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Aposta RG: Luiza Meiodavila, a cantora de MPB da atualidade que evoca os anos 70

Por André Aloi

Luiza Meiodavila é paulista, cantora e tem 22 anos. O sobrenome é uma tradução livre de seu verdadeiro, o alemão Mitteldorf. Ela nem sonhava em nascer quando o jazz e o soul estavam em seu ápice. Ou ainda quando a MPB lançava seus clássicos álbuns nos idos da década de 70. No entanto, pegou todas essas referências, jogou num liquidificador sonoro e daí surgiu “Florescer”, seu recém-lançado EP de estreia.

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Mas ela não é uma cantora com referências só radiofônicas. Chegou a entrar na faculdade de música Souza Lima – que por enquanto está trancada por causa da carreira. Foi nessa época que se apaixonou pelos ritmos setentistas e conheceu o amigo Lipe Torre e o namorado, o engenheiro de som Zé Victor Torelli – os dois que a ajudaram gravar o álbum.

“Na faculdade, como o jazz e a música brasileira mais tradicional têm uma didática gigantesca, a maior parte do ensino é baseada nelas, como em Tom Jobim, Elis Regina, Gal Costa, Djavan… Então comecei a ouvir coisas que não conhecia”, diz ela, explicando a relação entre os ritmos. “A gente sentiu ali uma faísca, achou bem contemporâneo. Tudo a ver. Um dialogo da música brasileira com essa influência do jazz na harmonia”, propõe no EP.

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Luiza estava no segundo ano da faculdade, pensava em ir estudar os outros dois na Burklee College of Music, em Boston (EUA). Daí surgiu a urgência de fazer um som autoral. “Tenho bastante vontade (de morar fora). Hoje tenho uma visão de que fazer um portfólio é mais importante. A faculdade ensina, mas é mais um adereço do que algo decisivo que vai te colocar no jogo”.

Na época de faculdade, ela e os dois não pensavam em gravar um disco. “O repertório me chamou muito a atenção, me traduzia. Foi um processo natural. Gravamos coisas despretensiosamente e, quando terminou, viu que tinha uma unidade. Escolhemos o EP justamente pra pegar as que estavam coesas e imprimiam uma leveza pra ouvir o disco inteiro. Fugir de ter, obrigatoriamente, 12 faixas. E evitar que as pessoas pulem algumas”, reforça, dizendo que há ideia de fazer um disco mais pra frente.

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O álbum, como a cantora comenta, tem uma unidade. Mas uma das canções surpreende por não ser tão musicada e por ter uma puxada mais pop, ainda que remeta à MPB. “Gosto muito da poesia de ‘Doce de Coco’, no diálogo que o disco traz. É muito irônica, um chorinho. Gostei dessa ideia do inesperado, trazer essa coisa mais pulsante e dançante. O enfoque é mais na letra do que qualquer outra coisa”, explica.

A família dela é ligada à arte: é filha da artista plástica Rita Selke e do fotógrafo Klaus Mitteldorf. Mas isso não quer dizer que não se surpreenderam com a notícia de que ela queria ser cantora. “Todos têm receio porque é uma profissão que conhecem pouco. Tem a dificuldade da instabilidade – como qualquer autônomo no Brasil – e talvez por saberem da dificuldade que ia enfrentar”, afirma, explicando que seu pai é um dos maiores apoiadores – sua produtora, inclusive, é quem dirige alguns vídeos e clipes.

Ela comenta que não tem problema em seu ouvir, mas não gosta muito. “Sou muito perfeccionista. A parte boa de trabalhar com música é que fazer algo que ama. Mas o ruim é que você está trabalhando sempre. Toda vez que vou me ouvir, penso em como poderia estar melhor. Trabalho o tempo todo para me superar sempre. A crítica e a superação está sempre na pauta do músico”, garante. Ela dita que seu caminho é resgatar um pouco do passado, fugindo – sem preconceito – de modinhas e manias do momento, como o funk, por exemplo.

Cantar em inglês não seria um problema para a moça. Inclusive, vai para Los Angeles (EUA) no fim do ano para conciliar uma viagem pessoal com o trabalho de divulgar o EP. Vai fazer alguns shows com formação menor e, depois que sentir a reação do público, decidirá se volta para série de apresentações com banda. Por enquanto, segue sua imersão no groove, ouvindo coisas experimentais, algo que traduza o pop (ou a MPB) com o jazz na atualidade. RG aposta!

Luiza Meiodavila lançou recentemente o clipe de “Calma”; assista no Youtube.

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