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Filantropia brasilis

Com o jantar da amfAR, Felipe Diniz lançou a pedra fundamental da filantropia de gala no Brasil

“Shhhhhhhhh”… A leiloeira da amfAR pedia silêncio como fazem as enfermeiras. Ficou uma arara com os falastrões animados das mesas do jantar de gala da instituição, que aconteceu nessa quinta-feira (28.04) em São Paulo. É que nosostros brasileiros, cara amiga… somos assim mesmo. O sangue latino dá um siricutico na língua e desembestamos, verborrágicos. Ainda mais com uns bons drinks…

Fato é que não está na nossa agenda esse tipo de evento, daí o embaraço com o decoro. Por aqui, samba, suor e cerveja. Gala? Do Copa. É muito bem vindo, porém, um contato com o (primeiro) mundo do cerimonial e do black tie. Por uma boa causa, é melhor. O Brasil não tem cultura de filantropia, como corrente na América do Norte e na Europa. Ainda se guarda muito dinheiro no colchão enquanto a grande maioria da população passa por apuros. Coleções de arte são raramente doadas para museus. A beneficência é capenga.

Aí vem o seo Felipe Diniz e abre sua casa e a sua agenda para uma instituição que há 25 anos trabalha seriamente para encontrar a cura para esse mal terrível que é a AIDS. Uma epidemia que não discrimina. “Podemos conseguir a cura nesse tempo de vida”, disse o CEO da amfAR, Kevin Frost, no discurso de abertura do evento. No programa, um show da espetacular Jennifer Hudson e uma incendiária Preta Gil, mais jantar do Fasano. Ainda no couvert artístico, Claire Danes fofa e bebinha dançando descalça ali na sala, so far, so close. Fez-se a luz: foram arrecadados 1 milhão de reais só com a venda das mesas, 24, que custavam entre 10 e 50 mil dólares. Some-se aí os cerca de 200mil reais que foram angariados no leilão, durante o jantar, que ofereceu vestidos, viagens, arte, joias, champagne com a Hudson… Quantia vultosa, que certamente será bem empregada.

Fica a pedra fundamental. Felipe, homem de posições claras e um coração do tipo grande, deu um exemplo que, anote aí, será replicado mais e mais por estes trópicos. Tudo bem que alguém boceje com o discurso, que outro fale pelos cotovelos, que a perua só queira sair na foto… Alguém ali vai ouvir e se emocionar. E o bolso de um outro vai coçar. Vamos abraçar a filantropia de gala. Porque combina com a nossa natureza generosa, porque é urgente num país de desigualdades imensuráveis, porque faz sentido para a nossa elite bem educada. E porque é uma vergonha não ajudar. “Temos que ajudar, temos que ajudar”, repetia o anfitrião, como um mantra. Que vire a lei.

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