Por Suzy Menkes, do International Herald Tribune
PARIS — Céline é a marca do momento – e merece ser. A maison produz um guarda-roupa incrível para a mulher moderna, para quem o “clássico” é um anátema. (…) Em sua impecável coleção de outono para a a Céline, Ms. Philo desenhou roupas com linhas ousadas, combinando casacos longos e elegantes com suas características calças com listras de smoking. Na última estação, Philo trouxe a habilidade artesanal. Desta vez, deu ao minimalismo uma nova vida fashion, condensando tecidos, cores e texturas em suas linhas clean. Na passarela, o piso de parquet granulado com madeira, com inserções de faixas de mármore colorido, sugeriu o interior de um Bentley ou Rolls Royce luxuoso e antigo. Philo transpôs essas estampas de granulado de madeira para uma túnica elegante, a linha de um painel de carro para pronunciadas pregas de saia, e detalhes em couro para os fechos de um casaco. Ela também usou cores de maneira ousada, mas com reservas: um casaco laranja, uma pele cor de marrom-ferrugem enfeitada com um lampejo de vermelho ou um rosa feminino. Se havia lá um sopro da estética de Helmut Lang na primeira parte da coleção, a cor tratou de dissipar isso. “É a sensibilidade de um carro, e eles são tão poderosos – e essa coisa menino/menina”, disse Philo. Ela habilmente fez a plateia acreditar que aquelas eram roupas para mulheres que se sentam no banco do motorista.
Enquanto isso, será possível que, quase 40 anos depois que Luis Buñuel satirizou a classe média alta francesa, no seu O Discreto Charme da Burguesia (1972), aqueles valores de classe antiquados poderiam estar voltando? Jean Paul Gaultier, um produtor do estilo downtown, chamou sua coleção de “Bourgeoisie Sans Age” ou “Burguesia Sem Idade”, e mostrou um refrão espirituoso sobre a idéia de uma grande dame madura com chignon estilo colméia cinza-prateado. Talvez porque tenha desistido de desenhar a linha discretamente elegante da Hermès, Mr. Gaultier decidiu se desviar de seus desfiles frequentemente selvagens e urbanos para sua própria grife (a última estação, por exemplo, trouxe uma memorável brincadeira punk). Agora ele está adotando a mesma classe que os estudantes franceses em rebelião estavam determinados a derrubar em 1968, quando Gaultier era adolescente. Para o outono, o estilista mostrou um casaco camelo com corte perfeito que virava pele na altura dos quadris. Um trench clássico recebeu tratamento semelhante, e um casaco acolchoado de couro também se transformou em uma saia de pele. Mantendo a vibe estilizada da década de 1960, o estilista trouxe uma modelo com cara esnobe jogando jaquetas e casacos na passarela – como se esperasse que uma empregada viesse atrás para pegá-los. Havia uma sexualidade oculta percorrendo a elegância geral da coleção, provando que o look Gaultier não se tornou de modo algum sério e adequado.
Enquanto Yohji Yamamoto se preparava para sua grande retrospectiva no Victoria & Albert Museum, em Londres, talvez ele tenha decidido que não havia mostrado o bastante daquilo que os homens (e talvez as mulheres) têm em mente: o boudoir. A malha foi um tema recorrente da moda outono, mas Yamamoto levou o conceito a um novo patamar, com vestidos em rede, meia calça de renda e um tema geral de underwear visível, incluindo armações em camadas sob trajes em estilo vitoriano. Essa demonstração de estados variados de se vestir e despir formou um desfile agradável. E durante alguns momentos até capturou a alma do estilo Yohji Yamamoto, como a simples linha das costas de uma modelo perfeitamente personificando a sensação de elegância graciosa e moderna.