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Explora Atacama: novo luxo no deserto, para nômades globais

Por Jeff Ares

O turismo de luxo passa por mudanças sensíveis, que acompanham o zeitgeist, o vento dos tempos. O deste sopra para longe dos clichês de luvas brancas. Outros valores ganham importância na cada vez mais complexa tarefa de satisfazer viajantes muito bem informados pelo TripAdvisor e pelos influenciadores do Instagram – uma legião de nômades globais a quem não interessa mais a viagem de sempre, o Café de Flore, o Balthazar… Gente que busca experiências transformadoras, paisagens dilacerantes, desconexões que os façam reconectar com quem os cerca e com suas vidas.

Nesse cenário, o turismo de aventura ganha fôlego – e verniz. Experiências de luxo em lugares inóspitos, de acesso difícil, são a última fronteira para exploradores de fino trato, conectados com os preceitos da sustentabilidade, que reinventa negócios e estilos de vida.

Em boa parte, o sucesso do Explora, para mim, se relaciona com estes dois primeiros parágrafos: é uma experiência de luxo essencial, o novo luxo, sob as premissas da sustentabilidade.

A história do Explora Atacama se confunde com a história da filosofia Explora. História que eu entendo melhor quando saímos, Thiago – meu par – e eu, para uma expedição de 2 horas rumo às lisérgicas lagunas altiplânicas de Aguas Calientes (o lugar mais animal de todos!), ao lado do folclórico Dom Luiz. É uma honraria ser guiado por ele; não se trata de um guia comum… é “o” guia. Em 1988, Pedro Ibáñez Santa Maria, membro de uma das mais abastadas e tradicionais famílias do país, chegou a San Pedro do Atacama disposto a desbravar suas paisagens. Pediu por um guia, e todos na cidade sugeriram Luiz. Saíram à cavalo, e desde então não se separaram mais – Luiz conduziu Pedro por boa parte das explorações que hoje se faz por ali, incluindo as travessias que o Explora oferece dali ao Salar de Uyuni, na Bolívia.

Em 1993, Pedro decidiu tornar seu coté hippie chic rentável e criou o Explora. Mais que uma rede de hotéis, é um centro de explorações, uma Disney da aventura, com bases para aventuras outdoor em 6 destinos remotos da América do Sul – mais de 100 rotas, 3.600 km feitos de bike, cavalo, a pé ou de carro. O Explora Atacama é o primeiro hotel, e ali se compreende boa parte da filosofia da coisa. A começar pelo início: você entra pelo estábulo do hotel, e não por um lobby de mármore de Carrara… seus magníficos cavalos te recebem, indícios de uma grande aventura.

Mas, antes disso, você pegou um voo de 4 horas até Santiago, desde São Paulo. Sugiro dormir na cidade (sugiro o Lastarria Boutique Hotel) e viajar pela manhã, pegando o primeiro voo à Calama, para então, coisa de uma hora e pouco e cataventos eólicos gigantes depois, descer até San Pedro de Atacama. Um pouso, que divisa todo o Vale da Lua, a mais inóspita das boas vindas.

No hotel, um dos guias te recepciona – eles são as grandes estrelas ali. Numa conversa de 30 minutos, o Luiz Fernando nos conta sobre o entorno: nesse paralelo, o Trópico de Capricórnio (o mesmo dos paulistas), os raios solares chegam à Terra de forma constante. Cordilheiras que cercam o deserto impedem a umidade e a formação de nuvens, o que leva à 320 dias (!) sem chuva, com média de menos de 10% de umidade relativa do ar. Mas não é quente o tempo inteiro; a temperatura cai muito à noite, e você encontra lugares extremamente frios durante o dia – temperaturas negativas em lugares de grande altitude.

Eis uma boa deixa para nossa lista de necessidades básicas do deserto (não se iluda, essa será uma mala complexa):

– Protetor labial, que você deve passar a todo o tempo, inclusive antes de dormir – os lábios ressecam muito;
– Rinosoro – para evitar o sangramento do nariz, dê umas espirradas esporádicas;
– Protetor solar – você se queima até no frio;
– Chapéu, daqueles de explorador, com proteção contra raios UV e tals – boné não adianta;
– 3 camadas de roupas, segundas-peles, e corta-ventos
– Roupa de banho, porque há termas e spas e tudo mais…

De volta à recepção: no papo com o guia, você entende a legitimidade dos caras, sua preocupação genuína em preservar o entorno. Eles têm condutas rígidas para as explorações. Todos os guias se engajam em causas ambientais locais, como preservar o gato andino, uma espécie rara e ameaçada. E são uma atração à parte: jovens, bonitos, cultos. Estão ali para viver uma experiência de vida e colocar em prática seus estudos: são geólogos, astrônomos, filósofos… são a alma do Explora e te conduzem com graça e segurança pelos caminhos mais tortuosamente lindos dali.

