Por Rosana Rodini
Modelo de traços perfeitos e cabeça boa, Alicia Kuczman é a garota mais popular dos corredores da moda. Linda, engraçada e cheia de estilo, eis a top da vez
“Meu apelido era palito de comida japonesa. Eu era magra, alta e ninguém sabia o que era hashi na minha cidade”, conta Alicia Kuczman, garota de olhos verdes, cabelos loiros, pele transparente e muito traquejo verbal. A frase é só a primeira do arsenal de sentenças bem-humoradas da modelo, que se tornou objeto de desejo desta seção quando a vimos num backstage qualquer das semanas de moda do eixo Rio-São Paulo. Difícil é lembrar em qual, já que poucos desfiles made in Brazil não exibem as passadas certeiras da nossa personagem. “Quando estou numa passarela, não vejo mais nada”, divide, entre um gole e outro do seu cafezinho – estamos sentadas num café nos Jardins, em São Paulo, bairro que ela escolheu para chamar de seu desde que deixou para trás Cascavel, sua cidade natal, no Paraná, aos 14 anos de idade. Desde então, acostumou-se a chamar para si a atenção, mesmo que sem querer. Ali, no nosso café, não havia quem, de passagem, não desviasse o olhar para a menina. “Nem reparo”, dá de ombros, enquanto folheia uma revista de moda e se depara com uma imagem sua, bem grande, logo nas primeiras páginas. “Esta campanha fotografei em Buenos Aires. Foi uma delícia”, relembra, para depois rir o riso sincero dos de bem com a vida. Pronto, estamos rendidos.
Com Alicia é assim: uma gargalhada, uma opinião desbocada, muita atitude e uma desenvoltura sem-fim. Tome como exemplo o dia das fotos que você vê nestas páginas, obra de Henrique Gendre, o autor das imagens e dono da ideia do set a céu aberto, com a Terra da Garoa, que combina com ela, como pano de fundo. Nossa modelo encarna a personagem. O clima rock’n’roll é a tradução perfeita da sua personalidade. Sim, ela faria um bem danado a Woodstock – seu guarda-roupa é 90% brechó, sabe tudo de rock e tal. Sacamos da mala de produção um casaco anos 60. E sugerimos vesti-lo sem nada por baixo, valorizando assim seu corpo perfeito. Sem pudor, ela aceita. E emenda: “Não sou nem a mais bonita, também não me acho a melhor. Mas sou muito honesta. Sabia que Alicia significa verdadeira?”, pergunta, sem esperar alguma resposta.
“No mundo da moda é tudo muito blasé, as pessoas são frias. Acho que meu jeito foi conquistando”, soluciona a própria equação. A mistura ajuda: descendente de ucranianos, russos, alemães e italianos, é dessas de linhagem perfeita. “Hoje em dia aprendi a me achar bonita, interessante, mas nem sempre foi assim.” É que, no colégio, ela era a esquisita da turma. “Ninguém queria andar comigo. Até os nerds me boicotavam dos grupos de biblioteca. Me achavam estranha”, revela. Bom, Alicia, nem aí para os colegas pouco abertos de Cascavel, ia para a escola de calça de cintura alta. Isso para não citar o cabelo roxo que, certo dia, sem autorização dos pais, decidiu testar. Tinha 11 anos. “Já tive cinco comunidades no Orkut contra mim.” O resultado? Foi ler para passar o tempo. “Passava os intervalos afundada em livros.” Os cults eram seus favoritos, obviamente.
E a moda nessa história? “Desde que me conheço por gente queria ser top. Mas era muito distante da minha realidade. Aí decidi fazer um curso de modelagem, corte e costura. Era uma maneira de me aproximar desse universo”, relembra. Tinha 12 anos na época. Só não contava com o óbvio: que os seus traços e biótipo chamariam a atenção dos olheiros que, dia sim, dia também, desbravam aqueles lados em busca de lindas meninas, assim como ela. Foi escalada. E lá veio a Alicia (e sua mala exótica) para São Paulo, morar naqueles notórios apartamentos de modelos, com meninas de olhos claros saindo pelas tabelas. O primeiro trabalho foi um comercial de TV. Pânico! “Não sou tímida. Mas a câmera me trava. Nasci para a passarela, essa é a minha paixão.” Pois foi justamente nas passarelas que a carreira da loira começou a vingar. “No começo, pensei em desistir, voltar pra casa. Não rolava muito trabalho, não gostava de morar com um monte de gente, não suporto que mexam nas minhas coisas…” Tudo questão de tempo – pouco tempo, diga-se. Logo em sua segunda temporada, foi a recordista das semanas do Rio e de São Paulo. “Foram 55 ao todo.” Só não fez um.
Pausa para um cigarro. E para os devaneios do zodíaco: “Olha, sou pisciana. Dizem que nós, desse signo, somos sonhadores, vivemos no mundo da Lua. Tenho ascendente em Touro, é meu lado pé no chão”, pontua. Ocorre que, nos explica ela, o ascendente só começa a fazer valer suas características depois dos 30 anos de idade. E como a Alicia tem 18… “Quero mesmo é viajar. Morei um tempo em Buenos Aires por conta de trabalho.” Virou seu lugar favorito no mundo todo. Também é assídua da rota NY, Londres, Paris, Milão. Mas caiu de amores mesmo foi pelo Japão. Agora, vai passar uma temporada na Austrália. Não sem antes traçar outros destinos. “Quero conhecer a Índia e Berlim.” Coisa pra já. “Vivo bem. Não divido mais o apartamento com as meninas. Mas tenho uma roommate.” Quem? “Uma amiga, minha melhor amiga, ela tem 50 anos.” A colega de casa revela muito sobre a personalidade da menina que nunca teve amigas da mesma idade. “Sempre me interessei por gente mais velha. E eles sempre se interessaram por mim.” E assim vai vivendo o agora. “Guardo dinheiro, claro. Mas não me privo. Você não leva dinheiro pro caixão. Só se vive uma vez, afinal.” Linda e segura desse jeito, é natural que as pessoas se interessem pelo status do coração: solteira. E assim pretende ficar. “Tive um namoro longo, três anos. Mas namorar agora vai me atrapalhar. Me relaciono com pessoas”, segue a adepta do “friends with benefits”. “E mais: eu sempre tenho de tomar a atitude. Fora que beleza física não me pega. Não sou boba, por isso preciso de gente que me acrescente. Senão fico sozinha mesmo, oras”, dá a receita. Mas… “A não ser que ache alguém que me pegue de jeito, que me segure.” E a gente só pensando: ninguém segura essa menina.