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Serguei, o filme!

Aos 80 anos, o mais sui generis dos popstars tupiniquins vai virar película

por André Kaveira e Élida Braz

Longas conversas no “Templo do Rock”, a casa de Serguei em Saquarema, nos deram farto material para um longa-metragem biográfico sobre esse sensacional artista brasileiro. Um filme muito doido, que vamos felizmente produzir. Aqui, um estudo da sinopse, em primeira mão, à pedido de RG.

Serguei: uma vida sem roteiro

Em sua muito animada festinha de 80 anos, Serguei recebe ícones da Jovem Guarda, garotos de programa, travestis, velhos e novos amigos no alegre convescote. Em dado momento, o dinossauro é tomado por uma emoção forte… e sofre um infarto. Em coma, vê sua vida como um flash de memória.

É 1968, Rio de Janeiro. Na Avenida Rio Branco, um jovem empunha uma placa de protesto e pétalas de rosas. “Viva a liberdade”, grita, enquanto a polícia do exército cerca o local e abafa a manifestação solitária.

Ávido para conhecer o mundo, Serguei ingressa na aviação e se torna comissário da Pan Air. Animado, promovia verdadeiros pocket shows na aeronave. E acumula um anedotário internacional: em um cassino na Espanha, ele sobe na mesa da atriz Gina Lollobrigida e faz uma performance psicodélica, derramando vinho no vestido da diva… um frisson! O presidente da empresa lhe cobra postura, e o enfant terrible decide entregar seu cargo. Segue para Long Island, meca da contracultura, onde aconteceria Woodstock.

No início, ele mora com sua avó, mas logo se enturma com a comunidade hippie e passa a dividir um apartamento coletivo com Janis Joplin e Jimi Hendrix. Passa a conviver com os ícones do rock. Em certa ocasião, protagoniza um ménage à trois com Janis, provocando a ira de Jimi, namorado da roqueira…

Em pouco tempo, o jovem brasileiro monta sua banda, e começa a fazer apresentações pela América. Uma matéria no jornal The New York Times chama a atenção do guru da psicodelia, Andy Warhol, que propõe a Serguei a gravação de uma fita demo e seu lançamento mundial. Serguei e Janis comemoram, varando a noite… No dia seguinte, ainda tontos de ressaca, o cantor recebe um telefonema catastrófico, informando que seu pai se submeteria a uma intervenção cirúrgica e corria risco de vida. Serguei se vê diante de um dilema: iniciar uma carreira de sucesso internacional ou voltar para o Brasil e ficar ao lado dos pais – é filho único. A família fala mais alto. Seu pai é operado e recupera-se. A América, o sonho, Janis… ficam para trás.

Mas a veia artística vanguardista pulsa e Serguei transforma-se no ícone psicodélico do underground brasileiro, apresentando-se em cabarés da praça Mauá, dividindo o palco com grandes estrelas em início de carreira como Alcione, Costinha… irreverente e fora do comum, é aclamado pela mídia, habitué dos programas de auditório.

Em 1972, circulando em um jipe com o grupo performático do qual fazia parte Rita Lee, ele é surpreendido pela manchete: “Janis Joplin, a rainha do blues, está no Brasil”. Emocionado, decide ir ao Copacabana Palace reencontrar o affair. De súbito, depara-se com Janis, bêbada, com um baseado na mão, gritando com os funcionários do hotel que a haviam expulsado de sua suíte presidencial por ter tomado banho nua na piscina… Serguei tenta acalmar a amiga, que se anima ao vê-lo. Decide levá-la no cabaré onde se apresentava. Mas ela é impedida de entrar no local pelo chefe da segurança – amante de Darlene Glória e chefe do Esquadrão da Morte – que refuta “hippies bêbadas e descalças”… Inconformado, Serguei vai ter com o português, dono do estabelecimento, explicar que a presença daquela mulher no cabaré seria um fato histórico, de tal forma que o convence… Lá dentro, Serguei, de maiô, apresenta as dançarinas do cabaré, levando ao delírio os marinheiros que lotavam o local. Um deles, por sinal, já paquerava Janis que, embalada pelas doses de Jack Daniels, sobe ao palco e canta “Summertime”, levando o cabaré ao delírio. Serguei, Janis, o marinheiro e a garrafa de Jack Daniels caminham pelo calçadão, abraçados, até a praia do Leme, onde rolam, nus, pela areia… até o sol raiar.

Dias depois, ele é surpreendido com a notícia da morte de sua musa. Sua história com Janis o torna folclórico e alvo de centenas de matérias e programas de TV. Em 1985,  protagoniza cena histórica no Rock in Rio, ao colocar dezenas de milhares de expectadores sentados cantando “Love of My Life”, em homenagem ao Queen.

É novembro de 2014. Serguei está na UTI, em Saquarema. Ele acorda de um longo período em coma. Seu manager aponta para a janela: um ônibus com a imagem do artista o aguarda para uma turnê latinoamericana, por 30 países, para celebrar seus 80 anos. Serguei embarca nessa epopéia, que promete ser a maior de todas suas aventuras. O ônibus segue animado, com vários jovens de corpos sarados… uma história ainda a  escrever, na estrada, ao som do velho e bom rock’n’roll.

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