Tivemos experiências com um casal de guias, a Camila e o Alvaro. Com ele, fomos ao Vale da Lua, num hiking obrigatório. Alvaro, um apaixonado por fotografia e o grande entusiasta do gato andino, vai te falando das formações geológicas, dos minérios, dos resquícios e rastros. Ele te conduz por uma trilha exclusiva – o Explora é o poder por ali, você faz caminhos próprios, longe da turistada. No fim de longas caminhadas, você é mimado com um brunch… vinhos chilenos, o estupendo salmão defumado deles, frutas frescas. Ou ganha de presente um banho numas termas, no caso da caminhada por um cânion que também fizemos com o Alvaro, que terminava nas célebres Termas de Puritama – águas calientes, harmonizadas pelos calores de vulcões seculares.

Com a Camila, uma moça de sorriso largo e espanhol de raiz, fomos ao Salar de Tara, uma das paisagens mais incríveis do Atacama, lar de flamingos rosas, de onde vimos nascer uma SuperLua – mais tarde eclipsada! Pudemos assistir ao eclipse no observatório do hotel, um programa genial: você consegue ver Saturno e seus anéis e o brilho caleidoscópico de Alfa Centauri, a estrela mais próxima da Terra (depois do Sol, claro).

Além das caminhadas, cavalgadas (eles dão aulas para quem não sabe ou tem medo de andar à cavalo) e rolês de bike, você pode subir vulcões, como Cerro Toco, que o Thiago subiu com o Dom Luiz. Ar rarefeito, ventos frios cortantes, passos de formiga e uma sensação incrível de superação. Antes de subir o vulcão, a equipe do Explora vai aclimatando seu corpo em atividades de graus crescentes de esforço e dificuldades climáticas, como a grande caminhada do Vale do Rio Blanco, 9 km pela região de El Tatio, onde gêiseres e bactérias coloridas te contam sobre a história da formação da vida na Terra.

No fim do seu rolê, há sempre o conforto do seu quarto te esperando. Nada fancy. Não é gigante, não tem mil amenities, nem frigobar. Mas tem o que é essencial: água, sempre. Uma cama grande e boa, lençóis macios, uma vista inacreditável para o vulcão Licancabur, uma banheira larga para banhos demorados e recuperadores. Não tem wi fi, muito menos uma TV. Não é para ficar lá. É uma base ultraconfortável para uma noite de sono gloriosa, depois do esforço das explorações. É pra te deixar desconectado, pra interagir mais, pra abrir espaço pra refletir. Ali o luxo é de outra ordem.

Claro, há elementos elegantes, nos ótimos vinhos, no bar aberto para drinks e refeições a qualquer hora, no menu superelaborado das refeições, no serviço cortez e muito prestativo do staff, na gentileza do diretor do hotel, Juan Pablo Chovar, que mandou um carregamento de Gatorade pro meu quarto quando eu fui acometido por um piriri (desculpe dividir essa intimidade, mas acho que, se você chegou até aqui, é porque temos coisas em comum). O Juan Pablo é o cara que te recebe como se estivéssemos em sua casa – e na saída, fecha a porta do carro, como faria um amigo. Sem antes me contar algo que diz muito sobre o Explora. Diz que o Pedro, o dono da coisa toda, nosso magnata sustentável, não inspeciona o hotel. Mas sim as árvores da propriedade. Vai olhando uma a uma, suas folhas e galhos. Se estão com saúde, tudo está.

Na harmonia com a natureza, com a gente dali e com suas tradições, o Explora é a bandeira do novo luxo, que oferece experiências reais, que deixam marcas profundas em seus viajantes, nômades globais em busca de territórios inexplorados, fora e dentro de si.

QUEM TE LEVA?
Global Nomads
http://theglobalnomads.com.br

Mais sobre o Explora:
http://www.explora.com

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