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Santoro @RG

Uma conversa com Rodrigo Santoro, o Heleno dos cinemas. #RG de março

Sexta-feira (30.03) Rodrigo Santoro falou com RG sobre o seu papel em Heleno, sobre suas técnicas futebolísticas, seu novo chapa Swarzenneger e sua estreia na produção.

Por Jeff Ares

Onde você foi encontrar o seu Heleno?
RS: Veio de muita pesquisa. É um mito. Foi construído através de muitas histórias, de remanescentes, gente que o conheceu e gente que o viu jogar. Ele tem um filho, tem netas, poucas pessoas. Estive em São João Nepomuceno. Também li uma biografia. Foram cinco anos de muita pesquisa.

Trabalhar na construção de um personagem que já existiu é mais interessante do que compor um ficcional?
RS: É simplesmente diferente. Quando já existiu, há referências. Tem muitas fotografias do Heleno, ele é muito criado a partir delas. Tem muitas histórias. Nossa tendência é fazer um pré-julgamento, mas isso não pode estar lá, o público é que deve tirar suas conclusões. De certa forma você tem um compromisso com as referências. Num personagem ficcional você não tem isso, parte do zero.

O fato de também produzir o filme te deu mais bases para compor o personagem?
RS: Produzir foi uma consequência, acabei formando uma parceria com o diretor (o José Henrique Fonseca), que também é meu amigo. Me vi imerso no filme; o Zé Henrique um dia me disse: ‘Você já está produzindo’. Comecei a me envolver além da questão artística. Pra mim foi muito importante, mas a demanda foi muito grande, vira e mexe eu tinha uma função. Acabamos viabilizando o projeto nos minutos finais, com ajuda do Eike Batista.

Muda quando é o ator quem vai pedir dinheiro para a produção?
RS: Ah, você traz mais credibilidade ao olhar do investidor.

Tem algum dissabor?
RS: Tem que tomar muitas decisões, com a menor verba possível, é um jogo de xadrez: não temos dinheiro para 300 figurantes, temos que fazer com 200; não temos copo de champanhe… Quando começamos a filmar eu pedi um tempo.

Você vai seguir produzindo?
RS: Não sei, tem que fazer sentido. O que me interessou foi a produção artística, pensar no elenco, participar da pesquisa… Depende do projeto. Mas eu recomendo.

Você fez uma pesquisa extensa sobre os anos 40 para esse trabalho, não?
RS: Sempre fui fascinado pelo Rio dos anos 40, esse aspecto do filme me atraiu muito. É um Rio que a gente está querendo de volta. O Heleno era uma espécie de príncipe daquela época, foi o primeiro cara a importar um Cadillac, morou no Copacabana Palace, usava ternos tailormade, feitos pelo alfaiate do Getúlio, e tudo com tecido inglês… Ia pra praia de relógio Cartier. Tinha um estilo maravilhoso, aquelas calças altas, bem clássico. Mas tinha uma personalidade oposta. Para compô-lo eu ouvi muito jazz, muita Billie Holiday, era época dos cassinos, das cantoras de rádio… A Billie tá na trilha do filme.

Produzir é um passo para a direção?
RS: Dirigir é abrangente também, como produzir, mas é outra coisa. Mas não sei se agora. Não sei pro futuro… Se eu tivesse muita vontade de contar uma história… Mas eu trabalho com o que eu tenho na minha frente, vou passo a passo. Você tem um caminho.

Que características do Heleno ficaram em você? Ou você se livra de tudo e segue adiante?
RS: É importante conseguir separar. No começo da minha carreira eu ficava lá, um dia inteiro com o personagem na memória, os sentimentos… Agora não. Mas posso dizer que o Heleno melhorou minha cabeçada, minha matada de bola…

Tá recebendo mais a bola na pelada?
RS: Tô passando melhor!… Quando eu era pequeno meu pai me colocou numa escolinha de futebol, mas foi por muito pouco tempo. Agora eu fui aprender os fundamentos. A grande marca do Heleno era a sua elegância, a matada no peito que fazia a bola quase parar, as cabeçadas incríveis, ele subia no terceiro andar… Precisava de um cara assim pra me ajudar, e encontrei: o Claudio Adão, um craque, gentilíssimo.

O que o filme pode ensinar pros garotos que sonham com a vida de boleiro?
RS: Acho que o maior exemplo pra esses meninos é a questão da paixão, de jogar pela camisa. O Heleno era um botafoguense roxo. Jogou em outros times, mas morreu Botafogo. O filme mostra o comprometimento, a seriedade, o profissionalismo. Ele era um radical, tanto é que morreu pelas suas atitudes. Sua conduta e suas atitudes não são um exemplo, mas o importante era no que ele acreditava. Ele jogava pela camisa, não tolerava quem não fizesse o mesmo. Era questão de vida ou morte. Especialmente no mundo de hoje, comprometido com grana, esses valores são muito valiosos. E enlouqueciam a torcida.

Você torce pra que time?
RS: Sou vascaíno.

E interpretar um ídolo do Botafogo não dá problema?
RS: Não tem o menor problema, é tudo alvinegro.

Dá mais prazer fazer um papel construído, como este Heleno, num filme brasileiro de baixo orçamento, ou fazer um papel menos denso num blockbuster hollywoodiano?
RS: Normalmente, minha dedicação é a mesma, num Shakespeare ou num Blockbuster pipoca. Não é justo comparar uma coisa com a outra. São experiências diferentes, que me acrescentam de um jeito ou de outro. Quando estou fazendo um filme de ação, tem uma curiosidade, uma diversão… O Heleno foi um mergulho mais intenso. Mas considero tudo importante, cada vez você aprende uma coisa diferente. Quando fiz o Che, trabalhei com os caras que sempre foram referência, o Soderbergh, o Benicio Del Toro. Fiquei dois meses ali filmando. Como experiência, foi imensurável. São várias formas de aprender.

O que você filmou lá fora recentemente?
RS: Filmei três coisas no fim do ano passado. O Que Esperar Quando Você Está Esperando, que é inspirado na Bíblia das grávidas. Também o Hemingway e Gellhorn (ele contracena com Nicole Kidman e Clive Owen), para a HBO, que parece que vai estrear nos cinemas na América do Sul. E um filme de ação, Last Stand, a volta do Schwarzenegger.

Uau, Swarzenneger, quantos você mata?
RS: Dei muito tiro.

De bazuca?
RS: Não, bazuca ficou pro resto da galera, meu personagem usa pistola. É um rebelde do Novo México, um cara que tinha tudo pra dar certo na vida… Mas tem uma reviravolta, que eu não vou contar. O Swarzenneger é o xerife e dá uma força pra ele.

E como é trabalhar com o cara?
RS: Ele é maravilhoso, generoso, divertido.

Você segue viajando pelo mundo. Mas a gente anda vendo muita foto sua, de paparazzi, surfando no Rio.
RS: Toda vez que eu to aqui eles pegam mesmo, não perdoam… Eu viajo bastante, sim. Mas tô satisfeito. Viajar tem seu lado maravilhoso.

Mas pra namorar complica, hein?
RS: Pra namorar, pra ver o sobrinho, pra qualquer tipo de relação…

E o assédio? Tá preparado pro assédio das “Maria-Chuteira”? É pior que assédio de fã…
RS: Totalmente verdade! Mas não sou jogador, melhorei bem o meu nível de futebol, mas elas gostam mesmo é do Neymar.

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