Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
PARIS — Homens de saias ou homens de ternos? Essa tem sido uma discussão pelo menos desde os andróginos anos 80. Os mesmos desafios sempre surgem a cada estação de coleções masculinas.
Mas o jogo de gêneros nos desfiles de primavera 2012 em Paris foi mais intrigante. Os estilistas olharam para um mercado global que inclui culturas — e não apenas a Escócia — em que a linha entre trajes masculinos e femininos é fluida. E as atitudes no século XXI são muito mais abertas à ideia de que o áspero e o macio podem coexistir tanto no espírito de um homem quanto em seu guarda-roupa.
A dicotomia foi perfeitamente expressada no desfile da Lanvin, em junho. Começou com música marcial e looks militares duros, mas por fim se dissolveu em camadas de suavidade. Houve uma frequente e deliberada combinação de atitudes opostas – cabelo curtinho estilo exército com franjas mais compridas, botas ao lado de sandálias e tons escuros e borrados tornados mais leves ao lado de cores vibrantes. Os únicos ternos clássicos foram mostrados em rosa, turquesa, cereja e roxo.
“Não há nada mais sexy do que um homem de uniforme – isso é testosterona para mim”, disse Alber Elbaz, o estilista supremo da Lanvin, no backstage, enquanto Lucas Ossendrijver, estilista de moda masculina da maison, falava sobre as diferentes texturas de túnicas de couro e jaquetas de crepe ásperas. A diversidade da vida moderna estava no centro dessa coleção, com o conceito de que o mesmo homem pode usar um casaco sóbrio marrom-terra com zíper num dia e um blazer formal com leggings no dia seguinte.
“A vida não é um desfile de moda”, disse Mr. Elbaz. Capturar facetas diferentes da masculinidade fez com que o desfile parecesse estar em sintonia com a vida moderna, se destacando na temporada de moda masculina internacional.
Dois outros desfiles foram vencedores por sua definição absoluta de virilidade: Givenchy, onde o nível de testosterona subia enquanto os homens caminhavam usando saias e blusas com estampas ousadas, e Raf Simons, onde a forma e a função vieram juntas em uma linha gráfica de quadrados.
O confronto foi visto mesmo na escolha da estampa floral: Riccardo Tisci na Givenchy tinha camisetas oversized com estampas de strelitzia, com o estame apontando sugestivamente para cima. A flor de Raf Simons era um galho de hibisco havaiano em cores vivas colocado diagonalmente na frente de um suéter.
E os contrastes continuaram:
Os modelos com cabelo curto e arrumado no desfile de Raf Simons apareciam contra uma escada rolante metálica de um banco – para melhor delinear as linhas elegantes e limpas de uma alfaiataria que o estilista nunca fez melhor.
Na Givenchy, o público pressionou seu nariz coletivo contra as janelas do Pompidou Center, enquanto estampas florais violeta e verdes, grandes como se estivessem em uma pintura de Georgia O’Keeffe, passavam rapidamente.
“Surfistas no Havaí e Matthew Barney”, o artista, foram as inspirações, disse Mr. Tisci, que paralisou a turminha da moda e deu uma levantada poderosa na outrora clássica casa de Givenchy.
A performance foi incrível, mas monótona. Saias masculinas não são mais um grito de rebeldia desde que Jean Paul Gaultier as ofereceu pela primeira vez 30 anos atrás. A alfaiataria de Givenchy foi afiada e convincente, tornada mais fresca com uma silhueta esbelta e um terno em tom verde-folha. Mas o desfile foi tão condensado que deixou uma sensação de precisar de algo mais.
Simons estava em seu auge, fatiando e costurando quadrados xadrezes em cores improváveis como malva com verde. Os xadrezes foram trabalhados em um casaco arredondado, a geometria de linhas retas acentuadas ainda mais com costuras. O estilista reforçou seu estilo claro e limpo com blusas de couro em cores vivas sobre calças delgadas e com motivos florais cuidadosamente colocados. Foi uma aula-mestra de “menos é mais”.