Por Jeff Ares
Diretora da maior feira de arte do país, que começa nesta quinta-feira (10.05), Fernanda Feitosa reflete sobre as idiosincrasias de um mercado que só faz crecer.
Qual o balanço desses oito anos de SP-Arte?
FF: É bastante impressionante. Quase triplicamos o número de expositores, com crescimento igual de visitantes. Poderíamos ter quadruplicado, mas nossa maior preocupação é com a qualidade expositiva do evento e a conquista gradativa de mais adeptos das artes plásticas e visuais. Minha maior emoção e de minha equipe é por fazer um trabalho que traduza nossa preocupação com a educação e formação de um novo público, sintonizado com as artes. Criar oportunidades e ver artistas e galeristas se beneficiando das pontes que tentamos construir entre eles e o público é certamente fonte de energia para trabalharmos mais um ano. A alegria contagiante dos artistas e a surpresa estampada nos rostos de um novo público são razões que nos estimulam.
Como você encara o surgimento de feiras paralelas, para jovens artistas sem galeria? É um modelo a adotar, uma ideia a absorver?
FF: O surgimento de novos eventos e feiras tanto para artistas mais jovens, tanto em São Paulo, como é o caso na P/Arte, como em outros estados, como o caso da ArteRio, apenas reflete o quão forte tem sido nosso trabalho de expandir o público interessado nas artes em nosso país. Esse despertar é, sem dúvida, fruto de nosso trabalho na SP-Arte, somado ao trabalho das galerias e museus ativos no país. É um movimento que não tem volta e considero supersaudável, estimulante, abrangente, democrático. Estamos contentes e orgulhosos de termos sido os pioneiros dessa nova fase no mercado de arte no Brasil.
Como a SP-Arte pode contribuir para a inserção de jovens artistas no mercado?
FF: Na medida em que desperta o interesse de novos colecionadores. Temos de criar condições de escoamento da produção jovem contemporânea em nosso país, e uma das formas de fazer isso é estimular o colecionismo privado e público (de instituições e museus, como o Itaú Cultural, a Pinacoteca, o MAM… que compram obras na feira).
Como tornar mais forte a formação de curadores no país?
FF: Passa inicialmente pela educação superior e profissionalizante, com criação ou expansão de cursos superiores voltados para crítica ou história da arte. Outras formas: mais dinheiro para alimentar os museus nacionais e a aquisição de acervos, estímulo à criação de institutos culturais por parte de pessoas fisicas ou jurídicas, estímulo à doação de obras, à criação, circulação e exposição de coleções corporativas etc… Essa expansão certamente aumentaria a demanda por profissionais de crítica e curadoria e geraria mais empregos. Na SP-Arte, estamos fazendo algo inédito nesse sentido: lançando o Laboratório Curatorial, que busca contribuir com essa formação. Quarenta curadores enviaram pré-projetos curatoriais com base nos artistas presentes na feira. Quatro foram selecionados para trabalhar de perto e com a orientação de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura, dois dos mais respeitados curadores em nosso país. Isso trará certamente uma grande bagagem profissional a esses jovens. Para coroar esse processo, ainda premiamos esses curadores com a montagem da exposição resultante desse trabalho e uma viagem para conhecer Kassel, uma das mais importantes mostras de arte do mundo, que ocorre a cada cinco anos na Alemanha. Isso é uma grande e inédita oportunidade de aperfeiçoamento profissional.
Você reconhece diferenças entre o colecionador brasileiro e o estrangeiro?
FF: Não sei se há diferenças. Uma das belezas de paixões como a de “colecionar” é que, justamente, elas aproximam as pessoas mais diferentes. Acho que colecionador é tudo igual: um apaixonado impulsivo. O brasileiro, em função da grande riqueza e diversidade de nossa produção cultural e das altas barreiras alfandegárias, tradicionalmente se voltou para o mercado interno.
Isso está mudando gradativamente, e a feira faz parte desse processo. As galerias brasileiras também contribuem para essa mudança de comportamento na medida em que introduzem artistas estrangeiros no mercado nacional; e os museus também contribuem ao trazer algumas exposições internacionais. Os jovens colecionadores viajam mais e incluem programas culturais em suas agendas, como outras feiras, museus e bienais… A feira este ano terá sua maior quantidade de galerias internacionais: mais de 20% de fora. Serão 27 galerias de dez países: Argentina, Peru, Colômbia, Uruguai, EUA, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra e Japão.
Qual o real papel do país no mercado de arte internacional?
FF: O país tem a segunda Bienal mais importante do mundo. Não há uma política de estado para a cultura em geral, nem para as artes plásticas especificamente, e só assim poderíamos pensar em fazer alguma diferença no cenário mundial. Existem agentes individuais que fazem excelentes trabalhos pela arte brasileira no exterior. Tem muito a se fazer.
Falta incentivo da iniciativa privada? O mecenato deve vir do governo ou das instituições privadas?
FF: Sem mecenato do governo, a arte míngua. Cultura é uma questão de estado. Não há como incentivar cultura se esse incentivo não é abraçado inicialmente pelo governo, que, por sua vez, também deve criar situações e mecanismos para que a ação privada floresça e se torne mais engajada. A Lei Roaunet é uma grande ferramenta de apoio. Já temos pouco com ela. Sem ela, estaríamos condenados a não ter nada.
Que artista brasileiro jovem devemos olhar com atenção?
FF: Preste atenção em todos os artistas. You never know…