Você já deve ter experimentado em algum domingo da sua vida aquela sensação de que qualquer saída da cama tem por destino a geladeira, para comer ou “beliscar” alguma delícia. Influenciados pelo tédio e “dia chato”, buscamos algum refúgio na comida em muitas oportunidades e, nessa busca frenética pela satisfação do prazer do apetite, encurtamos a distância entre as refeições – exageramos nas calorias diárias.
Tudo bem isso acontecer uma vez ou outra, mas existem pessoas que sentem fome todos os dias, o tempo todo. “A fome é conceituada como a sensação fisiológica que faz o organismo procurar e ingerir alimento para satisfazer as necessidades diárias de nutrientes. O ato de ingerir alimentos é mediado por uma série de sinais e estímulos. Entre eles estão a redução da quantidade de nutrientes como carboidratos, proteínas e gorduras ou até a diminuição da temperatura corporal. Uma pessoa come para obter nutrientes e energia para o organismo e sua falta pode levá-la a procurar o que comer. Porém não é preciso diminuir totalmente o estoque de nutrientes do organismo para que um indivíduo sinta fome, pois o organismo é capaz de detectar variações mínimas na concentração de nutrientes e gerar sinais e estímulos que vão desencadear a ingestão de alimentos”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). “Além disso, a vontade de comer depende de outros fatores, como hábitos sociais, sentimento de vazio, ansiedade, depressão, higidez ou doença física, oferta ou restrição de alimentos, comemorações etc.”, acrescenta a médica.
Desde bebê, uma pessoa é alimentada em função de outros fatores que não simplesmente a fome. Segundo a médica, no adulto, o ato de comer sofre influências como disponibilidade mais ou menos abundante de alimentos, a aparência deles, a associação com motivos comemorativos, festivos ou negociais, estar ou não acompanhado etc. Mas é importante ficar de olho quando o apetite dá sinais de que há algum descontrole no corpo. “Identificar esses gatilhos, que podem ser emocionais, ambientais ou até por influência de medicamentos, é fundamental para buscarmos um meio para diminuir os excessos que podem comprometer a saúde”, afirma a médica nutróloga. Abaixo, ela lista 15 motivos para o seu apetite estar “a mil”:
A princípio, seu corpo acaba com a fome com um hormônio chamado adrenalina. Mas se suas preocupações persistirem por um tempo, seu sistema aumenta os níveis de outro hormônio, o cortisol. Este pode fazer você querer comer tudo à vista. “O chamado apetite emocional pode ser uma resposta ao estresse. O hormônio cortisol causa desejo por comida altamente energética. Os hormônios do estresse fomentam também a formação de células adiposas, que dão mais espaço ao corpo para armazenar energia”, diz a médica. Controlar o estresse é fundamental, já que, quando ele diminui e os níveis de cortisol caem, o apetite geralmente volta ao normal.
A comida pode fornecer prazer imediato e o principal elemento envolvido nessa sensação é um neurotransmissor chamado serotonina. “Alimentos mais calóricos, que produzem rápido aumento de energia, podem liberar mais rapidamente esse neurotransmissor, que estimula as mesmas áreas do cérebro que se ativam com o vício em drogas. É por isso que pacientes depressivos tendem a fazer opções alimentares mais calóricas. Observar esse fato é importante para buscar a ajuda correta de um psicólogo ou psiquiatra, uma vez que o prazer que a comida gera é passageiro e logo depois vem o sentimento de culpa, muito característico em pacientes com distúrbios alimentares”, diz a Dra. Marcella. Para identificar esse problema, tente separar a fome fisiológica do refúgio que o alimento oferece e faça uma pergunta a si mesmo: “Que vazio é esse que eu quero preencher com toda essa comida?”.
Às vezes, quando você pensa que precisa comer, na verdade, está desidratado. Então, talvez tente beber um pouco de água primeiro. Se ainda estiver com fome, isso permite que você saiba que pode precisar comer alguma coisa de fato, mas como bebeu água, é menos provável que você abuse e coma demais.
“Quando você come carboidratos, doces e alimentos ricos em amido, como rosquinhas, ou refrigerante comum, eles enviam muito açúcar para o seu sistema ao mesmo tempo. Assim, seu corpo libera o hormônio insulina, que ajuda as células a usá-lo como combustível ou armazená-lo para mais tarde. Mas essa inundação de açúcar pode fazer com que seu corpo produza mais insulina do que você precisa. Isso pode diminuir muito o açúcar no sangue e deixá-lo com fome”, afirma a médica. Esse é um mecanismo perigoso e que pode influenciar no aparecimento de doenças como diabetes e obesidade, uma vez que, mesmo já tendo se alimentado, ainda há um estímulo para comer mais.
