Por Rinaldo Zirrah, do Rio
Rio de Janeiro, 17 de junho. Saí de casa com tensão. Afinal, desde o começo das manifestações, esta seria minha primeira. Fui, antes de mais nada, como um observador. Queria ver de perto o que eu já havia lido em diversas outras ocasiões. Cheguei por volta de 16:40 à Praça XV e esperei a aglomeração.
Às 17h, ouvia-se um batuque, um eco: estavam ali os manifestantes, já mostrando sua força Toque inicial? “Cidade Maravilhosa”, um hino ao Rio. Não é preciso dizer que, desde tal momento, muitos já estavam emocionados. E seguiram para a Candelária. Aqui, tudo em paz. Muitos – mesmo – jovens (até mesmo os menores), acompanhados de amigos, familiares (sim, eu vi filhos de 17 anos com mães), suas namoradas. As pessoas que trabalham nas redondezas também foram: engravatados, ambulantes, senhoras (por volta de seus 65 anos). Estavam todos ali. Pediam em alto e bom som o já bordão “vem pra rua”. E foram.
A caminhada continuou. Muitos cartazes com dizeres políticos, outros poéticos até. Ao entrarmos pela Avenida Rio Branco, diversos escritórios mostravam seu apoio: seja numa chuva de papel picado e muitas palmas, alguns tecidos brancos nas janelas.
Manifestantes pediam “pisca a luz”, e assim fizeram. E tudo estava acontecendo da melhor maneira possível. Minha tensão já havia ido embora. Consegui ficar próximo a um grupo que pertence a Defensoria Pública do Estado do Rio. Eles seguiam animados e confiantes na passeata. Muitos advogados presentes e, claro, a imprensa em peso.
Seguindo o trajeto, todos chegamos à Cinelândia, “ponto final” da manifestação e, até então, da dispersão geral. E tudo continuou no clima de paz. Pessoas cantando, unidas. Era, estava pacífico. Decidi passar num restaurante próximo ao Amarelinho – local bem conhecido entre os cariocas – e, para minha surpresa, aparecia a cena do Congresso sendo tomado. A reação de todos presentes, vendo aquilo na tevê, foi única: todos gritavam, vibravam com “estamos juntos”, “olha que lindo”. Uma senhora ao meu lado chorava – “vocês conseguiram, estou emocionada. Vocês vão fazer ainda muita coisa pela gente”. Pausa para respirar. E o que vi, não só no Rio, mas em São Paulo, Vitória e principalmente Brasília, me estremeceu. As sombras sobre a arquitetura de Niemeyer mais pareciam fazer parte do “Mito da Carverna” de Platão. Sabe? Conhecimento e formação do Estado Ideal?
Mas a panela de pressão explodiu. Fontes contam que o incidente na ALERJ foi cometido por um grupo pequeno, cerca de 15 – 20 pessoas. Perante os 100 mil contabilizados (na paz – inclusive com a PM), é o momento de refletir: jogar fora sonhos e metas por estes ou continuar pela maioria. São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Vitoria, Minas Gerais. Relatos de cidades pequenas no interior do Brasil que também entraram no clima. Todos estão mobilizados. Viver neste momento histórico é inenarrável. Pra mim, para você, seus pais, amigos, filhos. Façamos valer a pena. E, acima de tudo: sem violência.