Lembra que RG te mostrou aqui a estreia da peca Inverno da Luz Vermelha ? A convite dos produtores Beto Amaral e Pedro Igor Alcantara, esse site foi assistir a primeira montagem de Monique Gardenberg, depois de tres anos longe dos palcos. Co-dirigida por Michele Matalon, a peca adapta uma obra de Adam Rapp, dramaturgo americano comprometido com historias factiveis, desses tempos. No palco, tres personagens vivem uma noite daquelas intensas em Amsterdam, cidade que inspira cuidados… A luz vermelha do titulo e uma alusao ao red light district, aquela regiao da cidade holandesa que escancara o sexo na vitrine. E de la que vem a personagem de Marjorie Estiano, um dos vertices do triangulo amoroso que se abate sobre os protagonistas. Num cote francesinha, a atriz te seduz numa dancinha burlesca de corar depravados. Noutro vertice ha Andre Frateschi. O Bowie da pauliceia defende, brilhante, um canalha desses bem queridos, do tipo que ainda manda flores.
Finalmente, ha em cena Rafael Primot. Alegoria da solidao, o personagem do jovem ator e o catalisador das emocoes todas, o fio (desencapado) que conduz a narrativa. Primot tem folego. E faz um registro muito natural. Da ate pra acreditar; talvez ate aquele momento em que ele desmaia – desmaios sao sempre a lembranca de que, ok, e ficcao. Mesmo assim, com um desmaio a cumprir, Primot e o destaque da montagem, um jovem ator para prestar atencao. O tal desmaio e outros assuntos pautaram o papo que RG foi ter com o cara.
Primot recebeu RG antes de um ensaio. Levou a gente para tomar um cafe no camarim. Se dispos a trocar de camisa e vestir uma coisa mais alegre (ideia dele) pro nosso retrato. Tudo calmo, sorrindo. Sentado no teatro vazio, contou da maravilha de fazer uma peca com a Monique. Falou de futuro e passado. Que vem de Itapeva, cidade do interior de Sao Paulo, onde mantem um festival de cinema. Contou que saiu de la aos 15 anos para fazer o que “sempre soube”. Cacula de uma familia de medicos, “obedeceu o que queria”: fez Antunes, Ze Celso, cinema na FAAP. Escreveu pecas, roteiros. Dirigiu curtas, ganhou premios. Nesse ano, aos 29, levou a honraria maxima do teatro. Um premio Shell pelo texto do espetaculo O Livro dos Monstros Guardados. Coisa serissima. “Escrever e mais arduo. Fico ruminando, ruminando… e mais solitario, pelo menos ate o momento em que voce da pra alguem ler”. O cote autor, por ora, deve ficar ali na gaveta, enquanto Primot se dedica a peca e aos trabalhos paralelos. Antes daqui, fez uma novela na Record – era o cabeleireiro gago de Bela, A Feia. Escapou do cliche e defendeu o papel, numa boa. Encerrado o contrato, fez uma participacao na minisserie As Cariocas, de Daniel Filho. “A gente se deu muito bem”, derreteu-se, sem antes confessar a paura. Daniel e o cara. E deve (teoria RG) ter se projetado no Primot, que e multicoisas, como ele. Como Daniel um dia, Primot sente agora o primeiro gosto deste mundo Global, um universo de midiaticas possibilidades. Vai encarar o Arquivo Confidencial do Faustao? “Cara, sou contra o preconceito. To super a fim. Quero escolher meus papeis pelo personagem”. Seja la onde morem.
E tem o cinema. Depois de dois anos de captacao, Primot espera filmar 2 Macacos +1, seu primeiro longa – roteiro e direcao. Que especie de titulo e esse? “Tem um pouco daquela imagem do macaco que nao ouve, o que nao fala, o que nao ve… Sao tres amigos vivendo historias curtas, urbanas. Na verdade se chamava 3 Macacos“. E por que mudou? “Porque um cineasta turco fez um filme com esse nome. Foi pra Cannes. Eu fiquei rezando pra ser um filme ruim, mas o filme e muito bom…”. Parentesis: levou o premio de direcao do festival frances. “Ai mudei o nome, ne”. No elenco, o proprio mais Debora Fallabela, Sandra Corveloni, Zeze Polessa, Barbara Paz… Turma boa. “E um filme de baixo orcamento. Uma luz saturada, meio onirico”, convida. A gente aceita.