa coisa gay do Almodóvar eu também gosto bastante, das mulheres dele…
RG: Você inclusive é superalmodovariana…
SS: É?… Hahahaha.
RG: Acho que está nascendo uma grande carreira…
SS: Hahahahaha, tá não!
RG: Você pode até ganhar um Oscar, não acha?
SS: Vou, uhhhh! Vou ganhar dois. Hahahaha.