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Newton Cannito: “Manual do Bullying”

Chega mais para saber do bate papo que RG teve com o cineasta e roteirista

Por Clarissa Wagner

Newton Cannito é cineasta, roteirista e humorista, e acabou de lançar na FLIP o livro Manual do Bullying e outras sátiras de humor pós-ativista. A ideia é criticar, achincalhar  e “bullyinar”  a hipocrisia e o humor Tupiniquim. De forma direta, sem enrolação e com bastante zombaria, Newton põe o dedo nas feridas nacionais e fala daquilo que o  politicamente correto, frequente nos dias de hoje, não permite ou teme fazer.

RG bateu um bem humorado confira:

RG: Como surgiu a ideia de fazer o livro? Por quê esse tema?

Não tive a ideia de fazer o livro. É um livro de humor e sátira. As sátiras saíram no dia a dia em resposta a chatice politicamente correta do mundo hoje. E aos falsos moralismos, e tal. Cada texto é uma resposta a uma notícia do mundo atual.

RG: Existe tema “proibido” quando se trata de humor?

Não existe. Um grande humorista pode fazer humor com qualquer assunto. Alias, essa é a função do humor: levar a graça a lugares ainda sem graça. A graça no sentido de rir, mas também no sentido de sentir a graça divina das coisas. Por isso, não existe limites. E o tema ideal para fazer piada é justamente o tema que ainda não tem graça.

RG: O primeiro Bullying a gente nunca esquece.  Qual foi o seu?

Eu era gago e cresci gago. Era bullyinado diariamente.

RG: Você declarou que “Temos que explicar a função social do humor e por quê esse tipo de piada é necessária socialmente”. Explique melhor para nós qual é função social do humor?

Esse trecho é uma gozação minha. É um texto que  lanço o “Justifica(r)tório”. O “Cartório Nacional de Justificativas”. Acho uma chatice isso de justificar tudo. Mas o Brasil está assim. Qualquer obra artística tem que escrever justificativas e pensar sua função social. Isso é chato pacas. A função social do humor é zombar da idéia de que a arte precisa ter função social.

RG: Você já declarou que o Brasil é hipócrita. Você acha que essa onde recente de protesto que têm tudo no País tem a ver com isso? Nas ruas se via muitos cartazes com frases bem humoradas, fazendo critica aos mais diferentes grupos. Gostou de alguma em especial? O que diria o seu cartaz?

Minha campanha atual é contra a Pedagoga do Humor. Eu sempre achei que o inimigo era o capitalismo, as corporações, e tal. Mas quem dominou o mundo foi a tia do colégio, aquela pedagoga chata que dizia que a árvore do desenho tem que ser verde. Elas dominaram a esfera pública e construíram um consenso que a arte tem que ser boazinha, incolor, inodora e insípida. Para elas o humor não pode atingir ninguém. É um absurdo total.  Sou contra a Pedagoga do Humor! Meu cartaz seria: “Fora a Pedagoga do Humor”. Acredito piamente que quem mata não é quem sofreu bullying. É quem não praticou. Por isso sou a favor da universalização do bullying e defendo o “bullyina mas não mata”.

RG: Seu livro foi lançando na Flip desse ano. Literatura de humor é levada a sério no Brasil?

Não tem muito debate sobre arte humorística no ambiente intelectual. A intelectualidade, em especial de esquerda, ficou muito chata nos últimos anos. Eu sou “meio de esquerda” e  sinto falta da esquerda do Pasquim. A esquerda agora é tudo ONG politicamente correta. Consegui uma brecha no Off Flip para esse debate. Espero que seja um inicio.

RG: Quais seus próximos projeto?

Virei coach. Lancei um produto que é o coaching de autobullying e estou recebendo cachê de coach para ajudar pessoas a se autobullyinarem.  Meu próximo projeto chama Autobullying.  Um livro que me autobullyino e ensino todos a se autobullyinarem. É tipo uma vacina. Bullyine a si mesmo antes que te bullynem. Imperdivel. Em longa metragem, estou para filmar Magal e os Formigas, um filme que o Sidney Magal salva meu pai da depressão e ensina ele a rebolar. Quero com isso bullyinar minha família que não dança e, quem sabe, aprender a dançar um pouco.

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