Maria Ribeiro: RG do mês

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Por Rosana Rodini
Maria lhe cai bem. Nome forte para uma personalidade idem. Carcaça que esconde um sem-fim de delicadezas que se revelam a conta-gotas. Coisas de mulher… As da Maria, a Ribeiro, conheci em uma hora e pouco de papo. Papo num sofá vermelho, o mesmo que aparece semanalmente no canal GNT, no programa Saia Justa, em que divide a cena com outras três boas representantes do sexo feminino: Astrid Fontenelle, Barbara Gancia e Mônica Martelli. Mas voltemos a Maria, nossa Impressão, moça que integra uma pequena lista de artistas-cabeça dos trópicos. É atriz, apresentadora, escritora e diretora de cinema com tutano. Há também outro título, o de mulher de Caio Blat, parceiro há sete anos – que combina com ela – pai de um de seus dois filhos, o Bento. “A minha vida é boa. Sou feliz”, começa, madura e inteira.
Carioca de 37 anos, vai revelando os fatores cruciais da sua trama. “Nasci dramática, apaixonada por histórias. Pelo meu poder de convencimento, meus pais me imaginaram uma advogada. Não cabia ser artista numa família de intelectuais.” Boa de escrita, e com horror aos tribunais, imaginou-se escritora. Na adolescência, fez teatro na Casa de Cultura Laura Alvim. “Por hobby.” Ficou cinco anos por lá, formou um grupo de atores. Na paralela, jornalismo. Aos 19, com peças no CV, veio a primeira novela. Fez também Memorial de Maria Moura, Confissões de Adolescente… “Sou uma inquieta.” Uma inquieta em busca de novas possibilidades. É que “até os 20 anos, quando você é uma garota, sem ter grandes preocupações, a vida é uma sucessão de experimentações. Você experimenta rapazes, se imagina de 137 formas diferentes, se apaixona por tudo, tem certeza que as suas amigas são pra sempre. E espera, tranquilamente, a chegada do grande amor. Até que chega um dia em que você é obrigada a parar de experimentar, e começar a escolher”. Esses eram os pensamentos da Maria aos 25 anos, quando escolheu fazer seu primeiro curta, 25. “Foi por causa da novela A Padroeira, que aceitei fazer, porque queria trabalhar com o (Walter) Avancini. Ele morreu no meio. O novo diretor tirou metade do elenco. Saí frustrada. E decidi nunca mais deixar minha vida na mão de ninguém.” Pegou o dinheiro que ganhou e investiu no tal curta. A escolha estava feita. Escolheu também um amor, Paulo Betti, com quem teve um filho, o João. “Nunca me permiti ser adolescente. Fiquei grávida com 26. O Paulo tinha 50 anos e escolhi não esperar, queria que o pai tivesse disposição para brincar com o filho.”
A esta altura, já tinha conhecido Domingos de Oliveira. “Acredito na dramaturgia dele. Sou o tipo de pessoa que gosta de Woody Allen, que acha que não dá para falar de outra coisa que não seja sobre você.” Fez-se o doc, seu primeiro, da Maria sobre o Domingos. “Nesses projetos todos o que me movia era a vontade de sentir o frio na barriga outra vez.” Foi por esse tal frio que ela se jogou de cabeça em outra empreitada, que finaliza agora: um documentário sobre a última turnê do Los Hermanos. “Sempre fui muito próxima do meu irmão Otavio, um intelectual. Por influência, cresci ouvindo Tom Jobim, Fleetwood Mac, Police…” Aos 10, era exímia conhecedora da discografia de João Gilberto. Menudos? “Era inconcebível.” Com o Los Hermanos, história de amor. Já tinha idade para fazer as suas escolhas, fazia terapia e, veja só, o irmão também gostava… “Vi os primeiros shows deles na PUC. Um dia, no Baixo Gávea, encontrei um dos integrantes do grupo, o Rodrigo Amarante.” Com a cara e a coragem, pediu para usar uma música em seu curta. Eles autorizaram. Foram se conhecendo, um dia ela filmou o backstage de um show… quando soube que a banda ia acabar, pediu para filmar outra vez. Mas o Marcelo Camelo achava esquisita a ideia – eram low profile demais para coisas do tipo. “Quando soube do último encontro, fiz a tentativa derradeira.” A resposta? “Maria, sabe que a galera tá achando uma boa ideia?” “Desliguei e falei: ‘Caio, caralho, eles toparam’.” E lá foi ela, com seu frio na barriga, investir num novo projeto seu.
Novo frio na barriga ao ser convidada para o Saia Justa. “Era uma contradição: sonho de adolescência, de ser jornalista, mas exposição.” É que ela é discreta. Mesmo casada com o ator Caio Blat, união potencialmente midiática, construiu sua carreira longe das revistas de fofoca. “Recusei muito convite de ilha e castelo. É o oposto do que acredito para a minha profissão. Quanto menos souberem de mim, melhor para o personagem.”
Sobre personagens: está atualmente na série Copa Hotel, do GNT. Vai atuar na peça Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, com direção de Marcio Aurelio. “É o projeto da vida do Caio (Blat), obcecado pela obra dele. Eu nunca tinha lido um livro inteiro, apenas contos. Então me veio o tal arrepio no estômago, de me testar e fazer algo que saía da minha zona de conforto.” Está escrevendo o roteiro do seu primeiro longa de ficção, sobre um outro prisma da ditadura. “Tenho uma relação estreita com a França, um padrasto francês e amigos que nasceram lá no exílio dos pais. Quero falar da irmandade que se criou lá fora. Talvez eu tenha, sim, tendência a ver o lado bom das coisas.” Um exemplo é sua última crônica para a revista TPM, em que fala sobre a recente morte do seu pai. “Meu pai morreu com 79, eu vivi uma vida com ele. Se despediu dos amigos, fez o obituário. E foi. E foi uma bonita despedida.”
Sobre sonhos…  quer escrever uma série pra tevê a cabo. “Sou viciada em Girls. Quero ser a Lena Dunham (escritora americana e roteirista do seriado). Um dia escrever um romance.” No mais, gosta de passar tempo com os filhos, ama cinema, adora um filme americano cheio de gente bonita. Odeia acordar cedo e sair correndo sem ter tempo de ler seus jornais. O expresso é sagrado, e em silêncio. Vaidade? “Voltei para a academia, por obrigação. Nunca tirei a cutícula, sobrancelha, só às vezes. Mas gosto de roupa. Não é que eu não tenha vaidade, é que meu modelo é outro. Acho linda a Charlotte Gainsbourg, a Sofia Coppola.” E vai vivendo a tal vida a dois. “Não penso nessa coisa de relacionamento eterno. Mas, se continuarmos felizes como hoje, por mim pode durar pra sempre. Acredito em monogamia, meu tesão é na pessoa, viver tudo com ela, sexo inclusive. Senão, prefiro buscar em outra. É como terapia. Eu faço há 17 anos, com a mesma terapeuta.” Terapia para se entender e… um drink pra relaxar? “Quase não bebo. Pra falar a verdade, só tomei um porre, e foi no dia do meu casamento com o Caio. Meus amigos falaram que eu fiquei bem mais legal. Mas é um objetivo. Anota aí, eu vou beber.”
Se a Maria já bebesse, a teria chamado pra tomar um chope, falar dos sonhos, dos frios na barriga. É bem mais difícil encontrar gente boa de papo do que bons bebedores cerveja.

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