Por Jeff Ares
Carolina Dieckmann pode ser um monte de coisas; mas chata ela não é. Ela é divertida. Falastrona. Autêntica. Mordaz. Educada. Desconfiada. Auto-crítica. Chato é o sujeito sem opinião, ou aquela que pensa que a vida é cor de rosa, ou o bêbado inconveniente, ou quem mede demais as palavras… Escolha o seu tipo. Pro gosto da RG, essa moça Carolina é bem da nossa turma, tem o nosso jeitão.
Vale registrar, a seu favor, que Carolina é uma virginiana típica, que data de setembro de 1978. Os deste signo carregam um fardo, a pecha da chatice que alguma velha astróloga badabauê determinou. Virginiano é chato, instaurou-se, só porque afeitos ao trabalho minuciosamente realizado, às coisas justas, ao pão pão queijo queijo. Tem mal nisso não, e alto lá. “Sou minha maior crítica”, corrobora Carolina, com uma cara de auto-piedade, ali do banco de trás do carro que nos levaria ao estúdio, para a sessão de fotos comandada por Paulo Vainer, estas que você vê aqui. O sol comia os pneus do carro, eu estava verde de fome, o motorista insistia para eu colocar o cinto… Mas que diabos, me dá um tempo pra respirar, meu senhor… A “capa” está aqui no mesmo recinto, tenho que me concentrar. Fui travando um papo do tipo “denso, intenso”, desses bem chatos (eu também sou virginiano, uma confissão), para desespero da nossa personagem. “Não quero passar uma imagem disso ou daquilo”, pontuou Carolina, de cara, pra me situar. “O que me angustia é injustiça”. Falou-se muita abobrinha, impuseram a ela uma persona antipática. Ok, todo mundo tem seus momentos, ela pode ter deixado transparecer uma indisposição aqui ou ali, mas, ei, ela é de carne e osso, deixa a moça…. Maniqueísmo de dramalhão meicano não se aplica na vida real. É bobo. Mas, veja bem, ela sabe se defender, do alto de 20 anos de carreira – a completar em 2013. “As fichas caem durante a vida. As pessoas erram, acertam… O importante é prestar atenção. Não pode é achar que você é mais importante que ninguém”. Análise? “Fiz algumas terapias”, e não se estende. Como faz parar não pirar? “O que me salvou foi minha espontaneidade. Comecei muito cedo, aos 13 anos, era muito moleca, muito espontânea…Obviamente, quando você é adolescente, não sabe direito o que é… Comecei a ter de responder sobre mim, sobre coisas, namorados…”. É um diário público, concluo. “E louco, publico e louco”, ela define. Coisas do star system, cotidianas para uma atriz “global” que, há duas décadas, quase ininterruptamente, dá expediente n’algum folhetim. “Sou uma pedreira da TV”, ela cunha. “Mas, ó, não reclamo não”. Sente uma cobrança para fazer mais teatro e cinema? “Sinto sim”, e me olha, como se eu fosse mais um desses pentelhos. O carro pára, chegamos ao estúdio, tempo. Tchau seo motorista.
Carolina chega, fala oi pra todos, super educada. Senta-se no camarim, onde a espera o maquiador Max Weber, um expert. A deixo à vontade, vou comer um pouco (o cathering é da chef Adriana Cymes, porque a gente é muito chique). Na antepenúltima garfada, a Carolina pede para me chamar. Seguimos com o papo, entre um curvex e outro. Quero saber da personagem da novela, a periguéti-biscate-arrivista que aos poucos se tornou a grande mocinha na trama de Aguinaldo Silva, a surreal Fina Estampa. E a Teodora, quem é? “Ah, é mais uma menina do Brasil, equivocada, que se dá mal quando faz coisas erradas…. E que usa muita lycra, muito pink! Se bem que, se você for pra St. Tropez, vai ver um monte de mulher assim…”. Sábias palavras. Mas não são dela, são do Max, um noveleiro confesso. Adoramos o aparte, Max, obrigado. Carolina acha graça. “Quanto mais apavorante o figurino, mais eu gosto. Diz que fizeram um corner da Teodora numa loja do Barra Shopping, de tanto que as mulheres iam lá pedir roupa ‘tipo a da Teodora'”. Partindo deste pressuposto, você faz muito licenciamento com o seu nome? “Olha, vivo falando isso pro meu empresário”, resigna-se. “Mas não…”. E que tipo de coisa licenciaria? “Esmalte! Vermelho!”. “Todo mundo pede a sua cor mesmo”, intervém a manicure, noutro salutar aparte. Para o shooting, com um clima mais pro rock/cool, a Paula esmaltava as unhas da nossa star com um perolado, meio nude, sem gracinha… “Esse aqui ninguém vai querer não, o povo gosta é do vermelho”, observou a nail expert, catedrática. “O vermelho foi herança da Leona”, confessa Carolina, invocando outra personagem de sucesso. E da Teodora, o que ela vai herdar? “Essa vilã me trouxe uma coisa muito saudável. A personagem era namorada de um lutador. Fui pesquisar e descobri que, depois de um tempo, todas as namoradas de lutadores acabam lutando também. Aí comecei o muay thai… Eu não fazia nada, nunca fiz esporte todos os dias, tive que começar a comer mais pra dar curva a essa pessoa, estou me sentindo strong, com o pensamento power”. E com um corpo… Seca, com braços definidos, pernas fortes. Tônus muscular, saca? Uma gata. Quantos convites para posar nua? “Nem sei…”. E por que nunca? “Não tenho nenhum motivo pra fazer isso”. Muitas posam nua como uma estratégia para alavancar a carreira… “Eu nem pude usar essa estratégia…. Quando comecei a atuar era menor de idade, depois me casei muito nova (aos 18 anos, com o ator Marcos Frota, no picadeiro), depois fui mãe… Essa ideia foi ficando distante… Hoje, com um filho de 12 anos, não faria nenhum sentido posar nua”, encerra. Mas ficar nua no trabalho pode, né? “Ah, claro…” E quando a periguéti tem que, digamos, performar? “Olha, cena de sexo de vila é mais fácil do que de mocinha.. A mocinha é mais suscetível ao emocional… Com a Teodora, vai que é uma beleza! É calcinha de oncinha, não tem nenhuma dificuldade!”.
