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Spike Lee @RG

Confira na íntegra a reportagem com o diretor americano. Tá na RG deste mês, e aqui também

Em uma de suas incursões pelo Brasil real, tema de seu novo documentário, o diretor americano dividiu uma mesa com Ale Youssef e Leandra Leal. A matéria está na RG deste mês e a gente te mostra aqui e agora, na íntegra!

UM CHOPPINHO COM SPIKE LEE

Por Ale Youssef

Lembro muito bem daquela tarde de domingo, quando fui ao cinema com meus primos assistir a Do the Right Thing, filme que lançou mundialmente o diretor Spike Lee. Fiquei atordoado. Um impacto enorme na minha formação, não apenas por expor o abismo racial americano, mas por apresentar para o mundo uma nova arte contemporânea engajada, em forma de filme, em forma de música. “Fight the Power” gritava Chuck D e seu Public Ememy naquela trilha sonora de arrepiar. Na época, ficava tentando fazer paralelos com o Brasil. Será que alguém conseguiria criar tamanha comoção e denunciar com tanta ênfase alguns dos nossos problemas seculares?

Quando meu telefone tocou, em uma sexta-feira do mês passado, e ouvi do amigo Jorge Bispo que Spike Lee estava no Rio e procurava alguma coisa bacana para fazer à noite, pensei que era piada. Três horas depois, estávamos tomando caipirinha no Astor e estendendo um papo que durou até o Studio RJ, noite adentro. Foi tão bom que repetimos a dose Astor/Studio RJ no sábado. Spike Lee está fazendo um documentário. GO, Brazil, GO será lançado antes da Copa do Mundo. Para isso, ele está entrevistando e filmando muita gente. Vai contar a história do Brasil – que, palavras dele, é “o” lugar para se viver agora – por meio da opinião de personagens que vivem e fazem nosso país. Como é viver em um lugar que está se tornando uma potência? Como é perceber essa mudança tão impressionante? Spike falou com a presidente Dilma, de quem gostou muito; com Lula, que, segundo ele, é uma das pessoas mais magnéticas que conheceu; com artistas como Gil, Caetano, Marisa Monte, Lázaro Ramos, Criolo; esportistas como Romário – a quem ele chama de “my man”, Pelé, Neymar, Ronaldo. Visitou Vigário Geral, o AfroReggae, o Vidigal e o Engenhão. Como bom militante, foi à sessão do Supremo Tribunal Federal que julgou a questão das cotas raciais. Ficou muito feliz com a aprovação.

Foi apenas sua primeira viagem. Ainda estão previstas mais quatro, com direto a vários carnavais e muitos personagens importantes. Em cada papo, sua lista de entrevistados aumenta. Ele vai sozinho aos lugares, sem mega- estrutura ou segurança e anota cada sugestão, deixando claro que tem um método bem pessoal de encontrar capilaridade nos assuntos e ir fundo nas entrevistas. Da minha parte, sugeri que ele conhecesse o Cacique de Ramos, os blocos de rua do carnaval do Rio e Recife e falasse também com Mano Brown.

Tenho certeza que esse filme será um divisor de águas na imagem do Brasil para o mundo. Spike Lee é sério e crítico o suficiente para falar do Brasil como ele é, em os ufanismos normais desse tempo de crescimento. E falar da maravilha do nosso país, considerando os desafios que tem pela frente é com certeza a melhor forma que Spike Lee tem para seguir fazendo a coisa certa.

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