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Especial RG – Desvendamos o Udegustar

E então, como a maioria das pessoas pensa, para curtir boa gastronomia, é preciso sair para um restaurante igualmente bom. Conceito antigo, caro leitor.

Inédito no Brasil, a exemplo de conceito cosmopolita e em voga em cidades como Nova York, por exemplo, o “chef em casa” chega com tudo, assinado pelo casal Renata Corrêa e o chef Edu Lopes e o seu Udegustar.

RG teve a oportunidade de ter longa e deliciosa conversa com a dupla, que explicou como funciona a coisa toda, que já é hit em São Paulo.

No papo, Renata, que é produtora-executiva do business, explicou o porquê da ideia: “Estamos habituados a sair para comer bem, enquanto receber e reunir os amigos em casa ou em um lugar pessoal é infinitamente mais agradável. Nada é mais gostoso do que comer bem, aproveitar boas companhias, com a sua música, em um evento feito para ‘unir’.” Com toda a razão. E, aliás, o nome Udegustar vem de ‘união’ e ‘degustar’ também.

Assim, nasceu o serviço, que funciona assim: os dois vão até sua casa (ou onde for sua escolha) e fazem uma visita técnica para saber o que será necessário para o dia. Desde apetrechos de cozinha e sugestão de vinhos para harmonização até flores, que Renata já ajudou a escolher. Tudo é feito sob medida segundo a preferência do cliente e personalidade dos convidados, ou seja, é para ser especial e para ficar na memória. O ideal é servir até 30 pessoas, mais ou menos, para não se perder o propósito intimista e superpessoal. Tanto que eles recebem também, até dez pessoas, na própria casa onde moram.

Aproveitamos o espaço corrido deles para fazer uma entrevista com Edu, que segue aqui:

Com quantos pratos se faz um bom jantar?
Um prato ou mesmo nenhum, apenas petiscos. Um bom jantar é um momento, e não apenas uma refeição, porque, como costumo dizer, alimentar-se é apenas a consequência – música, a companhia, os papos, a boa bebida e a comida, quando em harmonia, nos elevam a um estado de prazer que só vivenciando para crer. Fica marcado na memória, que não arquiva só sabores.

Conte um sonho gastronômico. E um pesadelo?
Meu sonho é ver uma maioria de pessoas atentas ao que comem, de onde vêm os ingredientes, como são originados e o quão saudáveis eles são dentro da filosofia de vida de cada um. Atentos à importância do momento de se alimentar. Como o momento mais especial do dia.

Conteúdo, velocidade, companhia, digestão, saúde. Pesadelo pra mim é o sal. Ele é o “ciúmes” na comida. Não dá pra ficar sem mas também pode estragar tudo.

Eu admiro o chef…
Admiro os chefs que dão exemplos claros de futuro da alimentação e demonstram talento e criatividade. Servem comida como comida e não como obras de arte. Com preço de comida e uma linda história por trás de cada prato.

Mas também admiro os chefs tradicionais que executam com grande fidelidade pratos clássicos da cozinha tradicional europeia. Não podemos simplesmente esquecer de onde viemos, nossas raízes gastronômicas.
Maximo Bottura, pela sua cozinha saudável e sustentável e seus projetos sociais ligados a ela;

Victor Dimitrow, pela criatividade e sempre incrível apresentação de seus pratos;

Giuseppe de La Rosa, pela qualidade e fidelidade á cozinha tradicional italiana;

Claud Troigros, pela herança de três gerações de grandes chefs levando essa tradição com bom humor e simplicidade á casa dos brasileiros;

Laurents Suaudeau, pela dedicação, desde os anos 1980, em pesquisar e utilizar ingredientes da fauna e flora brasileiras, sob a batuta das técnicas francesas, e

Edinho Angel, por ter me presenteado com os melhores pratos do mar que comi nos últimos dez anos.
Admiro todo e qualquer cozinheiro que se emociona na primeira garfada de seu comensal.

Acha que existe alguma verdade em reality shows do assunto?
Acho que eles existem para cumprir o que o próprio nome já diz: dar um show! Gerar curiosidade e atenção dos espectadores. Ao mesmo tempo divulgam e incentivam o conceito de que qualquer um pode cozinhar quando se dedica para tal. E essa é a essência da cozinha, a simplicidade somada ao talento, criatividade e domínio de técnicas a serviço de um objetivo único. A verdade é o amor que todos  têm pela cozinha. Competidores ou jurados.

Qual comida e aroma te remetem à infância?
Muitos aromas e sabores me remetem à infância. Muitos oriundos do sítio de meu pai que eu frequentava todos os finais de semana no interior de São Paulo. Frutas frescas como jabuticaba, amora e pitanga que eram consumidos direto do pé. Doces e compotas de frutas. Sucos naturais de caju, carambola, maracujá e tangerina. Aromas de ervas como Capim Cidreira, que eu conhecia na época por “Chá de Estrada” e hortelã. Flores como dama da noite e jasmim.