Hora da “checagem de Wikipedia”. No carro, indo pro shooting, eu tinha assuntado sobre a página dela na megaenciclopédia virtual; queria saber se tudo o que se diz sobre ela ali corresponde à verdade. Mas ela não sabia da existência de um verbete pra chamar de seu. “Entro pra ajudar meus filhos com o dever da escola, mas não sabia que eu estava lá”. É que rola um certo trauma. “Um dia botei meu nome no Google, apareceu uma imagem minha enorme, uma baleia Orca na praia, grávida. Nunca mais!”, dividiu, honesta. “Mas já mudou, viu?”, tranquilizou Alex Lerner, seu agente. “Então já posso googar de novo?”. Comecemos, então. “Vamos ver esse Wikipedia ai, hein, gente”. Enquanto o Max passava um gloss, o assistente dele segurava o iPad na altura dos olhos dela, um malabarismo. Ela foi lendo…”Olha Alexxx, olha, vem ver! Dá um nervoso ver isso tudo…Nossa, tem os prêmios que eu recebi! Olha, esse aqui eu nem sabia! Olha esse de gata do ano! Ai, tem esse Trofeu Imprensa… Eu queria tanto conhecer o Silvio Santos, mas não pude ir receber o troféu…”. Tem coisa errada? “Hum, aqui, depois da Claudinha, fiz Tropicaliente, não falam… E eu não fiz (a novela) As Filhas da Mãe… Ah, por isso que saiu errado naquela matéria!”. Mais adiante: “Gente, até como que o meu filho nasceu eles falam… Aliás, a data de nascimento está errada, ele nasceu em 16 de abril, aqui ta 15… Gostei demais desse Wikipedia!”. De twitter então… São cerca de 1 milhão e 200 mil seguidores, e contando. “Dou um pouco mais de atenção ao twitter por causa dos meus fãs, mas é mentira se eu disser que me sinto obrigada a isso”. Ela gosta, fica falando com as amigas starlets, tipo a Preta Gil, a best friend. “Mas realmente não dá para responder todo mundo”, lamenta. E divide seu medo. “Me rackearam. Os meus fãs é que me alertaram. Foi num domingo de manhã, escreveram sobre o cara do Big Brother, acusando ele de estuprador, dizendo ‘Gente, tem que assistir a reportagem da RedeTV’… Você acha que eu ia pedir pra alguém assistir a concorrência? Mas eu tive minha culpa, minha senha era ridícula, você não pode ter tantos seguidores e uma senha ridícula… Fiquei muito irritada, chorei… Fiquei pensando ‘Será que eu vou ter que abrir mão disso?’. Mas achei melhor e mais seguro eu estar ali”. Ainda que cercada de algumas companhias estranhas. “Ah, tem um monte de Carolina Dieckmann falsa”. Você segue alguma? “Não. Tem umas até fofas, super fãs, acho até bonitinho, mas não é muito saudável viver com o meu nome, né?…. Tem uma que é @caroladepre…”. Afe. “Você já pensou que quem ta fazendo isso pode estar do seu lado?” aterrorizou Max. “É bafo, hein, gata”.
Voltamos ao papo sobre o ofício, interrompido na nossa chegada ao estúdio. Um balanço dessas quase duas décadas de carreira? “Tive desafios muito jovem; aos 20 anos estava raspando a cabeça. Fiz muitas heroínas, acho que desejei isso também. Gosto de fazer as mocinhas, eu me emociono com elas. Por mais que o público às vezes não perceba as nuances, elas estão ali… Eu sou uma atriz extremamente realista, gosto das coisas suaves”. Carolina emendou papéis na TV numa sequência de tirar o fôlego. Ela é do tipo workaholic (virginiana, lembra?). “Gravo de 5 a 6 dias por semana. E tenho estômago de pobre. Pobre pode passar mal e não chegar no trabalho? Não. Pois eu também não. Nunca faltei, não tenho isso. Se tô gripada, a personagem fica fanha também. Fiquei gripada bem no dia em que a Teodora se afogava no mar… E o tempo estava nublado. Fui pra água! Mando um pão com mortadela e vou”. Me chama que eu vou… E ela vai. “Meu maior luxo é ir ao sabor dos convites. O Mastroianni dizia que o que ele mais gostava era deixar a malinha dele lá, pronta, esperando… É como eu fico, quase como ser um bon-vivant… E é uma felicidade ter uma carreira que me permita isso. Não poderia produzir, por exemplo. Acho o máximo meus colegas que fazem isso, mas eu não conseguiria escolher um papel para mim”. Nem precisa… A vida já se encarregou disso. Eis Carolina Dieckmann, a mocinha do folhetim.
Ah, e em breve nos cinemas, no próximo longa de Domingos de Oliveira. E em mais dois projetos, ainda secretos. Já pode parar de cobrar.