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MariaSole Cecchi @RG do mês

Na edição de abril de RG, a italiana que aportou no Brasil com seu sonho de criar acessórios – e deu certo. Leia na íntegra a matéria

Por Rosana Rodini

“Não gosto que se refiram à minha marca como aquela ‘da bolsa de Lego’. É mais do que isso.” A frase assertiva, regada a movimentos intensos de mãos e braços, é de Mariasole Cecchi, italiana que trocou Firenze pelos trópicos e, por aqui, deu vida à sua fantasia infantil. Das pecinhas que ela (eu, você e todas as crianças) brincava, fez seu ganha pani. E deixou um tanto mais lúdico o guarda-roupa de muita gente com vontade de se divertir sem descer do salto. Porque, se a moda é feita de códigos, que sejam códigos felizes, não? Foi o que fez.

Aos 27 anos, a moça engrossa o bom caldo dos gringos interessantes e interessados que se encantaram pelo Brasil. Melhor pra gente. Para entender o produto final, quisemos saber das raízes. Detalhes de um conto de fadas pós-moderno que ela me contou durante um café, nos Jardins, bairro em que mora com o namorado, Dimitri Mussard, da sétima geração da família Hermès, da icônica e caríssima marca de luxo (que também faz bolsas, coincidências da vida, veja só). “Vim de uma família de moda. Meus pais tinham multimarcas na Itália. Eu, nas férias, trocava viagens com as amigas para trabalhar com eles.” O pagamento vinha em roupa. “Eu adorava aquilo e já me achavam excêntrica. Às vezes riam dos meus sapatos. Dois anos depois, todas usavam igual”, relembra, com cara de que quem ri por último… “Uma vez peguei um sapato Alaïa do estoque dos meus pais. Tinha um detalhe que não me agradava. Não pensei duas vezes: cortei. Minha mãe quase morreu, era uma peça cara, afinal.” Era mais: era a Mariasole começando a customizar.

Morou em Firenze até os 20 anos. Tentou uma faculdade de direito, embora confesse que sempre pensava nas poucas opções de looks que poderia usar. “Não gostei. E não fiz universidade. Foi uma busca interior para descobrir o que queria fazer.” Pois fez as malas e partiu para Paris, sonho dourado de garotas que, feito ela, sofrem de inclinação fashion prematura. Na Cidade Luz aprendeu inglês e entrou numa faculdade de comunicação. Durou pouco. Mas logo estava trabalhando na Corto Moltedo, marca de bolsas de Gabriele Corto Moltedo, da família fundadora da Bottega Veneta. “Foi a minha primeira experiência com bolsas. Fiquei seis meses por lá.”

Foi quando teve um insight, numa das infinitas tardes que passava em casa com um amigo, um artista plástico francês pouco compreendido pelo mundo. “Ele é um sonhador, e usava Lego em suas criações”, conta sobre Adrien Vouillot, a quem credita a sua vontade de ser lúdica também. “Um dia decidi fazer uma bolsa customizada e pedi uns Legos emprestado.” Escreveu com as pecinhas a palavra LOVE e foi pra rua. “Eu fui parada por todo mundo, perguntando onde havia comprado.” Voltou pra casa e fez, também em Lego, a bolsa piano (ambas são carry on da sua marca até hoje). Mais uma vez, choveu pedido nas ruas.

Começou a trabalhar para si. Horas de labuta alternadas com boas festas. Numa dessas, Mariasole foi vestida como sabia se vestir: multicolorida, de cinta liga e mil acessórios. Obviamente, destoou das francesas, clássicas por natureza. Chamou a atenção de um rapaz. “Eu e o Dimitri nos encantamos.” Usava a bolsa LOVE – no mínimo auspicioso, vai? Foi um namoro relâmpago. “Ele me disse que estava indo morar no Brasil em cinco dias (hoje ele tem dois business por aqui: a gelateria Dri-Dri e a Acajú do Brasil). Mas, se eu quisesse, poderíamos morar juntos.” Optaram pelo amor. O primeiro passo foi apresentá-lo à família. Foram a Firenze. Genro aprovado, voaram para São Paulo.

O começo foi difícil. Não tinha amigos, não falava português e mal conhecia o namorado. Quatro anos e meio depois, ela comanda a Le Petit Joueurs, sua marca de acessórios que virou must have entre moças que amam moda. Primeiro aqui, depois no mundo. Hoje, produz no Brasil para o Brasil, lá fora para lá fora. “Para diminuir os preços” – uma bolsa da sua marca custa em média R$ 1.900. Este ano produzirá quase 6 mil bolsas. Tem como polos fortes, além do Brasil, a Ásia, a Rússia, os Emirados Árabes… tem show-room em Paris e mais de 70 pontos de venda. “Minha marca amadurece comigo. Porque aprendi e sigo aprendendo com a vida. Uma pessoa, uma poesia, um copo, um filme, tudo me serve de inspiração. E de aprendizado também.”

Italiana com tempero brasileiro, já se rendeu à caipirinha com feijoada. “Mas não resisto mesmo a uma boa farofa. Ah, e tem essa coisa do beijo. Na Itália demora pra gente dar beijo como oi. Tem essa cultura do aperto de mão. Aliás,sabia que você pode descobrir muito sobre uma pessoa com um aperto de mão?” Aperto de mão que ela não deve ter dado na blogueira que “se inspirou” em suas peças recentemente. “Acho triste a cópia descarada, principalmente de uma marca pequena como a minha, e ainda por uma pessoa que me conhecia, que vivia dizendo que queria fazer uma parceria comigo. Achei falta de respeito.” O caso foi o primeiro de alguns. Mas é sinônimo de sucesso também, certo? “Talvez”, diz, enquanto guarda seu telefone na bolsa, uma Hermès. “É a minha primeira. Ganhei de aniversário, e ainda pedi em cor de Lego”, brinca, sobre o acessório da marca da família do seu namorado. “Muitos dizem que cheguei até aqui graças ao Dimitri. Eu nem ligo. Porque se meu produto fosse ruim, não seguiria vendendo.”

Ainda sobre o namorado… Vai casar? “Espero. Adoro fazer festa, desde criança. Sempre que tiver uma razão vou comemorar. O Dimitri é mais comedido com essas coisas. Se nos casarmos será no Brasil e na Itália.” Até lá, segue como a maior garota-propaganda de uma boa ideia que deu certo. E segue brincando de Lego. E, não se ofenda Mariasole, porque muita gente trocaria tudo pra ganhar a vida com seu brinquedo de criança.

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