Top

“Irmandade”: elenco e produção falam sobre as construções dos personagens

Ambientado nos anos 1990, “Irmandade” retrata muito bem como a linha entre o certo e o errado é fina – e que depende muito mais do que apenas a consciência de cada um. A série mostra a batalha travada por Cristina (Naruna Costa), uma advogada que foi criada por um pai muito severo quando o assunto é ser correto.

SIGA O SITE RG NO INSTAGRAM

Vinte anos depois que seu irmão mais velho, Edson (Seu Jorge), é preso, Cristina descobre que ele se tornou um dos líderes que uma facção criminosa, chamada Irmandade. Essa foi a maneira que ele, preso por algo simples, e seu parceiro, Carniça (Pedro Wagner), encontraram de buscar justiça dentro de um sistema tão corrupto e violento do sistema prisional brasileiro.

Ao descobrir o que acontece, Cristina se vê obrigada por um polícia a se tornar um infiltrada na Irmandade e a ajudá-lo a desmascarar as ações da facção. É nesse momento que a personagem se vê entre o que acredita, o amor pela família, o que seu pai lhe ensinou e as injustiças sofridas por quem está preso.

Segundo Pedro Morelli, showrunner, criador, diretor executivo e responsável pela direção de alguns episódios, quando a Netflix e a produtora o2 Filmes começaram a trabalhar juntos, a empresa de streaming deu uma variedade de assuntos que gostaria de trabalhar, mas foi o tema “facções criminosas” que mais lhe interessou.

“Haviam algumas abordagens possíveis, mas tinha certeza que queria evitar a história de um policial investigando uma facção ou de ter um chefe de um grupo como centro da trama. Foi então que surgiu a ideia de contar a história a partir de uma protagonista mulher. Para a história ter sentido, ela precisava passar em uma época anterior à popularização dos celulares, para que a figura da mulher se fizesse necessária para a transmissão de recados entre as pessoas de dentro e as de fora da cadeia”, explica Pedro sobre a escolha da trama se passar em 1994, em São Paulo.

Para que a história fizesse sentido, ela precisava ter início na década de 1970, quando Edson é preso na frente da família. Segundo a produtora Andrea Barata, a busca por uma comunidade que parecesse saída da época não foi tarefa fácil. “Encontramos uma comunidade em Cubatão (município no literal paulista), com casas em palafitas que remetiam ao visual da época”, revelou.

Além dessa locação característica, grande parte das gravações foram feitas em uma ala desativada de um presídio em Curitiba. Pedro Morelli revelou que a experiência foi diferente de tudo o que os integrantes da produção já haviam vivido. Apesar de não conviverem de perto com os presidiários, a equipe precisava passar por uma revista sempre que entravam no local e não podiam ter seus celulares consigo, além de várias das cenas gravadas terem contado com os presos como expectadores.

“Foi um trabalho muito intenso, mas acredito que a finalização do meu personagem (Edson) foi dada nas gravações no presídio, estando naquele cenário”, revelou Seu Jorge. Para Naruna, sua personagem não sairá tão cedo de seus pensamentos: “foi intenso e está sendo ainda. Principalmente porque a questão sobre o que eu faria no lugar dela ainda ressoa na minha cabeça”.

Para muitos, a diferença entre Edson e seus irmãos, Cristina e Marcel (Wesley Guimarães), pode parecer estranha, principalmente por terem recebido a criação do mesmo pai, rígido e correto. “Para sobreviver num ambiente como aquele [uma comunidade carente], há diversas possibilidades, entre elas a rigidez para conseguir ter outra vida. Mas Edson viveu numa realidade diferente, no cárcere, onde ele busca seguir o que aprendeu do pai de outra maneira”, analisa Naruna.

“O mais interessante da minha personagem é que não existe uma construção de conduta moral, mas uma desconstrução quando ela percebe que existem diversas realidades. São escolhas que incluem estar vivo ou não”, conclui a a atriz.

Quem vê a série e seu criador, pode ter estranhamento num primeiro momento, mas Pedro Morelli sabe disso: “Tenho plena consciência de que sou um homem brando e que, por isso, tenho muitos privilégios. Estando neste lugar, sinto a obrigação de falar sobre essa realidade injusta. Mas faço questão de me cercar de pessoas que tem um lugar de fala que eu não tenho”, explica sobre a escolha de elenco e de produção.

E foi ter vivido diversas vezes essa discrepância de realidade e preconceito que uniu o elenco e ajudou a formar a união dos três irmãos na série. “Ouvir a história da infância deles foi muito enriquecedor e achei tão parecida com a minha, mesmo sendo de outro lugar e em outra época [Naruna tem 36 anos e cresceu em São Paulo, enquanto Seu Jorge, 49, no Rio de Janeiro e Wesley, 24, em Salvado]. São histórias que se cruzam por ser parte do dilema que vivemos. Parecia o mesmo quintal, de gerações diferentes e fez com que a gente realmente se sentisse como família”, explica a atriz.

Os episódios de “Irmandade” chegam à Netflix no dia 25 de outubro.

Mais de Cultura