Top

O neto do Jânio vai se candidatar: entrevista

RG entrevistou Jânio Quadros Neto, amigo de Bono e Madonna e candidato a político

Por Jeff Ares

Amigo de Bono, Madonna e Bill Clinton, Jânio Quadros Neto é um cicerone deluxe das celebridades. Agora, vai usar suas habilidades para ingressar na política.

Com um forte sotaque americano, o economista Jânio Quadros Neto, nascido em Houston, nos Estados Unidos, se tornou um amigo leal e o porto seguro de incontáveis celebridades que aterrissam nestes trópicos. Em suas últimas passagens por aqui, é notório que Madonna só dirigia a palavra a ele. Bono foi apresentado a Lula por Jânio. Luciano Pavarotti lhe reservava um lugar na primeira fila de seus shows. Justin Bieber foi jogar golfe com ele, em Itatiba. Sting, Rihanna, os caras do Red Hot Chilli Peppers, Katy Perry… A lista de stars ciceroneadas pelo neto do ex-presidente é incontável. Invejável. Mas como, e por que? “Em 2004, eu conheci o Bill Clinton na casa de um amigo, e a partir dessa amizade conheci o Bono, em outra ocasião. Na turnê que o U2 fez no Brasil, em 1998, eles tiveram vários problemas com a produção, não ficaram satisfeitos, houve um processo, até saiu na imprensa. Aí, em 2005, no Live Aid de Londres, eles me pediram para ajudar com os trâmites legais de passagem, segurança, escolta, hotel…”. Deu tudo certo. “Tenho acesso a contatos políticos para conseguir evitar problemas, evitar tumultos, garantir a segurança dos artistas e dos fãs”, explica. “Consigo assegurar que sejam destinada escoltas policiais, por exemplo. Como se diz nos Estados Unidos, cuido para que ‘the shit doesn’t happen, and, if it happens, clean it quickly’, algo como “para a merda não acontecer, e, se acontecer, limpá-la rapidamente”. Jânio fala sobre as operações que cercam os trajetos dos famosos como um estrategista militar. E não nega seu interesse pelo assunto. “Um dos melhores amigos do meu pai era policial nos Estados Unidos, e eu fiz alguns cursos por lá. Quero agora fazer um de krav maga”, o sistema de combate usado pelas forças especiais de Israel; um dos adeptos é o chefe de segurança de Madonna, que já foi o chefe de segurança do ex-premiê israelense Ariel Sharon. Diz que ele quer vir ao Brasil para dar palestras sobre o assunto.
Jânio se tornou, então, uma espécie de assessor especial, contratado pelas  produtoras de shows, muitas vezes a pedido dos artistas. E é recomendado, entre eles: “Um vai falando para o outro, e eles sabem: os defendo com unhas e dentes”. Temeroso, ele se policia para não dizer o que não deve. Seu relicário de histórias é invejável, já que desfruta de uma proximidade que faria tremer de regozijo  qualquer colunista. “Assinei um contrato de confidencialidade com vários deles”, diz, justificando a mudez. Madonna, em especial, parece ser a mais protegida. “Não posso falar nada sobre isso”, fecha-se, com os olhos cerrados. “Tenho que tomar cuidado”. Só diz que foi ele quem sugeriu que a popstar se encontrasse com Sergio Cabral. E que ela então manifestou o desejo de que ele a encontrasse no camarim do seu show no Rio, em 2008. “Achei que fosse brincadeira, mas aconteceu”. E o encontro com o Eike? “Esse não fui eu, foi o governador quem  sugeriu”. Deslumbre? “Não quero parecer esnobe, mas já conheci muita gente famosa na vida, o Príncipe Charles, o Príncipe William… Não me surpreendo mais, quando você vê um artista na televisão, aquilo é tudo uma produção”. Mas Bono, ao que parece, causa mais emoção. “É um grande ídolo. Em 2006, falei para ele: ‘Você não pode vir ao Brasil sem conhecer o Lula’. Ele é filho de um carteiro, se identificou com o presidente. Nessa semana mandou um e-mail para ele quando soube do câncer”, conta, como se estivesse falando do Zezinho da esquina. “Ele representa um símbolo para quem quer melhorar o mundo”. E ele parece querer, também. Jânio está filiado ao PSD, o recém-fundado partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. “Querem que eu me candidate a vereador, vamos ver no futuro”, entrega, já vislumbrando as eleições de 2012. “Gilberto é meu amigo pessoal, estou desenvolvendo um projeto político”. Quais as bandeiras? “A corrupção no Brasil é sistêmica. A mãe é o sistema eleitoral. O pai é o sistema partidário. O oxigênio é o estado burocrático ineficiente”. E segue: “Precisamos reinventar o Estado, fazer a reforma tributária”. E preconiza: “O que aconteceu na Grécia pode acontecer no Brasil em 20 anos”. Do alto de sua formação acadêmica, cita Delfim Netto, seu professor, para defender outra de suas bandeiras: “A parte mais sensível do corpo humano é o bolso”.

Do avô, o célebre, Jânio diz que herdou “a obstinação em acreditar que as coisas podem se tornar mais eficientes”. Tece loas: “Os discursos dele eram mais interessantes que novela das oito, diferente dos políticos de hoje, muito monótonos”. E observa: “Os políticos hoje têm medo da imprensa. A imprensa era manipulada por Jânio de uma forma muito interessante”. A julgar por seu poder midiático, o Neto bem que pode levar adiante a retórica do avô.

Mais de