Esta condição significa que seu corpo tem um problema de energia. Você pode ficar com fome porque seu corpo pensa que precisa de mais combustível. Mas o verdadeiro problema é que você tem problemas para transformar alimentos em combustível. “Polifagia” é a palavra usada pelos médicos para fome extrema e pode ser um sintoma de diabetes. “Nesse caso, você também pode perder peso, urinar mais e se sentir mais cansado. Fale com o seu médico se tiver algum destes sintomas”, afirma.
O seu médico pode chamar de hipoglicemia. Isso significa que não há combustível suficiente ou glicose no sangue e pode fazer você se sentir cansado, fraco ou tonto. Isso pode acontecer se você não comer há mais de algumas horas. Se você tiver sintomas, seu médico pode sugerir que você fique de olho no açúcar no sangue e coma carboidratos complexos quando estiver baixo. Você pode precisar comer um pouco melhor ou caso seja diabético, seu medicamento pode precisar ser ajustado para impedir que aconteça.
Enquanto algumas mamães se sentem enjoadas demais para comer muito nas primeiras semanas, outras podem sentir fome. “Elas também podem desejar novos alimentos ou sentir-se mal ao pensar em comer coisas que costumavam amar”, afirma a Dra. Marcella. Se você acha que esse pode ser o motivo da sua fome, um kit de teste da farmácia pode lhe dizer se é esse o caso. Se for, consulte o seu médico para confirmar os resultados.
Quando você devora sua comida pode não dar tempo suficiente ao seu corpo para perceber que está cheio. “O grande problema de comer rápido demais é que algumas pessoas só conseguem parar quando realmente sofrem uma distensão abdominal. Fazer isso com frequência pode resultar em problemas gastrointestinais como gastrite, refluxo, azia, flatulência, entre outros”, diz a médica. Comer devagar também é mais gratificante e você come o suficiente. Faça pequenas mordidas, mastigue bem e aproveite a comida. Dê cerca de 20 minutos e veja se você ainda está com fome.
Os cientistas realmente cunharam um “índice de saciedade”, em que alimentos de melhor classificação satisfazem melhor sua fome pelas mesmas calorias. Por exemplo, batatas assadas satisfazem muito mais que as batatas fritas.
Erro muito comum em quem está de dieta com restrição de alimentos, privar-se de comer algo pode ser uma armadilha. “Nenhum alimento isoladamente tem o poder de jogar por água abaixo todos os seus ganhos de uma rotina saudável. Se você tem vontade de comer um chocolate por exemplo, você pode comer, mas com moderação. Tentar fazer um ‘brigadeiro fit’ ou usar pasta de amendoim para substituir pode não matar sua vontade e fazer você continuar a comer, na busca da satisfação”, diz a médica. Quantas vezes você não quis comer um sorvete, mas com medo de engordar tentou uma banana, não se satisfez, passou pelo chocolate e terminou no sorvete, porque viu que não tinha jeito? Pois é, também é necessário se permitir.
Talvez você tenha visto um anúncio sobre sorvete ou cheirado biscoitos recém-assados enquanto passava pela padaria do mercado. Isso pode ser o suficiente para fazer você querer comer, quer seu corpo esteja com fome ou não. Tente perceber esses gatilhos e depois decida o que você fará. “O olfato exerce um papel fundamental na alimentação. O olfato é um dos sentidos químicos; o outro é o paladar. Embora pensemos nos dois sistemas sensoriais como separados e distintos, ambos estão intimamente ligados”, afirma a nutróloga.
Se você tiver problemas de tireoide, isso pode deixá-lo cansado, nervoso, mal-humorado e com fome o tempo todo. Fale com o seu médico se detectar algum destes sintomas. Geralmente é necessário acompanhamento e tratamento médico.
Alguns medicamentos podem afetar seu apetite. Isso inclui alguns que são usados para tratar depressão ou transtornos do humor, juntamente com certos anti-histamínicos, antipsicóticos e corticosteróides. Informe o seu médico se estiver com mais fome depois de iniciar um novo medicamento. Mas não pare de tomá-lo por conta própria.
A falta de sono pode alterar o equilíbrio dos hormônios da fome (leptina e grelina) de uma maneira que pode fazer você querer comer mais. Também pode aumentar a probabilidade de você encontrar lanches com mais calorias e mais gordura para satisfazer esse desejo.
Se de repente, você passou do estágio inicial de sedentário para o de atleta amador, se matriculou (e está indo) na academia, na natação e no tênis, é normal que você sinta mais fome até seu organismo começar a se acostumar. Os primeiros dias são mais terríveis, mas depois, com a ingestão adequada de nutrientes, o corpo se acostuma.
Por fim, a médica lembra que os mecanismos de fome e saciedade têm grande impacto na saúde do organismo, pois deles dependem a ingestão de nutrientes, para a manutenção do metabolismo e também as consequências pela falta ou excesso do consumo alimentar. “Procure ajuda médica para orientação ideal de um plano alimentar de acordo com suas necessidades”, finaliza.
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