Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
Azul royal, turquesa, melão. Suzy Menkes com as novidades abaixo da cintura.
Quinze anos atrás, “Cores Primárias” significava política, na forma do romance escrito anonimamente por Joe Klein. Mas com a época das primárias americanas se aproximando, a frase ganhou outro significado: calças com cores vivas, em tons quentes, disponíveis em roupas não apenas para as férias. Este é o primeiro período na memória recente em que cores vivas chegam ao guarda-roupa convencional masculino abaixo do cinto. Lá estavam elas nas passarelas para o outono – cada par mais vivo que o outro. Calças em cor de gengibre vieram da Band of Outsiders; melão maduro da D&G; laranja vivo da Bottega Veneta. E se esse esguicho violento pareceu contrastar demais com uma parte de cima neutra, sempre há a possibilidade do colorido total. A Dior Homme teve um terno escarlate da cabeça aos pés, e a oferta de Jil Sander foi um coquetel de coral e laranja. Um terno com cor berrante é um grande fashion statement, e é difícil acreditar que a moda vá pegar no inverno no mundo ocidental. Mas as calças podem realmente ser para valer. Elas começaram no ano passado como versões mais elaboradas do jeans, e então ganharam um look mais sofisticado de grifes como a Acne, que fez calças em azul royal, turquesa e roxo nos desfiles do outono de 2011. Pode ser um fluxo lento de estilo, mas o que é usado nesta estação no final de semana pode ainda invadir os dias de trabalho.
Recentemente vi uma exposição de moda que vai até 9 de outubro no Château de Versailles, na França, onde roupas dos séculos XX e XXI by Martin Margiela, Alexander McQueen e Vivienne Westwood ficam em equilíbrio lado a lado com trajes do século XVIII. Esqueça os vestidos de baile enormes: são as casacas em cores mozartianas, coletes bordados, meias-calças chiques e sapatos de fivela que estão incríveis – ao menos para as mulheres. Roupas masculinas nunca de fato escaparam da grande renúncia do século XIX de qualquer coisa colorida, decorativa e divertida. Admito que o bom senso sugere que a mudança de estilo de vida exige roupas diferentes: por esta razão a peruca cinza-prateada virou o terno Zegna cinza-prateado. Mas por que o homem do século XX tinha de ser tão insípido é um enigma da alfaiataria. Deve ter havido uma tabela de cores do rock/hip-hop durante os 70’s e 80’s. Mas a maioria dos homens era tão tímida que essas cores foram deixadas para suas esposas e namoradas para apresentarem elegantes suéteres de cashmere em cores como damasco e lilás, em um esforço de convencer os céticos de que tons pastel poderiam ser heterossexuais. Essa foi a mesma época em que a gravata se tornou uma narrativa na sala de reuniões – todos aqueles divertidos e coloridos animais da Hermés (pense em coelhinhos) para provar que os homens podiam ser deliciosamente ousados.
A moda masculina avançou um pouco desde esse delicado início – mas ainda pode demorar para calças laranjas dominarem o escritório. Acho que as calças coloridas deveriam se tornar a meia-calça extravagante do guarda-roupa masculino: uma chance de desafiar a sobriedade sem rejeitar a formalidade da jaqueta convencional ou do suéter casual. Há um modelo para isso na Inglaterra: calças moleskin. Quando criança, eu achava que as calças com superfície aveludada e macia realmente vinham da pele de criaturas subterrâneas, as toupeiras – mole, em inglês – que empilhavam pequenas pirâmides de terra em nosso gramado. Mas o tecido de algodão é na verdade uma adaptação da moda masculina do veludo: mais resistente, durável, mas frequentemente com cores vivas. Calças de moleskin simbolizavam jovens bem nascidos gritando por atenção.
O sexo está, é claro, na alma das calças extravagantes. Por que algum homem usaria vermelho-sangue, verde-pavão ou laranja-placa-de-aviso-de-perigo a menos que fosse para chamar a atenção para sua metade inferior, para sua masculinidade? Não me lembro de nenhuma das calças de grife desse inverno ter a frente pregueada, ser rígida e reta – exceto talvez na Dior Homme, usada com chapéu Amish alto. Havia calças com cavalo baixo, mas essas eram peças casuais e tiravam suas cores de estampas étnicas. A maioria das calças coloridas era justa, simétrica e com caimento de alfaiataria. Se a nova moda brilhante – que incluiu alguns casacos vivos da Burberry Prorsum e Raf Simons — sobreviver ao inverno cinzento e austero, há outro choque de cores guardado para os homens na próxima primavera: o revival da camisa havaiana. Desde que Miuccia Prada surgiu com peças travessas com estampas tropicais para o verão de 2011, os homens vêm comprando e usando a coleção feminina. Uma camisa havaiana com calças coloridas seria definitivamente um voto para as primárias.