RG entrevistou Bruno Senna para a edição de Agosto. O piloto que está ocupando a 16ª posição no campeonato, teve neste ano sua primeira grande chance na Fórumla1 correndo pela Williams, escuderia em que outrora o tio Ayrton marcou seu nome na história do esporte.
Poucos dias antes do Grande Prêmio do Brasil, que encerra a temporada deste ano, RG mostra o registro do piloto e faz votos de mais um temporada nas pistas acompanhada de grandes conquistas.
Por Anna Del Mar
Bruno Senna é do tipo menino de ouro. Educado, pé no chão, centrado. Um orgulho para a mãe, Viviane Senna, mulher que emociona o país com a força com que leva adiante o grande projeto social de seu irmão Ayrton, um instituto que devolve a milhões de crianças o amor que um país inteiro nutria por seu ídolo máximo das pistas.
Ao passo em que é maravilhoso carregar um sobrenome mítico do automobilismo, é igualmente uma responsabilidade e tanto para um jovem de 27 anos suportar a pressão, as comparações inevitáveis que um sobrenome desses imprimiria em qualquer um. Mas Bruno é um destemido; sabe o quer e corre atrás disso. E como corre… Sempre gostou de velocidade. Desde pequeno, dava trabalho para Ayrton nas corridas de kart improvisadas em sua fazenda.
Depois do trágico acidente de San Marino, em 1994, Bruno se afastou da velocidade, num movimento natural de toda a família, machucada e receosa. Mas o caso foi desses de paixão antiga e má resolvida. Bruno correu atrás do tempo perdido (quebrando uma costela aqui, outra ali) e, num trabalho de seis anos, chegou à Fórmula 1, a grande pista. É onde o encontramos.
Para RG, Bruno deixou-se registrar, num momento em que afirma sua personalidade, dentro e fora do cockpit.
RG: Você corre de quem?
BS: Eu corro de pessoas irritantes.
Você corre atrás do quê?
BS: Eu corro atrás dos meus sonhos.
Te cansa a comparação com o seu tio?
BS: É inútil, porque eu não quero ser igual ao Ayrton.
O que ele imprimiu em você?
BS: Sempre tentar fazer o melhor que eu posso e seguir meus sonhos.
Tem algum momento entre vocês que te marcou?
BS: Todos os momentos em que ele estava em casa, curtindo a família.
Como convenceu sua família a voltar a correr depois do acidente de Ayrton?
BS: Quando eu estava com uns 18 anos, eu trabalhava em uma concessionária de carros com o meu avô. Estava passando pelas diferentes áreas para aprender sobre a estrutura da empresa. Fazia também o curso de administração de empresas na FAAP. Nessa época, a minha mãe veio me perguntar o que eu queria fazer da minha vida e eu respondi que queria voltar a correr. Ela ficou surpresa e achou que era coisa de moleque de 18 anos. Então eu fui tentar andar de kart, me machuquei várias vezes e isso acabou me atrasando um pouco no automobilismo.
A morte trágica do seu tio, que abalou um país inteiro, não te deixou com medo de correr?
BS: Pra quem está dentro do carro, é muito diferente a noção de perigo, então eu nunca fiquei com medo de correr. Mesmo depois do acidente.
O que é perigo pra você?
BS: Perigo pra mim é viver sem objetivos, sem ambições.
Tem ritual antes de entrar no cockpit?
BS: Só uma oração rápida pra Deus estar comigo o tempo todo.
O que passa pela sua cabeça durante uma corrida?
BS: Durante a corrida eu fico 100% focado nas estratégias, na conservação dos pneus e nas disputas. Tem muita coisa pra fazer dentro do carro durante a corrida, principalmente dentro da cabeça.
O que acontece se um pensamento bizarro aparece quando você está no volante?
BS: Se aparece algum pensamento bizarro, ele vai embora rapidinho na próxima freada forte. A 300 km/h não tem margem pra ficar viajando.
É bom motorista fora das pistas?
BS: Eu não faço muita besteira na rua, quando dirijo. As variáveis são muito grandes e você sempre coloca em risco a vida de outras pessoas. Não vale a pena envolver pessoas inocentes nas nossas aventuras. Já levei multas de velocidade em estradas no Brasil, mas desde que me mudei pra Europa, nunca mais levei multas de velocidade (fora quando ultrapasso a velocidade máxima do pit lane na F-1!). Em compensação, quando morava em Londres levei várias multas de estacionamento e até guincharam meu carro algumas vezes por parar em locais proibidos.
Te faz bem a fama?
BS: Eu não sou muito ligado na parada de ser famoso. Eu gosto de ficar na minha e curto coisas simples.
O que te irrita no fato de ser famoso?
BS: O que me irrita é que a privacidade desaparece junto com o espaço pessoal.
Muita “Maria Gasolina” acelera pro seu lado?
BS: A mulherada dá mais mole hoje em dia…
Você viaja o mundo inteiro por causa das corridas da F-1. Ainda falta um lugar que tenha vontade de conhecer?
BS: Eu viajo bastante, mas não muito para lugares de lazer. Sempre estou no avião a trabalho, o que é muito diferente de fazer turismo. Vou tentar conhecer Bali ano que vem. Acho que um lugar que não dá pra não conhecer é Fernando de Noronha. Esse vai ser meu próximo destino quando tiver a oportunidade de planejar um pouco mais. Também não conheço muito dos EUA. Acho que seria interessante passear por Los Angeles, São Francisco etc.
Devagar e sempre faz sentido pra você?
BS: Devagar e sempre nunca foi a minha filosofia. Eu estou na competição pra vencer e me superar. Sempre.
Prefere o caminho ou a reta de chegada?
BS: Eu prefiro a reta de chegada… Mas, com mais experiência, o caminho se torna mais agradável também.
E o que tem depois?
BS: Na minha profissão é sempre muito difícil prever o que vem pela frente. Neste ano eu estou tendo a chance de provar se sou bom o suficiente pra fazer carreira na Fórmula 1 com um carro competitivo (ele corre pela Williams). A curva de aprendizado é superagressiva e a competição não poderia ser mais forte. Então, estou tendo realmente de me desdobrar pra ultrapassar a falta de experiência e fazer bons resultados. Seria fantástico se conseguisse vencer algumas corridas entre este ano e o próximo. E, a partir daí, desenvolver uma carreira sólida com chances em bons carros pra poder lutar consistentemente por pódios, vitórias e, quem sabe, campeonatos.