Por Eduardo do Valle
Das ruas para a São Paulo Fashion Week: Eduardo Kobra, grafiteiro brasileiro de renome internacional, está à frente de uma instalação tridimensional da Hot Wheels no salão principal do evento. Até sexta (01.11), Kobra deverá completar a obra de caráter lúdico, que deverá dar aos presentes a sensação de hiperrealismo, marca registrada do artista.
Kobra acaba de desembarcar no Brasil após uma temporada na Rússia, onde, a convite da prefeitura de Moscou, pintou um mural em homenagem à bailarina russa Maya Plisetskaya. Por lá, ele também deixou um registro de protesto à prisão da brasileira Ana Paula Maciel, ativista do Greenpeace, presa e acusada de vandalismo pela justiça russa. Sobre estes assuntos, RG conversou com o grafiteiro. A íntegra, abaixo:
RG: A moda e a street art do Brasil têm despertado muito interesse lá fora. Você mesmo acaba de voltar de um período em Moscou. O que a estética brasileira tem oferecido de diferente, para gerar esta atração?
Eduardo Kobra: Com relação à street art, que é o que eu posso falar melhor, São Paulo é uma cidade que, diferente de outras como Nova York ou Londres, já oferece apoio à street art há mais tempo. Lá fora, o apoio veio mais recentemente, até então era mais linha dura. Isso deu o tempo necessário para os nossos artistas daqui se desenvolverem melhor. Então, além do talento, aqui temos uma qualidade e uma diversidade de trabalho diferente de Nova York, por exemplo. A cidade que mais se aproxima daqui, na minha opinião, é Miami, que também conta com este apoio há mais tempo.
RG: Mas São Paulo recentemente teve um problema de depredação na série Giganto, da fotógrafa Raquel Brust. Uma de suas ampliações fotográficas sobre o Minhocão já foi depredada. Isso não depõe contra o papo de desenvolvimento por aqui?
EK: O Minhocão é um espaço polêmico em São Paulo. O Túnel da Paulista também é assim. Temos uma gama muito ampla de artistas trabalhando por lá. Eu ouvi dizer dessa depredação, mas acho que estava viajando neste período. Não tenho como dizer o que aconteceu ali. O que posso dizer é que, na rua o trabalho acontece na base do respeito mútuo. Eu não sei como foi a negociação do pessoal do projeto com os artistas do Minhocão, então não posso explicar nada com certeza. Mas é uma pena que tenha sido depredado. Como artista, não acredito na depredação do trabalho alheio.
RG: Você acaba de voltar da Rússia, onde esteve a convite da prefeitura de Moscou para fazer uma intervenção. Como foi isso?
EK: Eu fui pra lá a convite da prefeitura, para pintar o mural da Maya Plisetskaya. E na Rússia eles são bem rígidos, controladores. Então, mesmo com este mural não foi fácil: quando começava os traços, o esboço do trabalho, eles já ficavam de olho.
RG: Mas você também deixou uma obra de protesto por lá, contra a prisão de Ana Paula Maciel. Como você acha que a prefeitura deve ter enxergado o protesto?
EK: Não muito bem. [risos] Acontece que faço um projeto chamado GreenPincel, que é alinhado a questões de proteção ambiental e tenho afinidade com algumas ações do Greenpeace. O caso da intervenção da Ana aconteceu de forma ilegal. Tirei um dia de folga, disse que estava doente, e falei com os artistas locais. Eles me levaram até um lugar pouco mais seguro, e eu fiz por lá. Ia fazer durante a noite, mas achei melhor trabalharmos de dia – tudo com muita vigilância, pra não ser pego. Como brasileiro e como artista, não poderia deixar de me manifestar.
RG: E eles já descobriram?
EK: Já, já descobriram e me abordaram. Eu tinha até fechado pra fazer um trabalho por lá em março, mas agora não sei como as coisas vão ser, não sei nem se eu vou poder voltar pra lá. [risos]
RG: E este mural aqui da SPFW, me fale sobre ele.
EK: É um projeto que estamos fazendo a convite da Hot Wheels. Vamos customizar o painel e o carro de modo a passar uma noção de tridimensionalidade a quem passa pela obra. É uma intervenção lúdica, que fica pronta na sexta, então estaremos por aqui a semana inteira.