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Diego Montez sente que a novela “Bom Sucesso” era necessária para os dias de hoje

“Acho que “Bom Sucesso” está sendo muito conveniente nos dias de hoje. O William não é tão ligado aos núcleos que falam sobre censura ou coisa do tipo, mas fazer uma novela que fale sobre literatura, sexualidade e as pessoas param para assistir e ouvir, eu sinto que eu estou fazendo minha parte”. É assim que o ator Diego Montez, que interpreta o personagem William na novela da TV Globo da faixa das 19 horas que terminou nesta sexta-feira (24.01), explicita o por quê da arte estar tão presente na vida das pessoas. Cria de uma família de artistas – seu pai era o apresentador Wagner Montes e sua mãe a atriz Sônia Lima, ele estreou em uma novela da emissora com um papel muito importante: o de viver um menino gay onde a sexualidade não era o foco. Todo o redor de William, seu personagem, era muito maior e sua sexualidade foi tratada com naturalidade – “como deve ser”, segundo o ator – durante toda a drama.

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RG encontrou o ator na Avenida Paulista, em São Paulo, no último fim de semana e bateu um papo sobre carreira, musicais, sua relação com o ator Rafael Infante – que viveu um par romântico na novela – e muito mais. Veja na galeria fotos exclusivas do ator.

 

RG – Me conta uma coisa: sua primeira novela na Globo. Como foi esse processo todo?

Diego Montez – Foi muito louco porque é diferente de tudo que eu já tinha feito. Eu fui muito feliz em todas as emissoras pelas quais eu já passei. Já estive no SBT, Record, Disney Chanel, mas a Globo tem uma coisa muito bacana de cuidar de você de todas as formas possíveis. Você passa por vários exames médicos antes de começar. Como empresa, é parecido com todas, mas a questão é o lado de fora. Eu nunca tinha falado diretamente com pessoas adultas. Em “Dona Xepa”, eu fiz uma adolescente. É a primeira vez que eu fiz parte de um núcleo adulto. A reverberação disso com o público é muito diferente, principalmente da faixa das 7h, e o produto é muito bom. “Bom Sucesso” foi incrível. Eu me sinto muito abençoado em fazer parte disso tudo. A recepção do público carioca também é muito diferente. Eles chegam, conversam, abraçam como se a gente tivesse na casa deles – e a gente está, né? Pela TV! Falam como se fosse brothers. Senhoras vem falar comigo, crianças imitam o William. Com criança e adolescente, eu tava acostumado a lidar, mas o público mais adulto – de 30, 40 anos vir falar comigo – é novo.

E como foi o processo de preparação do William?

O William é uma junção de alguns amigos meus. Tem uns três amigos, especificamente, que eu me inspirei de fato. Inclusive, tem até bordões do personagem que eu peguei deles, roubei mesmo, eles falam na vida. Eu sempre fiz muito isso. Fui muito observador. Gostei muito que você me chamou para fazermos a entrevista aqui porque, além deu já ter trabalhado aqui quando eu tinha 16 anos, muitas vezes, eu venho aqui para observar as pessoas e escrever. Eu acho engraçado que tem jeito que diz que não existem gays tão estereotipados como William e eu brinco que as pessoas não estão saindo com os gays certos. Existem. Essas pessoas existem desse jeito. E fico muito feliz em poder honrar.

A gente teve uma preparação de elenco maravilhosa de mais de três meses para essa novela, com a Maria Beta Perez, e com os autores e a direção e eles foram me dosando na temperatura que eles queriam. O William eu fiz em um liquidificador: peguei um pouco de cada lugar. Referência dos meus amigos, de autores e filmes que eles [preparadores] me passavam.

E você teve uma barreira pessoal por conta da sexualidade do personagem? Não, né? Você é gay?

Nunca, jamais. Nunca teve uma barreira pessoal. O mais legal do personagem foi que a sexualidade do William nunca foi um assunto central. Até no beijo que eu e o Rafael Infante demos não se abordou isso. A repercussão foi a falta de repercussão. Não teve alarde. Foi algo normal e natural, como tem que ser. Isso que eu achei mais interessante. Foi bem no início. Fico muito feliz porque eu acho que esse é um assunto que não deve ser tocado mais. A sexualidade não tem que ser o foco mais, como nunca foi na minha vida pessoal. “Bom Sucesso” foi muito bem sucedido nisso.

