POR ROSANA RODINI
São Paulo. Meia dúzia de garotos de não mais que 20 anos aguardam em frente a um prédio. Em mãos, bilhetes escritos em guardanapos de papel e uma Playboy com Lindsay Lohan na capa. “Vai encontrá-la?”, perguntam, ansiosos e em uníssono, à repórter, eu. São 20h de uma quinta-feira pré-feriado. Espero por ela há mais de três horas. Mas, levando-se em conta que nem em seus julgamentos a atriz hollywoodiana é pontual, que dirá numa entrevista nos trópicos. “Pede um autógrafo para mim”, demanda, me estendendo a revista, um dos seis fãs da moça, trazida ao Brasil pela marca John John para o lançamento de coleção e para uma festa da label no Cafe de la Musique, em Florianópolis. Os poucos entusiastas ali na porta do prédio condizem com a atual fase de Lindsay: de garota prodígio da Disney, de promissora musa hollywoodiana, transformou-se em troublemaker de pouca credibilidade. No currículo, filmes deram lugar a uma série de manchetes menos glamourosas, com passagens pela polícia, reabilitações, brigas com a imprensa, demissões em pleno set e uma dívida gigantesca com a Receita. Assuntos que, claro, ela prefere não debater, alerta a assessora. Ocorre que nós aqui temos uma quedinha pelo imoral. E, para quem compartilha de tal gosto, Lindsay é rainha, diva cult dos novos tempos, dessas que erram em público, que não têm a menor vergonha (e por que deveria?) de anunciar que está namorando uma mulher, que grita, chora e depois pede desculpa, que toma porre e rasga a roupa. É cara lavada, ainda que sempre revestida de muita maquiagem. Ela chega. Eu lhe entrego a revista. Ela sorri. E, ironicamente, dispara: “Muito prazer, sou Lindsay Lohan”.
RG: Trouxe essa Playboy dos seus fãs, eles estão implorando para você parar para vê-los lá na saída. Dizem que te amam desde antes de você acender seu primeiro cigarro.
Lindsay Lohan: Vou autografá-la, você entrega? E, para constar, só fumei meu primeiro cigarro aos 19 anos. Mas não posso parar para eles (os fãs). Cheguei hoje e ainda tenho uma festa para ir. Esta é a minha primeira vez no Brasil e, ironicamente, tem um monte de amigos que também estão em São Paulo por causa do Lollapalooza, como o Eddie Vedder, do Pearl Jam. Quero ir ao festival também pra ver esse músico, o Gary Clark Jr., que é incrível. Não o conheço pessoalmente. Quem sabe amanhã…
RG: Você veio ao Brasil a convite de uma marca de moda, a John John. É atriz, mas se vê como um ícone fashion? Quem são os seus?
LL: Eu amo a Elizabeth Taylor, obviamente (ela interpretou a atriz no longa Liz & Dick). Acho incrível a forma com que ela se vestia nos anos 70. Usava bota branca com shorts! As pessoas se esquecem disso. Brigitte Bardot, sempre uma musa. E amo Kate Moss. Mas se eu me vejo como um ícone?
Isso é uma pergunta tendenciosa. Mas aceito como um elogio, se você quiser fazê-lo.
RG: A fama e a exposição são um processo natural da sua vida, já que você está no ar desde que se entende por gente?
LL: Desde que eu tinha 10 anos… me acostumei com a fama. Gosto de trabalhar, adoro fazer filmes, acho uma delícia contar histórias e amo fotografar. Fora as viagens, conhecer gente nova, as experiências. Mas a abordagem dos paparazzi é assustadora. Pense numa fotografia constante da sua vida. É isso o que acho injusto. Sou de Nova York e voltei para lá recentemente porque é mais habitável. É insuportável viver em Los Angeles.
RG: Teve de adaptar sua vida a isso?
LL: Nunca fiz nada de diferente. O resto é apenas o que as pessoas escutaram e passaram para frente. E como elas escutam…
RG: Você se vê como uma voz contra a caretice?
LL: Por que me veria dessa forma?
RG: Porque você faz o que bem entende, mesmo que algumas das suas atitudes sejam contra o que é considerado padrão pelos mesmos caretas…
LL: Elizabeth Taylor disse aos paparazzi para eles se
foderem. Então, por que não? Faço o que bem entendo. E ponto final.
RG: Seu próximo trabalho é na série Anger Management,
com Charlie Sheen. Como é o seu papel? E fluiu a relação com Charlie?
LL: Foi uma boa experiência. Trabalhei com ele num
filme antes, o Todo Mundo em Pânico 5, e acabamos nos tornando amigos. Mas a imprensa gosta de falar (rumores dão conta de que o ator teria pago a dívida dela,
de US$ 100 mil, com a Receita Federal)… eu não gosto
de falar sobre isso.
RG: Quais são seus planos para depois do Brasil?
LL: Além de voltar para a reabilitação? É aí que você estava tentando chegar? Bom, além do rehab, vou promover um novo filme e coproduzir e dirigir outro. Há também possivelmente um trabalho com Woody Allen. Mas nem me pergunte mais porque não posso falar sobre isso.
É grande. E secreto também.
RG: Você está namorando?
LL: Não falaria se estivesse. Acabei de te conhecer. E nosso tempo já acabou.
RG: Podemos conversar mais depois da sua festa…
LL: Se você me fizer capa da sua revista, querida…