Série estreia no canal pago HBO neste domingo (17.05), às 23h (Foto: Divulgação)
Natália Lage é protagonista da série “Hard” (adaptação francesa), que estreia neste domingo (18.05), às 23 horas, no canal pago HBO (e na plataforma de streaming HBO GO). A atriz vive Sofia, que logo nas primeiras cenas perde o marido e descobre que ele não era um típico empresário. Ele comandava uma produtora de filmes pornográficos, que se encontra endividada. É ela quem terá de manter o negócio da família após a sua morte, passar por cima dos próprios preconceitos e driblar a crise financeira.
A primeira da temporada da série (com seis episódios) foi filmada no fim de 2018 (e já tem três temporadas gravadas), sob responsabilidade do diretor Rodrigo Meirelles (“Som & Fúria“, da Globo), conduzindo as nuances de drama e comédia. “Suavizar o preconceito que ainda existe nessa indústria (de filmes adultos), sem soar caricato, uma vez que esse universo já é marginalizado. A gente queria deixar a comédia mais leve, de situações e não da composição dos atores e dos personagens”, conta Natália.
Como protagonista, a atriz teve de se adaptar ao ritmo frenético das gravações: foram 72 diárias, que incluíram conversas com atores pornôs (quem vive esses personagens na série) e uma preparação para se familiarizar ao universo materno. Mãe de dois na série, ela ainda não teve filhos. “Pra mim, isso é uma coisa muito doida. Ter essa intimidade corriqueira de mãe tanto do afeto quanto da briga, de ter essa relação íntima foi muito importante nesse processo de laboratório com as crianças”, explica.
Primeira temporada da série conta com seis episódios e já tem outras duas gravadas (Foto: Divulgação)
VOLTA ÀS NOVELAS
Longe das novelas desde 2007 (e lá se vão quase 13 anos), quando atuou em “Pé Na Jaca”, Natália estava escalada para a novela “Em Seu Lugar” (nome provisório), trama de Lícia Manzo para a faixa das 21h, na Globo. O folhetim que sucede “Amor de Mãe” também teve de interromper as gravações por conta da pandemia da Covid-19. “Ainda está tudo muito em aberto. Pode ser (que volte a rodar) ano que vem. Essa situação é muito louca, inimaginável. Parece uma ficção ruim: vai ter um negócio, que vai ficar todo mundo dentro de casa, fechar o comércio no mundo todo, vão morrer milhões de pessoas”, pontua.
Na nova novela, ela vai viver uma médica que se envolve com a personagem de Mariana Lima, seu segundo personagem homossexual (a primeira foi na série “Questão de Família”, do GNT). “Dá muita saudade, muita vontade de voltar à ativa”, comenta sobre o retorno aos folhetins. Além da novela, ela gravou ano passado o filme “Meu Último Desejo”, de Arnaldo Jabor – com Alexandre Nero, Bella Piero e João Miguel, que deve estrear em 2021.
Na trama, personagem de Natália descobre que assumirá uma produtora de conteúdo adulto (Foto: Divulgação)
Abaixo, leia trechos da entrevista concedida ao jornalista João Victor Marques, na #HappyLive (papo sobre entretenimento no Instagram, que acontece de segunda a sexta, sempre às 17 horas, também disponível no IGTV):
RG – Você lembra o que queria transmitir com essa personagem?
Natália Lage – Ela tem uma curva muito doida, que parece quase absurda. Se a gente parar para pensar, a vida muitas vezes é absurda, acontecem coisas que as pessoas falam: ‘bota isso num filme que todo mundo vai dizer que é mentira’. A série começa em um ritmo muito alucinado. Na segunda cena, o marido morre, na terceira ela já descobre que ele não era o que imaginava. (…) Depois a história vai se desenvolvimento de outra forma. Fica engraçado porque a situação é absurda. (…) É uma oportunidade de reflexão você poder mexer com a emoção da pessoa. E ela voltar a se perguntar porque ela tá rindo se emocionando… É legal quando esses limites se misturam
Você acredita que a Sofia quebra os próprios preconceitos, aceitando administrar o negócio ou só aceita por causa da verba?
No primeiro momento, ela aceita: temos um limão, faremos uma limonada. À medida que vai entrando no universo, conhecendo as pessoas, (vendo) o que existe por trás daquele estereótipo, vai se liberando desses preconceitos e tenta amar aquele lugar, aquelas pessoas. E tenta fazer aquilo do jeito dela, de um jeito diferente e como ela acredita que possa ter valor. De certa forma, ela tenta até encaixar aquele universo dentro das coisas em que acredita. Acaba tendo uma simbiose muito grande entre essa administração e o que ela é de verdade, o que ela vai se tornando.
A série trata de um assunto tabu, que é pornografia. Como você enxerga esse tema? É saudável as pessoas consumirem esse tipo de produto?
Eu acho que é saudável as pessoas fazerem o que elas quiserem. Uma das importâncias da série nesse momento é que a gente vive em uma época (sobretudo em nosso País) muito conservadora, cheia de preconceitos. (…) Porque é o primeiro passo para uma mudança (é reconhecê-los). Eu acho que você pode ou não gostar de pornografia, mas não tem o direito e dizer que alguém pode ou não pode fazer, ganhar ou não ganhar dinheiro. Se divertir – porque a maioria dos atores tem uma outra relação com sua sexualidade, seu corpo, dinheiro. E eles se divertem. Para eles é tranquilo, bom. Não é um negócio que ninguém faz amarrado ou tá sofrendo. Quer dizer, faz amarrado quando quer (gargalha).
A série tem essa contundência temporal – a gente filmou antes das eleições – mas ela abre esse caminho para as pessoas entenderem que cada um tem o direito de ser como quiser e como a gente – para se defender – forma estereótipos e coloca as pessoas em gavetinhas. Existe todo tipo de gente em todos os lugares. Como é um universo marginalizado, as pessoas não têm acesso – pode até ter acesso ao conteúdo e produto – ao modus operandi, quem são aqueles seres humanos que estão trabalhando (por trás daquilo).
Acha que a série vai ajudar as pessoas a desconstruírem um pouco isso e ver esse outro lado, também?
Espero que sim. Porque é um pouco o percurso da Sofia. Como o público pode se identificar (com o caminho ela), pode também se reconhecer nela. Não necessariamente à pornografia – que é um pano de fundo. Para além, está a questão do preconceito de você ter uma ideia pré-concebida sobre determinado grupo de pessoas e aí você coloca aquilo de lado, como diferente. Até para criar sua identidade: ‘não sou isso’. A gente sabe tão pouco sobre a gente, controla tão pouco as coisas. A gente sabe tão pouco sobre os outros. Cada um tem seus objetivos, vem de um lugar, tem uma história…
Você pegou um pouco da Sofia, de como foi a série francesa? Teve contato com esse conteúdo ou quis se distanciar?
Ah, eu fui ver, não resisti… Mas aí comecei a ver e já nas nossas conversas o Rodrigo disse que a gente ia fazer uma coisa diferente, não era a nossa onda e tal. Aí falei ah, não vou ficar assistindo, não. Meio deixei de lado e construí a partir das minhas impressões dela, da minha maneira de sentir as coisas: o que combinava com ela e o que não. Preferi fazer uma construção mais minha, da minha maneira de ver…