Como foi contracenar com o Rafa Infante? Ele já tinha feito um personagem gay?

Eu acho que ele tinha feito só em comédia. O Rafa é uma das pessoas mais iluminadas e mais generosas que eu já conheci. Eu sou obcecado por pessoas generosas. Olha eu aqui fazendo uma análise da minha novela (risadas)… Mas é verdade. Ele foi tão incrível. Ele me falou no começo que queria fazer um gay crível, uma parada muito respeitosa. A gente trocou muita coisa, conversamos muito. E eu já era fã do Rafael. Quando eu o vi pela primeira vez, eu me tremi todo porque eu amava Porta dos Fundos [canal no YouTube] e já até fui expulso da sala de aula por assistir eles ali. Foi tudo muito bem. Incrível contracenar com ele.

E agora, com o fim de “Bom Sucesso”, você fará algo na Globo?

Não, na Globo não. Que eu saiba não! [risadas] Se vou fazer, ainda não me contaram. Tenho bastante projetos meus para esse ano. Comecei a dar foco nisso ano passado e quero tirar do papel. Eu escrevo também. Tenho formação de roteiro. Tem três projetos que eu escrevi que vão sair do papel esse ano. Os três são musicais, um deles já ficou um tempo no Rio e agora vou trazer para São Paulo. Muitos musicais e muito teatro! O que está realmente engatilhado é o musical do Silvio Santos que eu já estou ensaiando e estreia na primeira semana de março. Eu vou interpretar três papéis: meu pai, Wagner Montes, o Boni e o Falcão. A peça tem essa pegada de revezamento do elenco.

Falando um pouco da sua família, pelo seu pai ter sido apresentador e sua mãe atriz, você sempre foi para esse lado artístico?

Eles meio que me obrigaram…[risadas] Estou brincando, mas eu cresci indo nos sets de filmagem com a minha mãe. Ela me levava com ela e eu ficava no set encantado. Eu fui criado nesse universo. É muito incrível ver pessoas interpretando pessoas com as quais eu fui criado em volta, como Pedro De Lara, Mara Maravilha. E tudo isso foi aflorando. Não tem como uma criança sair ilesa disso tudo.

E como você reagiu com a morte do seu pai em janeiro de 2019? Como você reagiu profissionalmente?

Não me baqueou tanto porque aconteceu uma coisa muito louca. Era o sonho dele me ver em uma novela da Globo. Ele sempre falava que ia me ver ali e eu descobri uma semana depois que ele morreu que eu estava no elenco de “Bom Sucesso”. Eu levei isso como algo tipo: “Ele chegou lá em cima e desenrolou”. Levo ele comigo sempre, tive uma experiência incrível gostosa de meses pós morte por ele querer demais isso. Foi um tempo espiritualmente muito bonito.

Como era sua relação com seu pai?

Era maravilhosa. Ele era meu maior fã. Minha mãe era sempre mais critica: me assistia e opinava, afinal, ela é atriz também. Mas meu pai sempre adorava tudo que eu fazia, falava que eu ganharia Oscar. Era demais.

E você que é uma pessoa que vem de uma família artística, o que pensa sobre os recentes ataques do governo brasileiro?

Eu só acho que arte muda vidas – foi o que aconteceu comigo. Mudou minha vida, o jeito que eu penso, o que eu quero e o que eu busco. Um livro, uma novela, um filme muda o ideal que tinha de muita coisa e isso pode acontecer com várias pessoas. Eu estou muito feliz em estar fazendo “Bom Sucesso”. Acho que a novela está sendo muito conveniente nos dias de hoje. Poder falar das coisas que falamos. O William não é tão ligado aos núcleos que falam sobre censura ou coisa do tipo, mas fazer uma novela que fale sobre literatura, sexualidade e as pessoas param para assistir e ouvir, eu sinto que eu estou fazendo minha parte.

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