Foto: Rogerio Mesquita
A Amazônia e o Pantanal estão ardendo em chamas. Isso é engraçado pra você? E sobre o triste 7 de setembro? Independência? Respeito às instituições? Temos? Não! Quando houve a proclamação em 1822, éramos um país escravocrata. Claro, há um grande problema explícito. E a “matemática” até hoje permanece em aberto e, em meio ao nosso caos atual, houve quem celebrasse a ditadura militar, o golpe… Há quem cante o hino nacional, mas destrate o outro semelhante da pátria amada Brasil. “Adoecidos” deveria ser o nome de algum documentário até, então, inexistente.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
A minha primeira indicação hoje é o documentário “Narciso em Férias”. A narrativa emocionante e dolorida de Caetano Veloso sobre o período em que esteve preso na ardilosa ditadura. No tempo em que alguém chegava em uma casa e levava preso quem quisesse, sem explicar o porquê. Quando penso na prisão de Caetano e no motivo, penso que há muito ainda por fazer para que o absurdo não mais faça parte da nossa realidade e sociedade. E que não haja alguém saudoso em relação à falta de liberdade.
Documentário “Narciso em Férias” retrata o período em que Caetano Veloso ficou preso durante a ditadura (Foto: Reprodução/TV Globo)
A imposição, a truculência, o abuso de poder, a falta da aplicação da lei, a máxima da “a lei é para todos” não acontece por aqui.
A justiça falhou mais uma vez com um jovem negro. Luiz Carlos Justino, 23 anos, foi preso na última quarta-feira (09.09) por um crime, um roubo, que não cometeu. O jovem músico da Orquestra de Cordas da Grota, há 16 anos, achou que fosse ser esquecido no cárcere. E como eu digo, tantos dizem e ele também: “a música salva”. A orquestra, músicos e artistas (me incluo) se mobilizaram e houve uma grande pressão física (da Orquestra) e virtual para que alguma justiça fosse feita. Ou melhor, para que a injustiça fosse desfeita.
Foto: Reprodução/Instagram
Sem antecedentes criminais, foi solto depois cinco dias. Na decisão, o juiz André Nicolitt escreveu: “Por que um jovem negro, violoncelista, que nunca teve passagem pela polícia, inspiraria desconfiança para constar em um álbum?”, e criticou o reconhecimento fotográfico: “Não há previsão legal acerca da sua existência”.
Luiz Carlos deixa uma mensagem emblemática, “para outros jovens negros como eu, a minha mensagem é a seguinte: procurem uma forma de se defender. A música foi a minha defesa.” A reflexão que fica também é a de que de não basta ser um cidadão correto! Se for jovem e negro no mundo sempre haverá um alvo no corpo, fruto do racismo sistêmico e estrutural que vem desde os tempos sombrios do Brasil Colônia.
Se Luiz fosse branco, tudo seria diferente. Minha indicação para reflexão é a minissérie dura, incômoda, mas necessária: “Olhos que Condenam”, que trata sobre negros acusados e presos, por serem negros mesmo sem qualquer envolvimento.
Na absurda e repugnante realidade heteronormativa em que homens brancos redigem as leis e julgam crimes contra mulheres, André Camargo Aranha, empresário branco e rico, foi absolvido também nesta quarta-feira (09.09) do crime de estupro contra a influenciadora digital Mariana Ferrer.
O crime aconteceu em 2018 e “por falta de provas”, segundo o juiz (mesmo com todas provas cabíveis e possíveis), André está livre. Parte da sentença do juiz Rudson Marcos diz: “portanto, como as provas acerca da autoria delitiva são conflitantes em si, não há como impor ao acusado a responsabilidade penal, pois, repetindo um antigo dito liberal, “melhor absolver 100 culpados do que condenar um inocente”.
Foto: Reprodução/Instagram
Segundo o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em setembro de 2019 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 180 mulheres são estupradas por dia. As mulheres representam 81,8% dos casos de violência sexual no país. Dessas, 53,3% são meninas com idade até 13 anos. 50,9% dessas vítimas são mulheres negras. Brancas representam 48,5%. Segundo o mesmo levantamento, quatro crianças são estupradas por hora no Brasil.
O judiciário brasileiro não me parece confiável quando a vítima são mulheres e jovens negros e menos confiável ainda quando o julgado em questão é de uma classe favorecida. O feminismo precisa entrar de vez na vida dos homens. Já assistiram ao filme “Acusados” (1988), com Jodie Foster?
“Rompa o seu silêncio você não está sozinha”, é a campanha do Tribunal de Justiça em que fui convidada para ser embaixadora, quando a Lei Maria da Penha completou 10 anos. A força e a voz das mulheres, a nossa força e a nossa voz, farão toda a diferença num futuro muito próximo. Muitas mulheres estão vivas pela existência da lei.
A nossa revolta e a exaustão são enormes, após esse caso, mas ninguém nos calará. E a lei e a justiça ainda mostrarão o seu verdadeiro papel. Meu total apoio a Mari Ferrer! Estamos juntas!