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Maria Frering @RG

Neta de Carmen Mayrink Veiga e filha de Antonia Frering, Maria debuta nas páginas de RG. Vem

Por Jeff Ares

Pela primeira vez, Maria Frering, neta de Carmen Mayrink Veiga e filha de Antonia Frering, posa para o editorial de uma revista brasileira. Em sua primeira grande entrevista, fala de seu projeto profissional e do futuro que a espera, sorrindo.

Maria é uma conquista. Uma vontade de faz tempo, nossa e de algumas boas redações do ramo. Não por acaso. Para começo de conversa, trata-se da garota mais bonita do Rio. Que nos perdoem as beldades cariocas, esses bastiões da formosura, mas a elegemos musa, no que há de mais idílico no termo. Tem uma presença helênica, uns olhos de mergulhar. Traços perfeitos, altura de modelo, cintura de sílfide. Mais: tem o tal do je nes sais quois, coisa herdada de uma linhagem emblemática: é neta de Carmen Mayrink Veiga, a grande dama da sociedade local, mítica matriarca, uma das mulheres mais tremendamente elegantes do país, mãe de Antonia Frering, atriz que carrega os traços aristocráticos da mãe, seus cabelos negros e longos, uma aparição estonteante. No seio de uma família sem par, nasceu Maria. Maria Teresa Frering. Maria Frering.

É sua primeira grande entrevista, suas primeiras fotos assim, maneca, para uma revista brasileira. Pedidos não faltaram. Um séquito a seus pés. Ela poderia ter ganho a notoriedade que quisesse, uma ribalta inteira… Atriz de novela, cantora, modelo internacional, it girl & blogueira, you name it. Nasceu com script. Mas quem disse que os dessa turma, a tal da geração Y, querem seguir o caminho óbvio? Já muito esperta, Maria pensou bem… “Eu queria ser levada a sério”, pontua, uma fala rápida, assertiva, entre risadas juvenis de alto contágio, que denunciam seus 21 anos. “Recebi vários convites. Mas sempre tive a cabeça bem no lugar. Eu sabia que, pra você aparecer, tem que ter um propósito. Eu não queria e não quero ser modelo, de vez em quando aparece um negócio divertido, bacana, eu faço, feliz. Mas fazer isso como profissão, largar os estudos, isso não é uma coisa que eu gostaria de fazer, porque eu pretendo ter uma carreira que dure a vida. E acho que modelo é uma coisa meio curta, você acaba tendo que sacrificar sua educação, sua juventude. Eu ia fazer coisas sem propósito e isso ia estragar um pouco a minha imagem”, analisa, catedrática. Há pouco, ela posou para a dupla de fotógrafos Mert & Marcus, sob a direção de Giovanni Bianco, para a campanha da joalheria Vivara. Aos poucos, Maria está começando a se deixar revelar. “Mas agora estou com a cabeça no lugar, eu sei o que quero da minha vida. Antes eu não sabia o que eu queria, eu achava que eu ia talvez trabalhar em um banco, talvez trabalhar com política. Se eu fizesse essas coisas, não iam me levar muito a sério. Quando eu achei que eu não ia mais trabalhar com isso, que realmente iria fazer alguma coisa no mercado da moda, então pensei… Só pode ser bom pra mim, além do que, é super divertido, então vamos com tudo”. Pra onde? Pras joias.

