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Funk italiano

Independente e irreverente, Lapo Elkann é herdeiro da dinastia mais importante da Itália. Ícone de uma nova geração, transformou seu estilo em business e hoje comanda uma corporação que tem seu DNA. RG revela aqui o que é que o ragazzo tem

por Dudi Machado

fotos Michael Rogers

Passar uma tarde com Lapo Elkann é como estar no front de batalha, na mira de uma metralhadora de ideias. O italiano dispara certeiro, direto no alvo, em tudo o que faz. A começar pela escolha dos looks que vai usar em nosso ensaio. “Não perco tempo. Sei do que gosto e do que não gosto. É importante na vida ser humilde e ouvir, mas é essencial ter suas próprias opiniões e sustentá-las”, começa o herdeiro dos Agnelli.

“Minha regra de elegância é: ser sempre você, não interessa o quê.” E o Lapo, naquele dia, era no mínimo uns dez ternos, vários pares de sapatos e tênis, moletons, camisetas e uma infinidade de modelos de óculos, relógios, lenços… mais camisas com uma pequena bandeira da Itália bordada, sua marca registrada. Com maestria, ele espalha tudo caoticamente pela cama da suíte no Copacabana Palace, onde nos recebeu. E, para espanto meu e do fotógrafo e fashion expert Michael Roberts, edita tudo com precisão cirúrgica: olha, escolhe, veste… tudo está perfeito em cinco minutos. Qualquer um levaria horas e ainda sairia amarrotado, com o nó da gravata fora do lugar. Já o Lapo… faz umas oito trocas e nem parece que fez nada.

Essa tal confiança, aliada ao que em italiano se chama sprezzatura – algo como parecer sempre perfeito sem demonstrar nenhum esforço – é o segredo do seu estilo, aprovado e premiado por inúmeras publicações no mundo e por gente como Tom Ford, que, em recente entrevista à jornalista americana Tina Brown, o elegeu como o homem mais elegante do mundo. Título que não surpreende. Afinal, quem sai aos seus não degenera. No seu caso, a máxima não poderia ser mais verdadeira.

Um dos netos de Gianni Agnelli, rei sem coroa da Itália, dono da Fiat, da Ferrari e do Juventus – as três grandes paixões de Lapo. Reza a lenda que seu avô chegou a ter o comando de 25% de todas companhias negociadas na bolsa italiana. Ícones de elegância e de poder, L’avvocato e sua esposa, donna Marella Agnelli, princesa napolitana, um dos swans de Truman Capote, o casal está para a Itália como os Kennedys para a América. “Muita gente cria lendas sobre o meu estilo e do meu avô. Tínhamos um trato: eu dava suspensórios para ele. Ele me dava um terno em troca. Tínhamos exatamente as mesmas medidas”, lembra Elkann sobre a estreita relação com o nonno.

Global desde o berço, nasceu em Nova York, em 1977, e passou grande parte de sua infância no Rio de Janeiro – viveu aqui dos 5 aos 11 anos. “Foram anos incríveis. A praia era meu playground, eu adorava o Senna e futebol. Cada vez que volto fico feliz em ver as mudanças sociais pelas quais o país está passando. Os brasileiros são espertos e uma fonte incrível para gerar novos negócios. É maravilhoso ver como a arte, a comida, a moda e o varejo contemporâneos brasileiros estão crescendo. É muito inspirador”, lembra. Viveu sua adolescência em Paris, mas se considera italiano acima de tudo, de corpo e alma.

Acostumado aos círculos de poder, foi assistente de ninguém menos que Henry Kissinger, em Nova York, antes de dar uma reviravolta no marketing da Fiat. Entre seus feitos, ajudou a remodelar o carro-chefe da marca, o Fiat 500. Outros tempos… hoje, fica na ponte aérea entre o resto do mundo e Milão, onde comanda seu business, a brand Italia Independent, conglomerado de empresas que inclui sua marca de óculos, roupas e acessórios, investimentos e parcerias com diversas marcas e uma agência de branding. Apenas alguns dos negócios de seu portfólio que não param de crescer. “Primeiro criamos uma linha de óculos clássicos, utilizando materiais completamente inovadores. Os óculos são nosso carro-chefe, mas o universo é muito maior. Tudo isso com um preço justo. É o que eu chamo de luxo acessível”, discorre.

Na sua visão, o futuro é customizado e democrático. Natural para o cara que presenteia os amigos fumantes com isqueiros Bic com seu apelido “Laps” escrito na lateral. Ou como a sua Ferrari totalmente customizada com estampa camuflada, que usa tecnologia da Nasa. Verdadeiros extremos do significado hi-lo que quer aplicar nos negócios: “Os produtos têm de ser divertidos. O futuro é propor e não impor”, sentencia.

Fato é que, como poucos, Lapo soube sair da posição de herdeiro e da aura de bon vivant. Não foi fácil. Sexo, drogas, mulheres (está solteiro, diga-se) e rock’n’roll tiveram seu papel. Foi ao fundo do poço. Saiu de lá vencedor. Coisas que ele carrega até hoje, marcadas entre as 16 tattoos espalhadas pelo corpo: a bandeira da Itália em um braço, o símbolo do Juventus em outro, letras japonesas e chinesas com inscrições como “eu vivo” e “nunca desista”. Não desistiu. Foi trabalhar. E segue trabalhando. Entre seus planos profissionais, está o Brasil: quer abrir pontos de venda no país. Há um outro projeto que mostra muito quem ele é: melhor porta-voz de uma nova Itália, 2.0, que mira no futuro sem esquecer das tradições. “Aceitei ser produtor-executivo de um filme dos irmãos Marco e Mauro La Villa. Chama-se Black and White Stripes, um documentário sobre o Juventus. O time tem uma história incrível e é o único que nunca trocou de dono. Perfeito para mostrar no Brasil, não?”, pergunta. Perfeito, gol de placa e fair-play. Do jeito que a gente gosta.

PAPO RETO COM LAPO ELKANN

RG: Brasil e Itália, o que nos une?

Lapo Elkann: Futebol! Perto da Copa do Mundo impossível não pensar nisso. Somos apaixonados pelo jogo. Tive a chance de conhecer pessoalmente o Pelé, foi realizar um sonho. Também dividimos o mesmo entusiasmo e amor por tudo o que é criativo e tem alma. Milhares de italianos fizeram do Brasil sua pátria e o país sempre foi essencial para os negócios da minha família. Junto com meus sócios quero realmente trazer a Italia Independent para o Brasil muito em breve.

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