Toco para a academia de ginástica e dança AMC, na Vila Maria, zona norte de São Paulo, para bater papo com Wanessa, filha de Zezé e Zilú. Era isso ou Alphaville, em Barueri, onde ela mora. Por conta da agenda apertada, entre ensaios de dança e momentos fofura com o pequeno José Marcus, baby de 8 meses do casamento de cinco anos com o empresário Marcus Buaiz, anda difícil até marcar um simples café. Na academia, Wanessa aparece bem diferente da mulher arrumadérrima, com vestido de couro e saltão que eu conheci no dia anterior, na sessão de fotos que acompanha esta entrevista. Dessa vez, o look menina tem legging, All-Star, camiseta largona, no make-up.
Simpática e gente boa nos nossos dois encontros, ela anda animada com a sua volta aos palcos pós-maternidade. Neste mês, lança um show novo e grava um DVD ao vivo em São Paulo, brindando os novos rumos que sua carreira tomou. Para quem não sabe muito bem, há cinco anos Wanessa largou o pop romântico melosinho para cantar em inglês e tentar abocanhar o mesmo público que curte Britney Spears, Madonna, Rihanna, Beyoncé, Shakira e todas as outras musas pop que são, sim, referência para a filha do sertanejo. “Foi um risco muito grande, resolvi fazer o contrário: saí do mainstream para ir ao lowstream”, conta, citando as dificuldades de convencer, com sua imagem e música, público, gravadora e rádios. A saber: as populares ficaram para trás, hoje Wanessa é garota tipo Jovem Pan. “Prefiro fazer show para só mil pessoas e cantar aquilo que acredito do que tentar fazer trio elétrico porque é o que dá certo no Brasil”, apimenta, convicta.
O empurrãozinho da virada veio do marido, que juntou Wanessa com o rapper americano Ja Rule num dueto que foi hit nas paradas. Isso adicionado à direção artística e pitacos de Giovanni Bianco: novo cabelo, roupas boas, adeus ao cabelão e looks adolescentes. Wanessa é esperta e sabe que a união faz a força, e cada vez mais valoriza profissionais acima da média para fazer parte de sua equipe. Dessa vez, importou Bryan Tanaka, o coreógrafo de Rihanna e Beyoncé, para criar os passinhos do show DNA, que promete superprodução, muito LED e figurinos extravagantes. Dei uma espiada no ensaio do corpo de baile com o coreógrafo gringo e posso dizer que o cara vale o investimento – quero uma pista de dança já! Carreira internacional? “Algumas músicas minhas já tocaram lá fora sem nenhum esforço da nossa parte. Isso me animou para tentar entrar nesse mercado, mas tive de adiar um pouco por conta da gravidez”, explica. Fashionista – já vestiu Balmain e botas Givenchy em shows anteriores – encomendou para a nova turnê figurinos de estilistas novatos que desfilam na Casa dos Criadores. “Para o show, posso brincar com as roupas; se fizer sentido, posso colocar uma melancia na cabeça, não tenho limites”, afirma, Lady Gaga feelings. Tem seus little monsters, que estão de olho na bota, no corselet e no cabelo. Fãs supercríticos, por sinal. Não é de hoje que Wanessa Camargo virou musa GLBT, vive fazendo shows na The Week, tem coreôs imitadas nas boates do gênero. Defensora e militante das causas homossexuais, Wanessa faz presença nas paradas gays. No ano passado, foi a Brasília no encontro sobre união civil homossexual armada pelo deputado Jean Wyllys. “Só não quero ficar segmentada apenas ao público gay. As mulheres também curtem meu trabalho, canto muita música de mulherzinha”, diz.
Aos 29 anos, quase 30, Wanessa virou mulher madura. Quando pergunto da recente separação de Zezé e Zilú, ela nem muda a expressão. “Hoje consigo entender esse divórcio muito melhor do que se tivesse 15 anos. Foi tudo bem resolvido dentro de casa. Eu quero mais é que os dois sejam felizes, isso é mais importante do que a família constituída”, analisa. Outra questão polêmica, que tem nome e sobrenome: Rafinha Bastos. Se você não estava vivendo em Marte no ano passado, sabe que o humorista, ex-apresentador do CQC, da Band, fez no ar uma piada de mau gosto sobre a cantora e seu filho – e acabou sendo processado por ela e Buaiz. Pelo fato de o caso estar na mão dos advogados, Wanessa não pode se posicionar sobre o assunto. Ok… Emendamos num papo sobre a irmã Camila, que é atriz e vive na batalha no meio artístico. “Se eu pudesse escolher, preferia que ela mudasse de ideia. Já morei no Rio quando tinha meus namoradinhos lá e sei que é um meio difícil, tem muito ego – e muita droga”, relembra. Alguém aí pensou em Dado Dolabella?
Estudiosa da cabala, interessada em psicanálise – “deixei de fazer terapia pois sou muito autocrítica, saía das sessões me sentindo pior” – e filosofia (já pensou até em fazer faculdade depois de ler Apologia de Sócrates), eis aqui outra faceta de Wanessa, off palcos. A pergunta que me vem: mas, e aí, você chegou lá? “Não! Hoje, quando assisto a vídeos do começo da minha carreira, de 11 anos atrás, vejo maturidade e evolução, e até me divirto com a moda da época. Jamais renegarei o meu passado, toda essa experiência faz parte da minha história e do meu crescimento profissional. Mas sei que ainda não cheguei onde eu queria”, avalia. Ela não exagera quando diz que é supercrítica consigo: “Preciso melhorar em tudo: como lido com estresse e adversidades, como posso me apresentar melhor no palco… Tudo requer dedicação, tempo e prática. Para minha sorte, hoje os 40 são os novos 20 e vou ter mais tempo como cantora”, reflete, com tranquilidade, sem nenhum traço de drama queen.
Crédito das fotos: Franco Amendola
Styling: Luis Fiod (Mint)
Beleza: Max Weber
Produção executiva: Zeca Ziembik
Assistente de produção executiva: Nuno Garcia
Produção de moda: Bruna Heloisa Cardozo e Gustavo Xavier