Gastando neurônio no terceiro ano de economia na PUC, Maria quer abrir uma joalheria logo depois de se formar. Mostra um bracelete de cobre, com desenhos vazados, pintas de onças para vestir tigresas – as de pedigree, é lógico. “Fiz um curso com a Paula Mourão para entender como as joias são feitas, o processo”. Machucou as mãos, sem medo do batente. “Mas o que eu mais quero é trabalhar com o desenho, entender das pedras”, planeja. Vontade que nasceu, inegavelmente, da cotidiana influência de uma família de estetas. “Desde que eu sou pequena eu vou na Sara Joias com a minha mãe. Ficava vendo todas aquelas pedras, uns brilhantes enormes… Me apaixonei”. Fatalmente, o reflexo de Antonia e Carmen vai aparecer numa peça ou outra. “O estilo delas é muito inspirador, uma coisa atemporal, clássica, mas fashion forward”. É esse termo gringo aí que vai definir, exatamente, suas futuras criações. “No Brasil tem muita joia clássica, mas não tem muito o que, por exemplo, o Eddie Borgo está fazendo em Nova Iorque, mais edgy, mais fashion forward, então pensei em fazer uma coisa dessas aqui. Espero ser internacional, mas vamos começar aos poucos, não é?” E a marca vai chamar você? “Tô pensando ainda, mas acho que vai ser o meu nome”. E se um dia você quiser vender sua marca, vai ter que vender seu nome… “É… Mas a princípio sim, vai ser meu nome, e eu espero nunca vender (risos)”. Claro que não vai. Mesmo que venda, não conseguiriam reproduzir o que há de especial ali: um acúmulo de histórias, lembranças. “Me vejo de um jeito muito diferente delas, mas não consigo deixar de me sentir como a terceira geração. Elas me ensinaram muitas coisas, não só em termos de moda, mas como se portar, educação, valores… Em termos de estilo acho que sou um pouco diferente, como minha mãe é diferente da minha avó, e eu sou diferente da minha mãe”. Mas as semelhanças escapam, aqui e ali. “Gosto de coisa berrante, chamando a atenção! Isso eu tenho da minha avó, de gostar de coisa grande. Piro nas bijouterias dela. Ela tem sete gavetas grandes, cheias, cheias, cheias…”. A admiração vai muito além dos brilhos. “Estou realmente conhecendo minha avó, agora. A vejo com muito mais freqüência, a cada vez é uma aula. É uma bíblia de conhecimento. Uma figura. Hilária. Tem um senso de humor único. Sabe falar tudo de tudo, de todas as crises políticas, do diretor, daquele ator, de moda… Outro dia perguntaram por que do auê todo em cima da turmalina Paraíba… ela poderia ter escrito um livro sobre o assunto… Falei pro meu pai: ‘Ah, acho que eu vou viajar e estudar história da moda’. Ele falou: ‘Pra que? Vai conversar com sua avó!’”

Mas Maria não é a pura continuidade, é uma nova leitura do estilo da família. Tem personalidade. Ajudam os 9 anos na capital do mundo. Maria foi educada em Londres, onde morava com os pais e os dois irmãos, mais velhos. “Vivi lá praticamente a vida toda. Acho que foi bom pra mim, abre a cabeça, Londres está no centro do mundo… quantos finais de semana não peguei um trem e fui pra Paris… Eu estudava numa escola super inglesa, só de meninas, uniformezinho, ‘Church of England’… na minha sala acho que tinham umas quatro meninas de verdade inglesas, o resto era tudo árabe, do Azerbaijão, de tudo quanto é lugar, menos a Inglaterra…”. Quando ela tinha 19, os pais decidiram voltar para o Brasil. Ela adorou a ideia. “Foi super fácil me adaptar aqui, é todo muito sempre feliz, animado, receptivo… Uma mesa de dez pessoas nunca vai estar chata. Em Londres, isso é uma possibilidade”, afirma, sem ironia. “Eu sempre quis voltar pra cá. Eu gosto muito mais do Rio do que de Londres”. Quando é que você se deu conta disso? Desde o primeiro dia que eu fui pra lá”.

Ainda bem que voltou… Para alegria da cidade, que merecia uma garota-sensação, um furacão desses, que promete muitas histórias, muito assunto… Um teaser? Ela canta (mas você só vai ouvi-la no karaokê e no chuveiro). Já tocou bateria (“#Fail! Risos”). É o avesso das it-garotas descerebradas (desculpa, desculpa a sinceridade) que povoam a blogosfera. Lutou contra isso, se protege, se empenha para não virar um rótulo. “Acho que muita gente vai querer criar uma imagem negativa de mim, por preconceito… Porque hoje em dia o termo socialite é visto como algo pejorativo, e minha avó foi socialite, numa época em que era bacana e cabível ser, minha mãe foi muito chamada de socialite, e ela é uma atriz, trabalha… Então as pessoas já me olham meio assim…”. É, Maria, mas o mundo mudou. Pode seguir em frente, que o seu caminho está bem traçado. Bonita desse jeito, então… Quando você acorda e olha no espelho, você agradece a Deus? “Eu não, quando eu acordo eu tô horrível, o cabelo fora do lugar, uma olheira enorme!” A gente finge que acredita. Até já, Maria.

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