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FLIP: apostas

Cadão Volpato conta sobre as apostas na feira literária e mais 5 motivos para ler Graciliano Ramos, o homenageado da vez

Por Cadão Volpato

A FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), em sua versão 2013, não parece apostar em nenhum nome mais cintilante. Pode ser que as tietes sejam afugentadas este ano, visto que não há Chico Buarque ou Salman Rushdie ou qualquer outro popstar das letras na lista. A experiência mostra, no entanto, que grandes surpresas podem acontecer. Em 2011, por exemplo, quem é que apostaria no sucesso de um autor português tímido e quase desconhecido como Valter Hugo Mãe?

A escritora americana Lydia Davis é um desses escritores que correm por fora. Seu livro de contos, Tipos de Perturbação (Companhia das Letras), acaba de sair no Brasil. São 57 narrativas inclassificáveis, de tudo quanto é tamanho (variando entre poucas linhas e muitas páginas), todas carregadas com aqueles fatores que determinam a força de um conto: o mistério, o algo mais que se esconde em outra parte, as palavras simples, mas cortantes, a ironia fina que nada tem a ver com cinismo, mas com humor e inteligência. Tem a ver com Kafka, mais do que com Tchecov. Kafka, aliás, é um dos personagens de Davis.

E aí vai uma aposta quase secreta: o poeta octogenário Zuca Sardan. Vivendo em Hamburgo, na Alemanha, Zuca (Carlos Felipe Saldanha) é um escritor-desenhista que vem a Paraty com fôlego de garoto. Deve causar sensação. No mínimo, pelo senso de humor: ele gosta de contar, por exemplo, que espiou a nudez de Carmen Miranda no Cassino da Urca. São de Zuca estes versos imortais: “Se poesia fosse um táxi/já arrancava/com o leitor pagando/bandeira dois”.

Como o homenageado de 2013 é Graciliano Ramos (1892-1953), ao lado listamos 5 motivos para ler o homem, agora mesmo.

1)  Graciliano é o autor de Vidas Secas (1938), um romance de uma poesia brutal que a gente estuda na escola por obrigação – e isso é bom: a alma brasileira passa eternamente por essa secura

2)  Graciliano também escreveu Angústia (1936), uma narrativa sufocante, dostoievskiana, sobre um crime. Um relato sempre moderno

3)  Ele sabia escrever como ninguém. Era irascível. Sabia polir e sabia jogar fora, com uma honestidade para consigo mesmo completamente fora de moda já naquele tempo

4)  Ninguém passa incólume pela experiência de ler São Bernardo (1934). Uma lição brasileira de como o homem é capaz de destruir aquilo que ama

5)  Quem vai apresentar o escritor na FLIP é Milton Hatoun (Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos), o grande romancista do Brasil hoje. Vale ouvi-lo com conhecimento de causa

Todos na FLIP. Vamos?

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