Pratos tradicionais que meu pai costumava cozinhar, como Pétalas de Alcachofra com molho citronete e trutas cozidas em molho de manteiga com alcaparras. Leite tirado na hora, queijos e pães caseiros. Parece que estou sempre lembrando de minha infância. (e ele ri)

Ainda não fiz, mas quero cozinhar…
Gostaria de aprender um pouco mais sobre pâtisserie. Crio minhas sobremesas com o pouco que conheço de técnicas sobre o assunto. Me baseio mais na união dos sabores, texturas e temperaturas.

O que já preparou de mais exótico? E o que tem em mente como sendo o mais incomum?
Minha cozinha não é exótica. Prefiro impressionar pela boa união de sabores do que pelo incomum. Talvez a farofa de formigas saúva tenha sido o auge de meu exotismo. Mas, para mim, exótico mesmo são os insetos e aracnídeos consumidos pela cozinha do oriente ou tribos da América Central.

RG ama trufas brancas, e já que estamos em outubro… Qual sua sugestão para elas?
A trufa branca é algo único. Considero heresia buscar muitos sabores para se misturar com uma iguaria de tal intensidade aromática. Ela é sempre o grande sabor do prato. Por isso me mantenho nos clássicos acompanhamentos que a fazem “brilhar”, como ovos de gema mole ou massa caseira apenas na manteiga. São como palcos montados para seu show. Já com as trufas negras pode-se explorar, e muito, o mundo das combinações de sabores.

Que personalidade gostaria de servir? Tipo: fazer um jantar para Marylin Monroe?  E por quê?
Prefiro cozinhar para os vivos…hehe… seria delicioso cozinhar para a Rita Lee. Me sentiria recompensando com a minha arte o que a arte dela já nos proporcionou. Acho ela incrível. (Rita, olha a oportunidade!)

Outra personalidade é Shep Gordon, um cara que criou tendências e evidenciou a figura do chef de cozinha. Quanto aos mortos, prefiro não citar, acho que a lista seria muito grande. (agora é a vez de RG achar graça)

Xiii… o assado queimou. Convidados na sala. E agora?
Acidentes acontecem. Vamos explorar essa geladeira e retirar com simplicidade e serenidade o máximo de sabor que conseguirmos dali. E rápido, as pessoas têm fome… hehe.

Não há ceia de Natal sem…
VINHO. (em caixa alta mesmo)
Para mim a ceia de Natal é um momento e não apenas um cardápio. Muito mais importante é esse momento de paz entre familiares e/ou amigos onde todos vão dividir o PÃO (caixa alta de novo!), qual o tipo não importa. Os pratos para a ceia de Natal são sempre repletos de amor em sua preparação. Essa é a melhor iguaria, amor.

A culinária que mais gosta é a…
Sem preferencias de etnia, como de tudo. Mas o que mais gosto mesmo é de provar os pratos mais locais quando viajo. Penso que só se pode compreender um povo pelo que ele come.

No cotidiano, gosta de comer o que?
Não vivo sem queijos, embutidos, pão, vinho e frutas frescas. E adoro comer com as mãos.

Faz experimentos em casa? Qual o último que inventou?
Tenho a opinião de que ninguém inventa mais nada na cozinha, a não ser novas técnicas. Toda vez que uno sabores com sucesso tenho a sensação de que alguém já deve ter feito isso em tantos anos de história da gastronomia no mundo. Sou apenas mais um que não inventou, mas descobriu aquela deliciosa união.

Como cozinheiro, estou sempre testando as ideias que me vem à cabeça e uso minha mulher a alguns amigos para receber feedback cada novidade.

O último que descobri foi o ragu de javali com tamarindo, que me agradou muito.

A onda do “sem glúten” e “sem lactose” é a da vez, RG não tem opinião à respeito, o que acha?
Mas acha que é algo passageiro, como já houve outras?

Acho que está claro que existem novas tendências  de alimentação do futuro. Algumas mais radicais do que as outras. Mas acho que nada disso deve ser menosprezado ou supervalorizado. As pessoas têm o direito de escolher seus estilos de vida, afinal “você é o que você come”.

Eu procuro saber sempre sobre o assunto e gosto de fazer pratos para todo tipo de preferencias. Foi-se o tempo em que a comida vegana era algo sem graça e sem sabor.

A indústria alimentícia conduziu as pessoas ao consumo fácil e desordenado. Percebo consumidores lendo embalagem para entender melhor sobre o conteúdo dos produtos que vão ingerir. Esse é o único caminho de conduzirmos o futuro ao invés de continuarmos sendo conduzidos.

Meu perfil é o de buscar os melhores sabores em matérias-primas de qualidade. Os melhores sabores são encontrados em produtos naturais, sem adição de agrotóxicos, hormônios ou antibióticos. Essa é a tendência da comida do futuro.

Bom o suficiente, caros? No site Udegustar, mais detalhes!

Fotos: Estúdio COMA

 

 

 

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