Top

O novo síndico da Bienal

A repercussão do anúncio de um venezuelano à frente da curadoria da Bienal de São Paulo

Há uma turma das artes tupi que adora fazer barulho para proteger a identidade artística nacional. Com Policarpo Quaresma no peito, bradaram raivosos contra as duas gestões do alemão Alfons Hug à frente da Bienal de São Paulo, questionando à boca pequena o arsenal de um não-brasileiro para uma mostra de vocação nacionalista. Vociferaram contra a curadoria de Adriano Pedrosa no Panorama da Arte Brasileira de 2009, no MAM, quando o curador da próxima Bienal de Istambul privilegiou obras de artistas estrangeiros que traduziam suas ideias sobre o país canarinho. Na mesma mostra, em 2005, o curador cubano Gerardo Mosquera enfrentou narizes torcidos para a seleção – a primeira, até então – de obras de estrangeiros ao lado das panorâmicas daqui.

As questões de fronteira são lugar-comum na arte contemporânea – não só nas obras, mas nas discussões, no entorno, no câmbio… Por isso este site recebeu com atenção a nomeação de Luiz Pérez-Oramas para a curadoria da próxima Bienal de São Paulo, a de 2012. Neste 14 de fevereiro, o venezuelano foi confirmado para levar adiante o hercúleo trabalho e colocar de pé a maior exposição de arte do país, que em 2010 finalmente superou problemas financeiros graças à uma condução austera – mas agressiva – de um novo presidente, Heitor Martins.

Depois de privilegiar o olhar de Moacyr dos Anjos e Agnaldo Farias, curadores brasileiros muito experientes e capazes, a Fundação Bienal dá voz a um dos maiores experts em arte latino-americana no mundo – e um reconhecido boa praça. Tem bom trânsito entre os players de arte aqui no Brasil, já foi um dos curadores estrangeiros convidados da 24ª Bienal de São Paulo, em 1998, e é um confesso fã do trabalho de Mira Schendel – artista plástica suíça radicada no Brasil que ganhou uma retrospectiva importante no MoMA, o badalado museu norte-americano onde Oramas ocupa a cadeira de curador de arte latino-americana. Para atuar na nossa Bienal, aliás, ele terá uma licença parcial do museu – assobiar e chupar cana não está entre as suas especialidades.

O cartaz do venezuelano, até aqui, é mais forte do que qualquer brado nacionalista. RG não ouviu voz dissonante – há ao contrário certa comoção. O nome do Oramas deve atrair mais atenção internacional para a mostra brasileira, o que, em miúdos, se traduz em $. E arte, amigos, arte é para emocionar, mas é também para faturar.

Mais de Cultura